Atlanta: Escrachando Esteriótipos da Cultura Negra Americana
Além de fazer o papel principal, Glover assina o roteiro
enxuto da série. São 10 episódios de apenas 22 minutos em média de duração.
Cada episódio escracha a cultura negra americana em todos as dimensões
possíveis. É praticamente uma comédia de absurdos reais que Earn e seus
parceiros se envolvem. Desde situações que vão de tiroteios com supostas
vítimas, policiais brancos preconceituosos, um cara que não percebe que namorou
uma travesti, um homem branco que é casado com uma negra só para se sentir
melhor e faz uma festa de comemoração do dia da libertação mas é cheio de
empregados negros, ou mesmo a situação absurda que Van se coloca ao fumar
maconha no dia anterior de ter que fazer o exame antidoping onde trabalha.
Um episódio mostra o ponto cru do humor crítico de Glover.
Passado inteiro num programa de opinião que confronta dois convidados com
discursos antagônicos, no canal de televisão da comunidade negra local, no
caso, Paperboy e uma representante da comunidade transexual. Segundo o programa
o rapper tem letras homofóbicas e transfobicas e de forma sensacionalista o apresentador
tenta piorar a imagem do cantor. O programa chega ao absurdo quando é apresentado
um homem negro que não se sente negro. Ele diz que nasceu branco e sente isso. E
vai se sujeitar a uma operação para mudar sua condição. Porém quando inquirido
sobre outros tipos de preconceitos ele vomita discursos bíblicos sobre homem
não poder deitar com outro homem e todos esses argumentos prontos que são
multiplicados à exaustão por gente que nem entendo do que se está falando.
Não é uma série de sátira, é de crítica pura onde todos os estereótipos
da cultura negra são destruídos com um texto mordaz. Como disse no início não é
tão fácil de assistir. Glover ganhou o Globo de Ouro por melhor Ator de Série de
Comédia esse ano e foi bem merecido. Porém é um humor diferente de outros que
tivemos. Meio tenso em meio a rappers, muita maconha, dificuldades financeiras,
pobreza, pessoas que fazem de tudo para sobreviver a um sistema que oprime,
tráfico, estrelas mimadas do cenário musical. E principalmente, gente surtada
de todas as formas possíveis.
Mesmo que não goste é uma série interessante de se ver. Passa
no canal FX, mas dê uma chance, tente assistir até o quinto episódio. Foi
quando tudo começou a fazer um pouquinho de sentido para mim. Bem pouquinho.
Esse seriado me ganhou e me impactou de uma forma genial! Aliás, belo texto, pega muito bem nos aspectos da trama. Eu tenho a recomendação de um que trata do mesmo assunto, racismo, um documentario americano que estreou que se chama Diga o nome dela: A vida e morte de Sandra Bland, fiquei muito impactada com a história. É um documentário muito bem produzido e com uma história impactante demais e que nos faz refletir. Recomendo a todos.
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