quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Séries: Atlanta - Escrachando Esteriótipos da Cultura Negra Americana

Atlanta: Escrachando Esteriótipos da Cultura Negra Americana









     
   Juro que essa foi uma série um pouco difícil de entender. O humor não é do tipo escrachado que tira fácil risadas. Mas há uma fina e grossa ironia a respeito de clichês do universo negro americano. Entendendo isso, se consegue chegar ao centro da crítica mordaz que “Atlanta” expõe.


       
A história segue a vida de Earnest Marks, o Earn (Donald Glover) que abandonando a faculdade vive do salário em um emprego que paga mal até descobrir que seu primo Alfred, o Paperboy (Brian Tyree Henry) está conseguindo algum sucesso com suas composições de rap. Com isso abandona o emprego e vai tentar ser o agente do primo. Ambos se metem em situações que beiram o absurdo. O elenco ainda conta com sua namorada/esposa Van (Zazie Beetz) e o amigo de Paperboy, Darius (Keith Stanfield) que parece perenemente sequelado.


        Além de fazer o papel principal, Glover assina o roteiro enxuto da série. São 10 episódios de apenas 22 minutos em média de duração. Cada episódio escracha a cultura negra americana em todos as dimensões possíveis. É praticamente uma comédia de absurdos reais que Earn e seus parceiros se envolvem. Desde situações que vão de tiroteios com supostas vítimas, policiais brancos preconceituosos, um cara que não percebe que namorou uma travesti, um homem branco que é casado com uma negra só para se sentir melhor e faz uma festa de comemoração do dia da libertação mas é cheio de empregados negros, ou mesmo a situação absurda que Van se coloca ao fumar maconha no dia anterior de ter que fazer o exame antidoping onde trabalha.


        Um episódio mostra o ponto cru do humor crítico de Glover. Passado inteiro num programa de opinião que confronta dois convidados com discursos antagônicos, no canal de televisão da comunidade negra local, no caso, Paperboy e uma representante da comunidade transexual. Segundo o programa o rapper tem letras homofóbicas e transfobicas e de forma sensacionalista o apresentador tenta piorar a imagem do cantor. O programa chega ao absurdo quando é apresentado um homem negro que não se sente negro. Ele diz que nasceu branco e sente isso. E vai se sujeitar a uma operação para mudar sua condição. Porém quando inquirido sobre outros tipos de preconceitos ele vomita discursos bíblicos sobre homem não poder deitar com outro homem e todos esses argumentos prontos que são multiplicados à exaustão por gente que nem entendo do que se está falando.


        Não é uma série de sátira, é de crítica pura onde todos os estereótipos da cultura negra são destruídos com um texto mordaz. Como disse no início não é tão fácil de assistir. Glover ganhou o Globo de Ouro por melhor Ator de Série de Comédia esse ano e foi bem merecido. Porém é um humor diferente de outros que tivemos. Meio tenso em meio a rappers, muita maconha, dificuldades financeiras, pobreza, pessoas que fazem de tudo para sobreviver a um sistema que oprime, tráfico, estrelas mimadas do cenário musical. E principalmente, gente surtada de todas as formas possíveis.



        Mesmo que não goste é uma série interessante de se ver. Passa no canal FX, mas dê uma chance, tente assistir até o quinto episódio. Foi quando tudo começou a fazer um pouquinho de sentido para mim. Bem pouquinho.




Um comentário:

  1. Esse seriado me ganhou e me impactou de uma forma genial! Aliás, belo texto, pega muito bem nos aspectos da trama. Eu tenho a recomendação de um que trata do mesmo assunto, racismo, um documentario americano que estreou que se chama Diga o nome dela: A vida e morte de Sandra Bland, fiquei muito impactada com a história. É um documentário muito bem produzido e com uma história impactante demais e que nos faz refletir. Recomendo a todos.

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