domingo, 10 de fevereiro de 2019

Roma


Roma





         Filme que me causou sentimentos antagônicos. Eu via que era do “karáleo”, com uma produção esmeradíssima, com uma fotografia linda, com uma linha narrativa e riquíssima, principalmente através dos figurantes, era grandioso e apesar de tudo isso me deu um tédio tremendo.
Levei um mês para finalizar todo as 2h e 15min de filme na plataforma de streaming da Netflix. A história de Cléo (Yalitza Aparício) que se envolve com um cara e engravida e sua patroa, que a acolhe, é tão corriqueira por aqui que fiquei um pouco incomodado. Contudo percebi tudo o que o filme é e o motivo da crítica estar encantada com ele. A direção de Alfonso Curarón é fantástica. Como citei acima a história principal é bem simples, aparentemente, e banal, contudo a reconstrução de época e a figuração do filme são absurdamente bem feitas. Há muitos figurantes em situações diversas. As ruas sempre cheias, os estabelecimentos comerciais idem. É muita gente no pano de fundo pelo qual Cléu passa. Parece, em alguns momentos, que a cena leva o tempo real de cada ação e capta a banalidade em um estado de puro aperfeiçoamento técnico.
É interessante o paralelo enredado entre a gravidez e abandono do pai da criança e a fecundidade de sua patroa que também é abandonada pelo seu parceiro/marido. “Roma” tem inúmeros paralelos com grandes obras cinematográficas européias, contudo mantém a essência típica latina. Não é um filme hollywoodiano, é um filme latino. Por mais que seu diretor seja conhecido e já premiado pela indústria de lá. Tanto que já ganhou o Oscar de melhor diretor. Ele deveria ganhar por essa pérola modorrenta. Sério, é até engraçado para perceber o quanto o filme é phodástico e ao mesmo tempo ter sentido tédio pelo desenrolar da trama.
E percebam o filme não é rodado em inglês e sim castelhano e foi indicado a Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro é um indício de reconhecimento da grandiosidade do filme. Sem contar que consegue ainda indicação para as duas atrizes, a principal, a já citada Yalitza, e a coadjuvante, Marina de Tavira, que faz a patroa abandonada com quatro filhos. Há um jogo de símbolos na vida das duas personagens que estão ligadas.
O pano de fundo histórico é tão politizado que assombra. É um tempo específico na história do México e o título remonta ao nome do bairro da capital deste país: Colônia Roma que o diretor resgata de suas memórias. Vemos o tempo todo os contrastes, mesmo que em preto e branco de ricos e pobres, da patroa cheia de filhos, e da empregada grávida, da civilidade do centro urbano, a precariedade da periferia e a abundancia nativa da natureza mexicana.

         Em eras de delirante presidente que deseja construir um muro para separar México e EUA vemos que o óbvio aconteceu. O México, e a América Latina, já conquistaram os EUA, só não vê quem não quer, se não pelos imigrantes, também pela arte. E só aviso que não é por ter sido sonífero para mim que o mesmo acontecerá com quem assistir.
Há fatores individuais que influenciam no gosto pessoal. O problema que tento apontar sempre é que o gosto individual não pode sobrepor ao que a obra é por sua grandeza. É justo eu não gostar, contudo não é justo eu dizer que o filme é uma bosta só por isso. “Roma” não é uma bosta longe disso é um diadema raro para coroar Cuarón que já fez tantos filmes bons.

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