segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Christine - Suicídio É Algo Sério

Christine: Suicídio É Algo Sério





        Em 1974, em Sarasota, cidade da Flórida, Christine Chubbuck, reporter externa da televisão local, apresenta sua matéria no estúdio, que estava planejada, e por problemas técnicos o material gravado não vai ao ar. Como já estava planejado, e se desculpando pelo transtorno passou para a sua matéria seguinte. Uma breve chamada, em primeira mão, sobre algo que aconteceria ao vivo li mesmo. Tira rapidamente um revólver da bolsa que estava em seu colo e atira na própria cabeça...
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Christine Chubbuck
        Isso está no relatório oficial, está na Wikipédia, está em toda a internet, são os fatos dramáticos que chegam até nós.
        Há algum tempo eu li algo a respeito de uma produção sobre essa repórter. Li apenas o essencial e esperei a produção finalizar. E por um acaso, pois já tinha me esquecido, me deparei com esse filme.
Rebeca Hall como Christine Chubbuck

        Nossa primeira reação diante de um ato de suicídio é considerar a pessoa “louca”. A “santa” Igreja até recentemente proibia que se enterrasse suicidas em seus terrenos sagrados. Ser suicida era um pecado e levava a pessoa direto para o inferno. Era algo de gente fraca. Porém, santo Freud veio e começou a desvendar os mistérios da mente humana e descobrimos que suicídio não é desvio de caráter, é um ato desesperado diante de uma situação de vida que se torna insuportável e num instante de busca de alívio a pessoa atenta contra a vida. Por certo que há outras causas. Mas aqui em quase duas horas de filme vemos como a vida de uma jovem repórter foi se tornando insuportável.


        Christine levava uma vida estressante e ainda foi diagnosticada com um cisto no ovário tendo que decidir se operava, correndo o risco de nunca mais engravidar, ou mantinha o cisto e corria mais riscos. Uma mãe distante e desmiolada, um crush (interesse amoroso)  que não lhe dava confiança. E quando deu, a faz participar de um grupo de ajuda e ainda lhe diz que ele ficou com a promoção que ela tanto queria. Outras coisas se somam ao desespero de Christine. Principalmente seu chefe que a pressiona a fazer matérias mais populares e que agrade ao público. E, não fica muito claro, ela interpreta esse “popular” com “mais sensacionalismo sanguinolento”. Mais ou menos o que acontece na televisão brasileira nas tardes de semana com apresentadores que fomentam a desgraça mostrando mais desgraça.

    
    “Christine” não é um filme fácil e agradável. Primeiro parece arrastado. E, uma coisa que não prestava tanta atenção, mas é fundamental na ideia que se quer passar, é a paleta de cores usada para compor as cenas. É tudo muito neutro, marrom, apagado, morto e quase sem graça. Essa paleta de cor, enquanto mostra a vida da protagonista, é o que mais incomoda até percebermos que aquelas cores são as cores que Christine vê seu mundo. Não percebe nada além do sem graça. Ela tem problema, e ninguém percebe, nem ela mesma. Ela está nos anos de 1970 e só usa roupas escuras, longe do colorido esfuziante e brega da época. Outra coisa é o roteiro que vai desvelando essa mulher, sem julgar, tentando dar motivações a um desfecho tão duro e triste. Quando percebemos estamos simpatizando com aquela mulher difícil e trabalhadora. Percebemos que por trás da fachada ela é tão humana quanto qualquer um.
       
         
E sabe? Mesmo sabendo de tudo o que escrevi acima, mesmo sabendo do desfecho, afinal é baseado em uma história real, depois que o roteiro nos amaciou e em certo ponto nos preparou, ver a cena do suicídio ainda é impactante. Ainda nos deixa consternados.

        Suicídio é algo sério, é algo que não deve ser tratado com leviandade. E este filme trata com a seriedade que lhe é devida. E ainda faz um ótimo trabalho artístico em cima dos fatos, dá umas pistas e ainda alfineta o direito de porte de armas que os americanos possuem.

        O elenco é de primeira. Rebeca Hall faz uma Christine nervosa e reprimida. Michael C. Hall, da série “Dexter” é o crush que não corresponde. Maria Dizzia faz uma colega de trabalho que não sabemos se tem interesse pela personagem, se é apenas uma amiga ou se ainda é alguém que só quer puxar seu tapete, a Jean. Seu chefe exigente é interpretado por Tracy Letts. Dirigido por Antônio Campos e roteirizado por Craig Shilowich. O resultado é qualidade e indagações sobre a pressão que sofremos no trabalho.


        Se gosta de filmes densos esse é um ótimo exemplar. Lançado em começo de 2016 só tive acesso agora. Mesmo tendo cenas nada agradáveis é um bom filme para apreciadores.  

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