terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Janeiro - Mês Temático: Filmes Leves de Televisão Bônus: A Lenda

A Lenda









       
Esse filme foi um conto de fadas transposto em imagens lindas. Pelo menos, é a memória que tenho. Foi interessante ver um jovem Tom Cruise, fazendo um herói “medieval” que tenta salvar das garras do malvado Senhor das Trevas (novamente um irreconhecível Tim Curry) uma princesa donzela, Lili (Mia Sara) com a ajuda do elfo Gump (David Bennent) e da fada Blix (Alice Playten).


        O mais assustador era a fotografia onírica que passava na tela. Com cenas lindas como Lili tocando em um unicórnio. Porém, foi assustador ver o Senhor das Trevas numa representação clássica do capiroto da Igreja Católica, pele vermelha, dentes afiados e um par enorme de chifres pretos e reluzentes em meio ao fogo. Algo um tanto assustador para uma criancinha que ficava em casa sozinha no fim dos anos de 1980.
Era interessante perceber que mesmo na minha cabecinha infantil havia um senso de erotismo bem latente que percebia o subtexto da história. A donzela que se transforma totalmente pelo vilão e é “resgatada” pelo mocinho e volta a ser boa. Algo ingênuo na aparência. Anos depois que descobri ser dirigido por Ridley Scoot, o que justifica a qualidade do filme.


        Não saberia avaliar o filme com um olhar crítico de agora pois esse é um dos filmes que mantenho imaculado em minha memória afetiva. Para a época e idade serviu muito bem. Depois de uma certa idade talvez não funcione. O fato é que ele foi um dos filmes mais bacanas da época. Era simplesmente surreal e fantástico.




Data de lançamento: 28 de agosto de 1985 (França)
Direção: Ridley Scott
Música composta por: Tangerine Dream, Jerry Goldsmith, Eric Allaman
Canções originais: Reunited, Bumps and Hollows, Living River, mais
Prêmio: Grammy Award: Melhor Vídeo Musical Longo
Elenco: Tom Cruise, Mia Sara, Tim Curry, David Bennent, Alice Playten


Até o presente momento se encontra o filme “A Lenda” no YouTube em versão sem legenda e outra dublada. 

Janeiro - Mês Temático: Filmes Leves de Televisão: Conta Comigo

Conta comigo











   
    O primeiro filme baseado em Stephen King que assisti e gostei. Lembro que foi já nos anos de 1990 e ainda não tinha visto “Carrie, a Estranha”. O filme baseado num conto de King, “O Corpo”, foi um marco pois mostrava a amizade entre adolescentes e não me dava medo.
     Se até então o foco dos filmes eram crianças, a adolescência fazia do filme muito “adulto” para esse caipira pré-adolescente. E como nessa época eu já era mocinho o filme me agradou muito.


       A motivação é o boato de um garoto ter sido atropelado pelo trem. E um grupo de amigos formados por Cris Chambers (River Phoenix), Gordie Lachance (Will Wheaton), Teddy Duchamp (Corey Feldman) e Vem Tessio (Jerry O’Connell), atores adolescentes que despontavam na época, decidem ser os primeiros a encontrarem o corpo.
No caminho o grupo rival, dos adolescentes mais velhos liderados por Ace Merrill (Kiefer Sutherland), tenta conquistar a fama de ter achado primeiro o corpo entrando em conflito com o grupo principal. No caminho o que se sucede é o crescimento de uma camaradagem entre os personagens principais que os marcarão para a vida toda. Contada por um dos garotos já na fase adulta o filme é melancólico e saudosista.
O roteiro adaptado do conto foi indicado ao Oscar e Rob Reiner acabou fazendo outros filmes de sucesso, como mais uma obra baseada em King, “Louca Obsessão”.


       O filme acabava triste e mais amargo que o costume. Um prelúdio do que a fase adulta pode fazer com a infância/adolescência: virar lembranças que dão saudade.
    

   O elenco contava com River Phoenix que prometia se tornar uma estrela. Além dele alegar que era “careta”. Isso motivava a minha caretice, pois todos meus amigos na adolescência fumavam, desenfreadamente, cigarros ou maconha, bebiam e até usavam substâncias diversificadas. Porém, poucos anos depois de assistir a esse filme, a realidade, Phoenix morria de overdose em frente da boate que tinha como um dos proprietários na época o Johnny Deep praticamente nos braços de seu irmão mais novo Joaquin Phoenix.

E foi ali que comecei a perceber que nem tudo é tão preto e branco na vida e que as pessoas mantêm uma imagem que é diferente da realidade.




Direção: Rob Reiner
Roteiro: Raynold Gideon, Bruce A. Evans baseado no conto “O Corpo” de Stephen King
Elenco: Wil Wheaton; River Phoenix; Corey Feldman; Jerry O'Connell; Kiefer Sutherland

Género: Drama 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Animais Noturnos - Filme de Excelências

Animais Noturnos





           “Animais Noturnos” é um filme que conta uma história dentro da outra. Cada qual com sua textura própria, com sua personalidade bem distinta apesar de intimamente ligadas. Enquanto tentamos entender que acontece com Susan Morrow, que só empacota coisas em sua mansão, chega-lhe um texto de um livro de seu ex-marido Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal) que enquanto personagem só aparece nos flashbacks das lembranças de Susan.
Em si mesmo é a própria lembrança do que Susan deixa para trás em busca de uma vida mais condizente com sua expectativa de vida com o bonitão Walker Morrow (Armie Hammer). A separação dos dois foi pautada por um evento traumático que só descobrimos quase ao fim. Enquanto vemos que o verdadeiro problema de Susan é falência do marido e consequente traição, filha distante, e insatisfação com a carreira que escolheu. Ao invés de ser uma artista ela negocia arte. E diante da leitura da obra do ex-marido se vê permeada de sentimentos nostálgicos não tão superados. Todo o livro de Tony é uma referência velada por uma história fictícia ao que Susan lhe causou.


        O livro, por sua vez, vai acompanhar a trajetória  de Tony Hasting numa dupla interpretação de Gyllenhaal, que está viajando durante a noite com sua esposa e filha Laura (Isla Fisher) e India (Ellie Bamber) que são atacados por três homens que os barbarizam. No restante da história vemos um Tony desesperado buscar por justiça com a ajuda do xerife que cuida de seu caso, em estado de câncer terminal nos pulmões, Bobby Andes (Michael Shannon). Mesmo que o resultado seja um tanto patético Tony vai até o fim.


      
  O filme é de excelência técnica. O mais interessante é que nas duas histórias temos um tratamento diferenciado na fotografia. Enquanto na história “real” de Susan vemos tudo realçado pela beleza. Vemos todos muito maquiados e bem vestidos, a casa com limpeza antisséptica. Roupas da moda. É uma parte feita por rico para rico ver, com um tratamento praticamente publicitário. Tenho que lembrar aqui que o diretor não é ninguém menos que Tom Ford, estilista de moda mundialmente famoso. Porém isso ficaria na mesmice e no “nada original” não fosse a contraparte “ficcional” do filme. Onde a história escrita por Edward é mostrada. Ela tem uma fotografia mais crua, pautada por um realismo.
Vemos as marcas nos rostos dos atores. “Não” há maquiagem. É como se o diretor quisesse mostra na “realidade” a ficção do mundo de Susan que tem seus sonhos desfeitos mas tenta manter as aparências e na “ficção” a realidade do sofrimento de Edward que se revela através da literatura.


        Como disse o filme é de excelências. Por mais que se fale apenas da Amy Adams temos os coadjuvantes perfeitos em suas atuações. No mais o roteiro baseado no livro de Austin Wright, Tony & Susan, com falas interessantes e direção pontual e clínica de Ford. Com certeza já temos um grande injustiçado no Oscar levando apenas a indicação de Melhor Ator Coadjuvante para Shannon.
Mas quem ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza não necessita de um prêmio que cada dia está mais e puramente mercadológico. Nem sempre os realmente bons ganham por lá.  




Moana - Um Mar de Aventuras - Mais Uma Princesa Disney

Moana – Um Mar de Aventuras




       
Parece que a Disney quer englobar todas as etnias em seu grupo de “princesas”. O que é algo maravilhoso. Não fosse o fato de que as “princesas” acabaram gerando muita discussão sobre o papel da mulher. São oficialmente consideradas princesas da Disney: Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida (Aurora), Ariel, Bela, Rapunzel (de Enrolados), Merida (Valente), todas brancas, além de Jasmine (do Oriente Médio), Pocahontas (indígena norte-americana), Mulan (chinesa) e Tiana (afro- americana).
A discussão vai longe quanto ao real desempenho feminista das personagens em cada animação que configura. Sem contar que Esmeralda (cigana) foi primeiramente incluída e logo destituída de seu posto ao lado das princesas “oficiais”. Outras personagens femininas não são classificadas como princesas por suas histórias. E Elza e Ana (Frozen) possuem franquia própria, sendo que uma delas é rainha.

Até as próprias princesas não se sentem mais confortáveis com suas próprias imagens

        Esse embaraço fica evidente ao se tentar forçar um modelo já ultrapassado de figura feminina. Ainda mais num mundo onde as mulheres reivindicam para si o direito de serem consideradas como iguais em importância aos homens. Com Moana há uma brincadeira em relação a isso. Em certo momento o semideus Maui a chama de princesa, ela se recusa a aceitar ser reconhecida como tal pois é “filha do chefe” (de uma tribo) sarcasticamente ele rebate “É a mesma coisa. Se está com um vestido e tem um animal de companhia, você é uma princesa”. Até mesmo a própria Disney anda fazendo piadas com os requisitos amplos para se tornar uma princesa.

       
Em resumo, Moana é uma garota que vive numa ilha com sua tribo. Filha do chefe percebe que a ilha está precisando de ajuda. O Oceano lhe convoca para devolver o coração de uma deusa que foi roubado. E ela só conseguirá com a ajuda do semideus Maui, o próprio ladrão que roubou o coração da deusa-ilha Te Fiti.
Ambos partem numa grande aventura, primeiro para recuperar a arma de Maui, um grande anzol mágico, e depois enfrentar a grande criatura que está entre o caminho deles até a deusa-ilha, Te Ka.

      
  A história é um pouco acelerada e bagunçada no começo, assim que Moana parte numa canoa pelo Oceano tudo muda. O próprio Oceano se torna um personagem importante ajudando a garota em sua missão através de uma onda cheia de personalidade. Maui também tem sua personalidade e consegue vários momentos engraçados. Mas quem rouba todas as cenas de Moana e de Maui é o galo Heihei, que por um acaso acabou no barco. Suas cenas são hilárias.
Ele é tão tonto, que depois de convencido que o Oceano é “bom”, tenta ir para a água, quase se afogando e o tempo todo é salvo por Moana ou pelo próprio Oceano, ou ainda, pela sorte.


       
A animação não é a melhor que os Estúdios Disney já fez mas garante uma ótima diversão. É bom ver uma cultura diferente colocada em destaque em um filme Disney. E acho interessante que Moana como adolescente, além de ser rebelde, querendo construir seu próprio caminho, ela xinga. Ou melhor, quase xinga, em uma cena que Maui a prende numa caverna. Isso garante uma personalidade bem “humana” à animação.
Além dessa brincadeira temos que admitir que “Moana – Um Mar de Aventuras” quebra vários “padrões”. Temos uma personagem forte de pele morena e cabelos castanhos ondulados. E que cabelo bonito a personagem tem, rivaliza com Pocahontas e Rapunzel.
O personagem semideus Maui é um homem grande, bem grande, praticamente um gordinho que anda fazendo muita musculação e tomando umas bombas por aí.
E que cabelo ele tem, rivaliza com Pocahontas, Rapunzel e Moana... E mais uma vez a mocinha não casa no final. Ops! Entregando demais já. E não se iludam, aquela personagem que é uma porquinha fofa, a Pua, é só para vender pelúcias. Assim como os fofos e “malvados” Kakamoras. Dos quais eu já quero pelo menos um.



quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Janeiro - Mês Temático: Filmes Leves de Televisão - Curtindo a Vida Adoidado


 Curtindo a Vida Adoidado








     Nos anos de 1980 não era fácil faltar à uma aula. Pelo menos não no interior, e não com minha mãe. A pessoa mais difícil de se convencer. Eu podia estar com 58 graus de febre, catarrento, suando bicas e em decomposição, quase um morto-vivo, um zumbi com a pele desintegrando pela febre, ela olhava e dizia “Dá para ir ao colégio sim!”. Só mediante ao atestado de óbito ela se convencia que eu precisava faltar. Dona Fátima era convicta que o estudo era importante. Eu até poderia não tirar notas boas, mas tinha que passar de ano e não faltar nenhuma aula. Hoje vejo alguns alunos que praticamente não vão à escola e passam de ano...

     Então imagina quando me deparei com Farris Bueller (Matthew Broderick) que descaradamente simulava uma doença qualquer, e ia aproveitar sua folga perambulando pela cidade. Eu fiquei doido é claro, junto com metade dos jovens que assistiram esse filme na época. E, além de faltar, ele consegue fazer sua namorada Sloane (Mia Sara) e o melhor amigo, Cameron (Alan Ruck) irem se aventurar com ele.

     E olha que eles se divertem pela cidade. Até de um desfile eles participam dublando um “Twist and Shout” dos Beatles numa cena que, como praticamente o filme todo, ficou icônica.


     “Curtindo a Vida a Doidado” se configurou rapidamente num dos filmes mais queridos e adorados dos anos de 1980. E a sorte é que passou várias vezes na “Sessão da Tarde”, não tanto quanto “Lagoa Azul”, mas o suficiente para deixar uma boa lembrança.

     O diretor e roteirista foi John Hughs que contabilizou vários sucessos, entre eles “Clube dos Cinco”, “Gatinhas e Gatões”, “Mulher Nota 1000” e a franquia “Esqueceram de Mim”.

    
E quem não apertou o esfíncter na cena da Ferrari é que não sentiu o filme como deveria.


Data de lançamento: 19 de dezembro de 1986 (Brasil)
Direção: John Hughes
Figurino: Marilyn Vance
Música composta por: Ira Newborn, John Robie, Arthur Baker
Canções originais: Twist and Shout, Oh Yeah, Danke Schoen, entre outros.





Até a publicação deste texto o filme estava na íntegra no YouTube. 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Séries: Atlanta - Escrachando Esteriótipos da Cultura Negra Americana

Atlanta: Escrachando Esteriótipos da Cultura Negra Americana









     
   Juro que essa foi uma série um pouco difícil de entender. O humor não é do tipo escrachado que tira fácil risadas. Mas há uma fina e grossa ironia a respeito de clichês do universo negro americano. Entendendo isso, se consegue chegar ao centro da crítica mordaz que “Atlanta” expõe.


       
A história segue a vida de Earnest Marks, o Earn (Donald Glover) que abandonando a faculdade vive do salário em um emprego que paga mal até descobrir que seu primo Alfred, o Paperboy (Brian Tyree Henry) está conseguindo algum sucesso com suas composições de rap. Com isso abandona o emprego e vai tentar ser o agente do primo. Ambos se metem em situações que beiram o absurdo. O elenco ainda conta com sua namorada/esposa Van (Zazie Beetz) e o amigo de Paperboy, Darius (Keith Stanfield) que parece perenemente sequelado.


        Além de fazer o papel principal, Glover assina o roteiro enxuto da série. São 10 episódios de apenas 22 minutos em média de duração. Cada episódio escracha a cultura negra americana em todos as dimensões possíveis. É praticamente uma comédia de absurdos reais que Earn e seus parceiros se envolvem. Desde situações que vão de tiroteios com supostas vítimas, policiais brancos preconceituosos, um cara que não percebe que namorou uma travesti, um homem branco que é casado com uma negra só para se sentir melhor e faz uma festa de comemoração do dia da libertação mas é cheio de empregados negros, ou mesmo a situação absurda que Van se coloca ao fumar maconha no dia anterior de ter que fazer o exame antidoping onde trabalha.


        Um episódio mostra o ponto cru do humor crítico de Glover. Passado inteiro num programa de opinião que confronta dois convidados com discursos antagônicos, no canal de televisão da comunidade negra local, no caso, Paperboy e uma representante da comunidade transexual. Segundo o programa o rapper tem letras homofóbicas e transfobicas e de forma sensacionalista o apresentador tenta piorar a imagem do cantor. O programa chega ao absurdo quando é apresentado um homem negro que não se sente negro. Ele diz que nasceu branco e sente isso. E vai se sujeitar a uma operação para mudar sua condição. Porém quando inquirido sobre outros tipos de preconceitos ele vomita discursos bíblicos sobre homem não poder deitar com outro homem e todos esses argumentos prontos que são multiplicados à exaustão por gente que nem entendo do que se está falando.


        Não é uma série de sátira, é de crítica pura onde todos os estereótipos da cultura negra são destruídos com um texto mordaz. Como disse no início não é tão fácil de assistir. Glover ganhou o Globo de Ouro por melhor Ator de Série de Comédia esse ano e foi bem merecido. Porém é um humor diferente de outros que tivemos. Meio tenso em meio a rappers, muita maconha, dificuldades financeiras, pobreza, pessoas que fazem de tudo para sobreviver a um sistema que oprime, tráfico, estrelas mimadas do cenário musical. E principalmente, gente surtada de todas as formas possíveis.



        Mesmo que não goste é uma série interessante de se ver. Passa no canal FX, mas dê uma chance, tente assistir até o quinto episódio. Foi quando tudo começou a fazer um pouquinho de sentido para mim. Bem pouquinho.