Lemony Snicket - Desventuras em Série
Não
li os livros de Daniel Handler- o Lemony Snicket - o qual a série e o filme se baseia.
Assisti a versão
cinematográfica com Jim Carrey, Marryl Streep, Jude Law, grande elenco e como
os desafortunados órfãos Baudelaire Emily Browning – Violet, Liam Aiken – Klaus
e, Kara e Shelby Hoffman – Sunny. Filme este que gostei, mas que não houve uma
continuidade. Comento isso pois é impossível não haver algumas comparações.
Na pele dos
personagens órfãos temos agora: Malina Weissman, Louis Hynes e Presley Smith,
na mesma ordem de personagens acima e praticamente fotocópias. Com o alívio de
Klaus, na série, usar óculos, e pena que não um ator gordinho –
representatividade já. E o grande vilão não é mais Carrey e sim Neil Patrick
Harris. Do Harris conheci suas interpretações em “Garota Exemplar”, “Os Smurfs”
e “How I Met Your Mother”. Particularmente acho ele mais propenso à comédia do
que ao drama. Não que seu trabalho tenha sido ruim em “Garota Exemplar”
simplesmente em “How I...” foi muito melhor. E convenhamos, muitos não gostam
do Carrey, mas na comédia, apesar dos trejeitos e maneirismos típicos, não tem
muita comparação. Então estranhei bem Harris de início. Para tirar a lembrança
do outro precisou três episódios.
Seu Conde Olaf é tão bufão quanto o de Carray
porém mais comedido, centrado, mais profundo (?), denso. E lembro que enquanto
Carrey contou com um filme de cerca de 2 horas para desenvolver, Harris contou com
8 episódios, de cerca de 50 minutos cada, para descascar sua cebola, digo
personagem.
Já os personagens Tio Monty (Billy Connoly) e Tia Josephine (Meryl
Streep) foram melhores com seus intérpretes do filme que da série. E por mais
que goste de Jude Law, sua interpretação ficou limitada a sombra e voz no
filme. Na série temos um debochado e sorumbático Lemony Snicket (Patrick
Warburton) mais atuante, aparecendo, e vivendo sua própria história, o tempo todo,
com mais cara de detetive investigativo dos velhos tempos do cinema noir. Guardadas
suas respectivas épocas, há um hiato de 12 anos entre uma produção e outra, os
figurinos, fotografia e cenário são fabulosos em ambas.
Parando com as
comparações agora discorro apenas sobre o produto da Netflix.
Particularmente,
o primeiro episódio me deu muito sono. E literalmente, eu dormi. Porém, pode
ter sido efeito da “lasanhada” do domingo que abusei. Tive que insistir com o
segundo episódio e só no deslanchar do terceiro que a série me prendeu. Isso causa
estranheza mas parece uma certa constante nas tramas da Netflix. Preciso pensar
mais a respeito. Mesmo conhecendo a história do filme anterior, me deparei com
um roteiro mais alongado. Isso se deve a cada livreto escrito ser desdobrado em
dois capítulos da série. Nesta temporada temos 8 episódios que, seguindo a
lógica, representam 4 volumes dos livros: “Mau Começo”, “A Sala dos Répteis”, “O
Lago das Sanguessugas” e “Serraria Baixo-astral”. O filme não contemplava esse
último livro.
A interpretação dos personagens adultos
é grotescamente caricata. Com exceção da bebezinha Sunny, Violet e Klaus
desprendem seriedade demais e parecem que ambos são os únicos lúcidos na
história. O que não é demérito quando bem executada. Aqui o efeito foi mediano.
Por certo que é uma obra mais infantil que juvenil e que não tem a intenção de
ser levada a “sério” enquanto obra.
Com um humor sarcástico e, por várias vezes,
mórbido pode agradar muitas pessoas que gostam do “neogótico” transposto a uma
produção de crianças. O cinza incomoda um pouco, ainda mais depois de situações
políticas conturbadas escondidas por essa cor insossa aqui pelos lados de Sampa...
(sim dei um cutucão irônico).
No mais é uma
série que agrada, não é a melhor do gênero, e não acrescenta muito até agora ao
que foi feito pelo filme. Veremos se haverá continuidade pois no cinema não foi
para frente. Acho que faltou um produtor antenado com novas necessidades do
público. E a Netflix, por enquanto, anda seguindo bem as dicas de seus algoritmos
inefáveis, herméticos, esotéricos e exotéricos.
Pontos a serem
comentados brevemente:
- Trocar a etnia
de alguns personagens (Sr. Poe, Tio Monty, Tia Josephine) foi um ganho em
tempos de representatividade;
- Existe um
subtexto forte e pesado no fato de Olaf querer se casar com Violet que ainda é
menor de idade;
- Junto a esse
subtexto sobre a questão do casamento com pessoas que não conta com a idade
adulta temos uma crítica forte às instituições que deveriam cuidar das crianças
através das personagens da Juíza Strauss (Joan Cussack) e o responsável pela
burocracia da guarda Sr. Poe (K. Tood Freeman), tutores e também o papel dos
jornalistas na figura de Eleonora Poe (Cleo King) e dos adultos em geral que
nunca ouvem o que as crianças têm a dizer;
- O texto de
Olaf/Harris criticando o fato de se ir ao cinema e elogiando a ideia de se
ficar no conforto da própria casa diante da televisão foi hilário e nem um
pouco sutil (episódios 3 e 4);
- No episódio 7
e 8 dá para entender que na verdade os personagens Sir (Don Johnson) e Charles
(Rhys Darby) não são “sócios” mas “parceiros/amantes” por causa da
interpretação e tradução da palavra em inglês “partners” num contexto mais
adulto, e na insistência desse termo específico;
- Dei uma olhada
no livro e isso fica um pouco perdido na tradução, porém a “sacada” do roteiro
da série foi ótima, pois Sir é todo machão e mandão e Charles bem submisso;
- E o tempo todo
eu fico com a sensação que essa história contém muito mais do que aparenta, ao
estilo da mais pura “teoria da
conspiração”.
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