Fences – Um Limite
Entre Nós
Esse filme eu assisti antes da premiação do Oscar. Com Denzel
Washington e Viola Davis nos papéis principais. E assim que o filme terminou eu
já me perguntei por qual motivo trabalharam o papel de Viola como coadjuvante
se ela está presente em quase todas as cenas e tem um papel determinante na
história? Outros filmes também fizeram o mesmo, por exemplo, “Lion – Uma
Jornada para Casa” que fez de um principal, Dev Patel, coadjuvante. Coisas dos
marqueteiros de Hollywood que não entendemos. Ou entendemos até demais.
Como é meu costume eu tentei ao máximo não ler nada sobre o
filme. E de cara percebi que os diálogos eram rápidos e extensos. O filme, vi
depois, é uma adaptação de uma peça teatral de mesmo nome de autoria de August
Wilson. E isso explica muita coisa. Quase não se sai do quintal de Troy Maxson,
poucos momentos eles estão em outros ambientes. Troy, perfeitamente
caracterizado por Washington, que também interpretou o papel no teatro e
recebendo um prêmio Tony (2010), é um homem de riso largo e que na meia idade se torna amargo. Quando novo
teve chance de ser um jogador de beisebol, porém, segundo ele próprio, os
brancos não deixam. E com isso sua amargura cresce conforme envelhece. Sua vida
não é fácil, é catador de lixo e o trabalho não anda agradando muito. Tanto que
questiona seu supervisor do motivo de só brancos dirigirem os caminhões. Sua
esposa, Rose, faz o papel típico de uma boa esposa que se anula em prol do
marido. Porém a amargura de Troy ecoa em todos.
O filho mais velho, fruto de um
relacionamento anterior, sofreu com a ausência do pai e já adulto ainda precisa
de um apoio financeiro por não estar equilibrado financeiramente e gostar de
música e Troy lhe humilha por isso. O filho mais novo tem habilidades
esportivas, mas Troy não quer que ele se envolva com os brancos, alegando que
não quer o mesmo que lhe fizeram. O irmão que voltou da guerra com sequelas
cerebrais vive pelas ruas vendendo legumes e aguardando o juízo final. Troy ao
mesmo tempo que se sente responsável não tem a habilidade necessária para lhe
dar os cuidados mínimos. O amigo Bono é de longa data presente, mas, as
ambições de trabalho de Troy, acaba por afastá-lo. E voltando à sua esposa, a
única que consegue driblar e contornar seu gênio forte, ele a magoa com uma
relação extraconjugal.
É um filme de texto. Ótimo por sinal. Que dá o material
necessário a grandes atores para trabalhar e brilhar. E foi o que Denzel fez e,
além de tudo, ainda dirigi o filme de forma competente. Os diálogos rápidos das
lorotas e causos de Troy são deliciosos quando encenados por Denzel. Viola não
fica para trás. Uma mulher simples que tem a lucidez necessária para entender
seu lugar num mundo ainda machista que vai evoluindo e mudando, um mundo o qual
seu marido não enxerga e talvez não se encaixe mais. Ela é a voz da razão no
casal. Enquanto Troy é regido pelas suas emoções mais primárias de típico macho
alfa dos anos de 1950, que sofreu o suficiente para não conseguir mais se abrir
e evoluir da maneira necessária.
E exclui alguns ótimos atores que morrem sem reconhecimento deles. Sem contar outras questões mais incômodas subjacentes ao seu cenário que me deixa muito frustrado. Enfim, o Oscar é só mais uma premiação. Vale a obra que fica para nós. E um bom filme anda em falta ultimamente, e “Fences” nos presenteia sendo um ótimo filme.
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