O Segredo de Brokeback Mountain
Se os anos de 1990 foram fecundos para a temática LGBT só em
2006 vamos ter uma maior consagração e a quebra definitiva (?) do estigma de um
ator interpretar um personagem gay. Com “O Segredo de Brokeback Mountain” vemos
um ótimo filme com roteiro encorpado, atores inspirados e um diretor, que
desacreditado por uma pequena falha (Hulk, 2003), tudo bem, uma grande falha
aos olhos dos produtores, consegue direcionar um tema fora do comum ao
estrelato. Uns machões dizem que não assistiram. Outros que ficaram indignados
com o uso de estereótipos de “masculinidade”, os cowboys, de forma
desrespeitosa, ou seja, assistiram. O filme tem uma qualidade digna dos filmes
de Ang Lee que atinge uma sensibilidade tocante.
Com os cowboys Ennis Del Mar (Heath Leadger) e Jack Twist (Jake
Gyllenhaal) vemos nas telas o que todos os gays já sabem: os mais machões podem
sentir atrações homoeróticas e se entregarem ao desejo em situações adequadas e
continuarem perfeitamente dentro do armário com esposas e filhos.
Ennis e Jack se conhecem num trabalho que realizaram, o cuidado
de ovelhas aos pés da montanha Brokeback. Dois homens, cheios de testosterona,
sozinhos, numa noite fria se estranham por um encostar no outro e o inevitável
acontece, sexo. Depois desses “deslizes”
(sim eles continuaram “brincando”) eles continuam a vida, afinal descoberto
seus carinhos são mandados embora, e se reencontram anos depois quando ambos
estão casados com mulheres. Ennis com uma prole razoável de filhos, porém pobre,
e Jack com uma esposa bonita, linha dura e bem de vida, Laureen, uma Anne
Hathaway mais apagada que o costume. Laureen aparentemente não desconfia que o
marido seja gay, e se desconfia não liga.
Já a esposa de Ennis, Alma, uma
Michelle Willians inspiradíssima, consegue enxergar longe a animação do marido
com suas supostas pescarias, momento que aproveitava para encontrar com o
parceiro dos tempos de Brokeback. Uma história de amor sofrida que mostra o
quanto o meio heterossexual pode ser brutal com as investidas gays.
Entre tantos filmes que conseguem ir além, “O Segredo de
Brokeback Mountain” é de longe o mais bonito, sensível, dolorido, triste e bem
executado. O grande sofrimento não está no fato dos personagens serem gays ou em
uma possibilidade de descoberta de seus segredos. O sofrimento está numa perda
e na impossibilidade de não poder extravasar este sentimento por causa das
portas do armário estarem fechadas e com o sofredor preso do lado de dentro.
Direção: Ang Lee
Música composta por: Gustavo
Santaolalla
Canção original: A Love That Will Never Grow Old
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway,
Michelle Williams, Randy Quaid.
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