Eu Tu e Ela
O mundo da família tradicional anda um pouco chato pelo
visto. Enquanto vemos uma onda reacionária atingindo o mundo vemos uma classe
artística que anda, como sempre, na contramão. E essa classe artística se
estendeu um pouco mais nas últimas décadas e atingiu vários jovens que não
querem mais viver como seus pais. Esse novo grupo de jovens veem o amor de
forma diferente. Pelo menos um grupo menos massacrado por uma cultura que
impõem regras. E os artistas sentindo
essa mudança de paradigma manifestam isso em suas obras.
Por certo que chamar um roteiro comercial de obra artística
já é demais (ou não?). Contudo de onde bebem os artistas, os “produtores
comerciais” também o fazem. Tentam ao máximo ficar antenados nas vanguardas
comportamentais. Sem falar que, em se tratando de Netflix, temos os algoritmos
que dão uma força matemática na produção dos roteiros. Em “Eu tu ela”, sem
vírgula mesmo, afinal é um recurso limitante, temos uma tentativa de ir além do
mundo chato dos casamentos heterossexuais. Por certo que os punheteiros, quero
dizer, os roteiristas insistem em colocar uma mulher no meio do casal “convencional”
pois um homem deixaria tudo muito “sujo” aos olhos dos machos cristãos de
plantão. É aquilo: homossexualidade é condenada pela escritura, mas o pornozão
lésbico pode. Então, há algum tempo, esses roteiristas insistem em inserir,
goela a baixo, a ideologia das mulheres “bissexuais”. Algo que mais agrada ao
homem padrão do que realmente reflete a realidade. E de certa forma isso vai
moldando a cabeça de muita gente para aceitar a nova condição e afaga os egos
masculinos que não conseguem admitir que uma mulher pode e consegue sentir
felicidade plena e satisfação sexual sem a existência de um pênis. Homem +
mulher + mulher = sexo legal. Homem + Mulher + homem= pederastia, deus não quer,
aberração.
Entendendo o preconceito por trás, conseguimos perceber o
aumento significativo de histórias com mulheres “versáteis”. No fundo um
mecanismo para satisfazer somente os homens. Desconsiderando todas as outras
possibilidades de amor. Eu concordo que a Netflix não é tão limitada e tem sim
seus meios para nos mostrar algo mais e com certeza está preparando terreno
para muitas novidades. Eu acho e espero.
“Eu tu e ela” mostra um casal que está chegando aos quarenta sexualmente
apagados. E com isso decidem apimentar a relação. A ideia parte só do homem num
primeiro momento. Porém, ao saber da situação a esposa também se interessa,
para pagar na mesma moeda a quase traição do marido.
O casal Emma e Jack querem ter filhos, porém o rendimento
sexual anda longe de ser o ideal. Instigado pelo irmão, Jack recorre aos
serviços da acompanhante Izzy. Que na sua angustia de iniciante em “traição”
consegue estabelecer um vínculo que rompe o mero negócio. Interpretados respectivamente
por Rachel Blanchard e Greg Poehler, o casal, e Priscila Faia, a acompanhante,
vemos o desdobramento dos mais enrolados e engraçados possíveis. Rachel ao
saber pelo próprio marido do ocorrido decide ir atrás para descobrir quem é a “biscate”
e com isso o perigoso triangulo amoroso se estabelece. Ambos, sentindo muita
atração por Izzy, vão querer, por primeiro separados, provar a nova situação
com o “brinquedinho amoroso”. Depois é juntar tudo na mesma cama e só alegria.
Se fosse sexo casual tudo ficaria bem. Contudo a acompanhante
Izzy se apaixona por ambos e uma vizinha enxerida se intromete podendo
comprometer a promoção de Jack e os negócios de Emma revelando sua condição
amorosa “esquisita”. O que é quase um mantra o “não ser esquisito” na série
entre os casais ditos “normais” como se a sexualidade se prendesse ao “normal”.
Muito pelo contrário. A cidade onde moram ainda é muito conservadora e um escândalo
sexual seria muito ruim para ambos, que ainda se apegam a convenções sociais
fortes. Izzy, mais nova e descolada não liga para esse tipo de coisa de “família
tradicional e de bem”. Ela quer o imediato, satisfazer suas carências e ser
feliz. O que complica o seu lado é que ela tem um pretendente que insiste em
enrolar para manter perto de si e uma amiga totalmente liberal que a motiva a
ir sempre em frente. Principalmente pela grana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário