Moonlight – Sob a Luz
do Luar
Quando o Oscar erra a repercussão é grande pois é o prêmio é
muito aguardado e televisionado pelo mundo. A Rede Globo, na TV aberta, tem os
direitos de exibição cabendo passar ou não de acordo com sua vontade. Esse ano
não passou, pois a festa do Oscar coincidiu com o Carnaval. E como nossa
cultura de “pão e circo” necessita de bundas e paetês no cardápio outro tipo de
prato não foi disponibilizado.
Ano passado tinha esnobado o Oscar. Ainda não me desceu a questão
racial e, algo que é pouco divulgado, a questão da única mulher transgênero
indicada até agora, através de uma música, não ser chamada para sequer interpretar
sua própria música, Anohni. Alegaram que apesar de bonita a música não era
“comercial” e por isso não ia ser apresentada.
Essa grande introdução é justamente para ilustrar como tudo é
muito complexo e hipócrita nos grandes meios televisivos. Esse ano, retomei o
Oscar, e qual não foi minha surpresa ao ver vários indicados negros. Isso é bom
por um lado, mas mostra o quanto a Academia está fora de uma representatividade
real, o quanto é mero joguete da opinião pública. Faz só o que é necessário
para amainar a crítica e não o que é realmente certo.
O filme “Moonlight” é um referendo a essa hipocrisia
oscarizada. Fala de negros, fala de gays. O filme não chega a sair do armário
em uma causa ativista e talvez seja isso que tenha agradado aos votantes.
Praticamente nada é consumado. Enquanto em um filme lésbico vemos as mulheres
se pegando em cenas tórridas, de forma até gratuita em várias ocasiões, nos
filmes com homens tudo é muito velado, muito escondido, insinuado. Por certo
que a visibilidade vem melhorando, mas as cabeças das pessoas parecem ainda
regredir. Principalmente na Terra de Pindorama.
Em três atos distintos a história de Moonlight vai seguir o
jovem Chiron: i. Little; ii. Chiron; iii. Black. Essas marcações são
respectivamente a infância, adolescência e fase adulta. Na infância, cercado
pela pobreza e sem referencial paterno, pois a mãe é solteira e viciada em
drogas, ele vai conhecer Juan, o traficante do bairro que o adota quase como um
filho. Por ironia Juan fornece a droga que a mãe do garoto usa. Mahershala Ali
é o ator responsável a dar vida ao paternal traficante. E Naomie Harris a mãe
distante e drogada de Chiron. Ambos, sabia e merecidamente, indicados ao prêmio
de coadjuvantes, sendo que Ali ganhou.
É incrível a mudança física de Harris,
uma mulher bonita desmazelada pelo vício. Ali só aparece no primeiro ato e
marca a trajetória toda da criança. Chiron é interpretado por 3 atores
diferentes Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes que conseguem
passar os sentimentos necessários de cada fase. Uma outra figura emblemática na
vida de Chiron vai ser seu colega Kevin. Também interpretado nas diferentes
fazes por 3 atores diferentes: Jaden Piner, Jharrel Jerome, Andre Holland. No
fundo acaba sendo três histórias bem distintas da mesma pessoa. O que não é
ruim. Porém, a história não vai para fora do armário. Pelo contrário. O fim um
tanto aberto e indefinido não nos dá real critério para achar que
Little/Chiron/Black consegue se reconciliar com sua sexualidade que se
manifestava desde a infância através dos coleguinhas que o perseguia com o
bordão “FAG” (gay).
Na fase adulta é imposto ao personagem o celibato e ele se
torna o oposto do que deveria. Afinal gay não pode mostrar sua sexualidade ao
grande público. Os homens heteros e “xtãos” de plantão não aguentam esse imenso
golpe às suas masculinidades frágeis. Então o personagem se isola de um
convívio afetivo. Por certo que o meio
acaba influenciando muito a decisão de um indivíduo em manifestar sua
sexualidade ou não. Porém, não sei se permitiria que ela fosse totalmente
reprimida como acontece no filme na fase jovem de alguém.
Tudo isso dirigido
por Barry Jenkis que dá ótima execução ao próprio roteiro baseado na obra de
Tarell Alvin McCraney. Também abocanhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.
O filme é muito bom com os limites que comentei que estão
mais no campo ideológico do que técnico. Traz um processo narrativo
interessante e flerta com filmes mais artísticos e humaniza estereótipos
negros, o traficante dono da biqueira.
As cenas na praia são as mais bonitas, e
também significativas. Não sei se merecia o prêmio de melhor filme este ano. Com
certeza é melhor e mais encorpado que La La Land, vazio e ingênuo.
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