Negação - O Holocausto Judeu Não Existiu...
Filme de
julgamento, baseado em fatos reais, onde David Irving, historiador partidário
de Hitler, acusa a historiadora judia americana Deborah Lipstadt de difamação
por ela sustentar, em um livro que publicou, que Irving nega a existência do
holocausto judaico, de forma especial no campo de concentração de Auschwitz.
Irving
sustenta sua hipótese com afinco, nega que os judeus tenham sido executados em
câmaras de gás. E, prevendo que o modo de julgamento britânico lhe favorecesse,
entra com o processo em Londres. O filme toca em pontos nevrálgicos sobre a
questão histórica. O mais chocante é justamente o de se negar o massacre que os
alemães promoveram em seus campos de concentração.
Simplesmente,
eu como uma pessoa quase leiga e sem pretensão de grandes exercícios
intelectuais e acadêmicos a respeito dos males do nazismo, acredito que
enfatizam demais o massacre judeu esquecendo-se que milhares de outras etnias
também foram perseguidos pelos arianos. Sem contar minorias como homossexuais e
pessoas portadoras de deficiências. Nos últimos anos há um resgate desse grupo
que foi esquecido em prol de uma maior divulgação do grupo judaico. Obstante a
isso, jamais, com toda minha ignorância, só com as parcas pesquisas que fiz em
épocas acadêmicas, eu negaria um fato tão sério e perturbador da história
humana como o Holocausto. A história, como qualquer ciência, é passível de
questionamentos, do crivo da dúvida. Porém, os fatos não podem ser deturpados,
pode-se dar nova reflexão mediante a análise de evidências, conectando
informações e chegando a conclusões. Por certo que essas “conclusões” são fruto
de uma realidade contextualizada no tempo em que foi desenvolvida. E o que o
Irving faz é distorcer a seu favor acadêmico, utilizando-se de retórica, algumas provas contundentes da
existência das câmaras de gás, do massacre em Auschwitz e da culpa dos
nazistas, e em particular Hitler.
Como se
percebe o tema não é simples. Trabalha com informações técnicas que na minha
argumentação mais formal não alcanço. Isso transposto a um roteiro pode ser
complicado. Mesmo assim, aqui, com atenção e sabendo um mínimo sobre o assunto,
conseguimos alcançar a indignação de Deborah Lipstadt. E o mais soberbo é que um roteiro desses, bem executado, dá margem para
os atores brilharem. E como esse elenco brilha.
Irving é
interpretado magistralmente por Timothy Spall que atinge um gral de dureza e
destreza ao articular sua própria acusação em cima de Deborah. Rachel Weisz faz
a acadêmica perplexa Deborah que não entende de início o motivo de se tornar ré
em um caso sobre a negação do Holocausto judeu. E, indo ao estilo mais mineiro
possível, comendo pelas beiradas, temos um Tom Wilkinson que faz o advogado de
defesa de Deborah, que aparenta desleixo e até um pouco de preguiça no caso,
Richard Rampton.
Seguindo
os clichês básicos de filmes de tribunal o filme já esbarra com um fato
contundente, é um filme de tribunal inglês e não americano. Há nuanças,
protocolos e pompas a se seguir que nos EUA não existem. E isso, aparentemente
dificulta um veredito aos olhos de Deborah. O sistema americano diante do
inglês é bem mais simplificado. E isso dá a graça e a revolta aos partidários
da historiadora.
Os
embates entre Spall e Wilkinson são formidáveis só possíveis diante de dois
monstros da atuação. A turma mais nova vai lembrar de Spall na figura patética
de Rabicho nos filmes de Harry Potter, e não vão entender a grandiosidade desse
ator.
Andrew
Scott faz um personagem também instigante, Anthony Julius, uma espécie de consultor
intelectual de direito que está acima do advogado. Alguém que pensa o caso,
pesquisa e designa o advogado certo para a causa certa. Ele também é conhecido
por ter lidado com o caso de divórcio de Diana, a “ex” princesa. Quem não se
lembra de Scott ele foi Moriarty na série inglesa “Sherlock”.
Um caso
de comoção pública que afeta pontos centrais de conhecimentos históricos mais
que aceitos pela maioria e que também faz um questionamento sobre a liberdade
de expressão ao qual na voz da própria Debora temos a resposta: “Eu não estou atacando a liberdade de
expressão. Pelo contrário, eu estive defendendo-a contra alguém que queria
abusar dela. A liberdade de expressão significa que você pode dizer o que
quiser. O que você não pode fazer é mentir, e depois esperar não ser
responsabilizado por isso. Nem todas as opiniões são iguais e algumas coisas
acontecem, exatamente como nós dizemos que acontecem. A escravidão aconteceu. A
peste negra aconteceu. A terra é arredondada. As calotas de gelo estão
derretendo e Elvis não está vivo.”
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