13 Reasons Why - Os Treze Porquês
Foi
difícil criar um pouco de coragem e falar de “13 Reasons”. Mas vamos lá! A
história mexeu muito comigo. Digamos que não é algo agradável de se assistir
quando, em algum personagem, ou vários, você se vê espelhado.
Para
além da discussão de ser uma série “chata”, “adolescente” ou retratar a questão
do suicídio de forma “equivocada” vejo que a série pega o calcanhar de Aquiles
de muitas pessoas.
A
série não é chata, é séria. A série tem seus defeitos, alguns furos de roteiro
que acabam por forçar uns eventos acontecerem e um pouco da falta de
verossimilhança que parte do material original, o livro homônimo de Jay Asher.
Muitos também esbarram na história ser “adolescente” eu até concordo que a capa
externa da história é adolescente. Porém vai além quando inclui um tema tão
polêmico. Outros ainda falam que a série romantiza o tema que por si só é
indigesto. O que acontece segundo os padrões estabelecidos pela ONU que
praticamente torna o tema tabu. Não entrarei nesse mérito. Amigos bem mais
instruídos já falaram contra, e outros, a favor da série. Tudo é muito controverso.
Nós
no Brasil temos um péssimo hábito de não nos informarmos a respeito de várias
coisas e tratarmos esses temas como se fôssemos PhDs. Eu mesmo não posso falar
sobre suicídio, é um tema que não domino, não imagino a causa e também não
entendo. Apesar de saber que algo pode afetar uma pessoa de tal forma que torna
assustadoramente pesada sua vida e a faz achar, ou ver, que a única solução é
tirar a própria vida. Dois casos de pessoas relativamente próximas que
cometeram suicídio resvalaram minha vida. Na adolescência, no Ensino Médio, a
mãe de um colega de classe tirou a vida e recentemente um vizinho de minha mãe,
que cresci vendo-o passar sempre por minha casa e até conversar vez ou outra
com minha mãe, também tirou a própria vida. Ambos eram adultos, ambos usaram o
mesmo método. Houve outros casos, mas não eram pessoas “próximas”.
Porém
a série não trata de adultos. Trata de adolescentes, que estão vivendo o peso
social de criarem uma imagem, criarem um padrão de comportamento que irão lidar
com ele para o restante de suas vidas. E lá está Hannah Baker (Katherine
Langford), típica adolescente, classe média, que vive suas dificuldades existenciais
reprimindo suas emoções ao invés de externalizá-las. Como adolescente tem um
tendência a um comportamento egocêntrico, desligado e tomado pela
impulsividade, junte a isso uma cultura que valoriza a questão de ser sempre o
vencedor e uma moralidade densa e desumana. Hannah é alguém normal, só um pouco
mais sensível e não consegue digerir seus erros e dificuldades em seus percalços.
Por certo algumas coisas que lhe tiram a vontade de viver é consequência de
seus atos principalmente por ela não saber lidar com eles. Os pais são
refratários, como muitos, em perceber que a filha é limitada. Nessa postura não
percebem os problemas e até ajudam a piorá-los.
Hannah
não tem muita informação sobre a vida. Seu comportamento egocêntrico não
permite expor nada a ninguém. Sentindo-se sozinha vai pelo caminho mais “fácil”
elaborar uma “vingancinha” para que todas as pessoas que a fizeram sofrer
sintam-se culpadas. É algo infantil sim e não deve ser motivado. Mas Hannah não
é madura. Ela se perde em suas emoções e nas lacunas culturais em que vive e
acaba planejando algo dramático e extremo, gravar os motivos de seu suicídio.
Grava
fitas e envia para seus “inimigos” ou para seus amigos que a magoaram. Todos são
afetados em maior ou menor grau e sentem o peso da culpa. Porém, a série retrata
não algo adolescente e bobo que deve ser desconsiderado. Até o terceiro
episódio podemos até achar que Hannah está exagerando. Não, a história mostra
como uma alma pode ser despedaçada mesmo com coisas supostamente
insignificantes. E nada é insignificante para quem sofre. Nada. O sofrimento
sempre é verdadeiro. Pode até ser deturpado, pode ser irreal, pode ser
desproporcional, mas ele está lá, dentro da pessoa. E a capacidade de digerir é
variável em cada pessoa. E, na história, Hannah não era forte o suficiente para
buscar ajuda da maneira adequada como muitas pessoas.
Enfim,
Hannah é uma vítima das circunstâncias, algumas criadas por ela mesma, outras
criadas pelo acaso. As fitas são seu grito de desespero. Um desespero tardio
que chega após seu desmoronamento psíquico. Muitas pessoas empacam antes do
terceiro episódio. Eu recomento que persistam, a não ser que lhe faça muito
mal, o que é diferente, se fizer muito mal pare e não assista mais. Os
episódios vão num crescente melancólico e nefasto de como uma alma se fragmenta
em vários pedaços e morre antes mesmo de um suicídio. As cenas finais são muito
fortes. São aterradoras para quem tem um mínimo de sensibilidade. Por isso a
série não é de puro “entretenimento”, vai além, mostra e informa como nós
podemos chegar a um estado deplorável de desespero e, o que é pior, o que mais
me pegou, como nós podemos levar alguém a perder a alma com “brincadeiras”, com
atitudes que violam a dignidade física e psíquica de alguém.
Não
espere "diversão", veja com o documentário que é disponibilizado ao fim do último
episódio. Se coloque no lugar de Hannah mas principalmente se coloque no lugar
de todos os “13 motivos”, não cito os nomes para não dar spoilers. Isso é o
pior da série. Em momento algum mostrar o suicídio de Hannah é a intenção em
si, e sim alertar que podemos ser tão escrotos com o outro aponto de causar
danos irreversíveis. Todas nossas ações aos outros geram reações e somos
responsáveis diretos por elas. Mesmo não querendo induzimos ou “forçamos”
outros o tempo todo. Quando é para o bem, bom... Quando para o mal, bem-vindos à
mensagem real de “13 Reasons Why”.
Eu também tive esse mesmo olhar. Muitos colegas e comentário da internet, dizeram sobre sua personalidade depressiva e, como era perigoso assistir para aquelas pessoas que compartilham esse tipo de personalidade, por possuir diversos gatilhos. Mas eu prefiro ir além.Como você disse, a serie nos traz o olhar de como nossas vidas podem ser interpretadas disfuncionalmente,e também como nossas atitudes, que julgamos "brincadeiras", podem ser devastadoras quando direcionadas as pessoas "certas".
ResponderExcluirJustamente isso Dii Castro
ResponderExcluir