quarta-feira, 1 de março de 2017

Séries - Eu Tu e Ela - Casal + Um

Eu Tu e Ela




        O mundo da família tradicional anda um pouco chato pelo visto. Enquanto vemos uma onda reacionária atingindo o mundo vemos uma classe artística que anda, como sempre, na contramão. E essa classe artística se estendeu um pouco mais nas últimas décadas e atingiu vários jovens que não querem mais viver como seus pais. Esse novo grupo de jovens veem o amor de forma diferente. Pelo menos um grupo menos massacrado por uma cultura que impõem regras.  E os artistas sentindo essa mudança de paradigma manifestam isso em suas obras.


        Por certo que chamar um roteiro comercial de obra artística já é demais (ou não?). Contudo de onde bebem os artistas, os “produtores comerciais” também o fazem. Tentam ao máximo ficar antenados nas vanguardas comportamentais. Sem falar que, em se tratando de Netflix, temos os algoritmos que dão uma força matemática na produção dos roteiros. Em “Eu tu ela”, sem vírgula mesmo, afinal é um recurso limitante, temos uma tentativa de ir além do mundo chato dos casamentos heterossexuais. Por certo que os punheteiros, quero dizer, os roteiristas insistem em colocar uma mulher no meio do casal “convencional” pois um homem deixaria tudo muito “sujo” aos olhos dos machos cristãos de plantão. É aquilo: homossexualidade é condenada pela escritura, mas o pornozão lésbico pode. Então, há algum tempo, esses roteiristas insistem em inserir, goela a baixo, a ideologia das mulheres “bissexuais”. Algo que mais agrada ao homem padrão do que realmente reflete a realidade. E de certa forma isso vai moldando a cabeça de muita gente para aceitar a nova condição e afaga os egos masculinos que não conseguem admitir que uma mulher pode e consegue sentir felicidade plena e satisfação sexual sem a existência de um pênis. Homem + mulher + mulher = sexo legal. Homem + Mulher + homem= pederastia, deus não quer, aberração.


        Entendendo o preconceito por trás, conseguimos perceber o aumento significativo de histórias com mulheres “versáteis”. No fundo um mecanismo para satisfazer somente os homens. Desconsiderando todas as outras possibilidades de amor. Eu concordo que a Netflix não é tão limitada e tem sim seus meios para nos mostrar algo mais e com certeza está preparando terreno para muitas novidades. Eu acho e espero.


        “Eu tu e ela” mostra um casal que está chegando aos quarenta sexualmente apagados. E com isso decidem apimentar a relação. A ideia parte só do homem num primeiro momento. Porém, ao saber da situação a esposa também se interessa, para pagar na mesma moeda a quase traição do marido.
       

        O casal Emma e Jack querem ter filhos, porém o rendimento sexual anda longe de ser o ideal. Instigado pelo irmão, Jack recorre aos serviços da acompanhante Izzy. Que na sua angustia de iniciante em “traição” consegue estabelecer um vínculo que rompe o mero negócio. Interpretados respectivamente por Rachel Blanchard e Greg Poehler, o casal, e Priscila Faia, a acompanhante, vemos o desdobramento dos mais enrolados e engraçados possíveis. Rachel ao saber pelo próprio marido do ocorrido decide ir atrás para descobrir quem é a “biscate” e com isso o perigoso triangulo amoroso se estabelece. Ambos, sentindo muita atração por Izzy, vão querer, por primeiro separados, provar a nova situação com o “brinquedinho amoroso”. Depois é juntar tudo na mesma cama e só alegria.


        Se fosse sexo casual tudo ficaria bem. Contudo a acompanhante Izzy se apaixona por ambos e uma vizinha enxerida se intromete podendo comprometer a promoção de Jack e os negócios de Emma revelando sua condição amorosa “esquisita”. O que é quase um mantra o “não ser esquisito” na série entre os casais ditos “normais” como se a sexualidade se prendesse ao “normal”. Muito pelo contrário. A cidade onde moram ainda é muito conservadora e um escândalo sexual seria muito ruim para ambos, que ainda se apegam a convenções sociais fortes. Izzy, mais nova e descolada não liga para esse tipo de coisa de “família tradicional e de bem”. Ela quer o imediato, satisfazer suas carências e ser feliz. O que complica o seu lado é que ela tem um pretendente que insiste em enrolar para manter perto de si e uma amiga totalmente liberal que a motiva a ir sempre em frente. Principalmente pela grana.

      
  A graça é a confusão estabelecida entre o casal ao tentar manter tudo em segredo e Izzy fazendo a linha “professora” de novidades sexuais sem realmente saber muita coisa e ao mesmo tempo manter seu crush longe de tudo.

          
Eu não dei muita coisa pelos primeiros episódios. No terceiro já vemos um arco de história formada e o casal se torna muito interessante e a seu modo engraçados. Izzy é meio sem sal o tempo todo, apesar de ser totalmente enrolada e enroladora. Talvez a escolha de uma atriz mais talentosa ajudasse. Nada que atrapalhe de fato o desenrolar da trama. Comédia de subversão de costumes simpática que merece uma certa atenção. Pelo menos enquanto esperamos estreias mais importantes.  




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