quinta-feira, 9 de março de 2017

Março - Mês Temático: Filmes de Locadora - Calígula

Calígula







     Hoje a internet disponibiliza um alto volume de pornografia para qualquer um que tenha acesso. Não importando se você tem ou não 18 anos. Nos anos de 1990 não era tão fácil assim. Tinha que enganar muito bem os vendedores das bancas de revistas ou ter um adulto que lhe encobrisse. Ou ainda participar do “mercado negro” das revistas pornôs.
O que era um risco: “páginas coladas”. Com o advento dos vídeos cassetes o negócio não ficou tão mais fácil.
   
  No primeiro fim de semana que meu tio comprou o nosso aparelho, ele simplesmente virou para mim e disse “Vai na locadora, escolhe uns filmes para assistir... E escolhe ‘uns pornô’ para ver. E se tiver o Calígula traz também!”. Tudo muito simples e normal: se eu não tivesse 15 anos. Eu ainda não trabalhava na locadora. Fui com a maior cara de pau fazer a “ficha” e escolhi uma pilha de filmes. E com a cara mais lavada possível, fui até o balcão, onde o dono da locadora estava em prontidão, e perguntei “Tem Calígula?” Ele olhou bem para mim, piscou os olhos e dando mais uma olhada respondeu “Tem sim, você vai levar?”
Muito educadinho que era retorqui “Por favor, vou sim.” Ele foi e pegou na sessão para maiores e me entrega a capa do filme, pois a fita nunca ficava dentro, me olhou de novo e pergunta “Mas você é maior de idade? Esse filme só maior pode levar!” Eu com os olhos mais límpidos e inocentes que podia fazer na época só pude dizer “Lógico que sou, eu não trouxe meu RG hoje. Trago quando devolver os filmes.” Ele olhou de novo, acho que riu internamente, e soltou um “Tá bom!”. E assim eu peguei Calígula na locadora de filmes onde uns 6 meses depois eu iria trabalhar. E o dono nem se lembrou disso, pelo menos nunca comentou. Uma bobagem de nossa sociedade de querer esconder e proibir pornografia para adolescente. Enfim, marcas de uma perniciosa cultura hipócrita...

     O filme em si tinha uma história interessante sobre o louco e déspota imperador romano que dá nome ao filme. Claro que o filme foi financiado por uma grande revista pornô da época, a Penthouse, e inovou ao colocar atores tradicionais e conhecidos com atores pornôs. Temos por exemplo um renomado Malcolm McDoweel que tinha acabado de filmar “Laranja Mecânica” eu um Peter O´Toole que já contava com filmes relevantes em seu currículo. Até a orcarizada Helen Mirren, bem nova, dá as caras por lá.
    
Como disse a história nem era ruim, o problema que para um jovem de 15 anos assistir algo permeado de sexo explícito o foco de interesse muda. E tinha de tudo, Calígula promovia orgias, os romanos praticavam sexo homossexual, estupros e tudo que se pode imaginar. Ou seja, tudo que acontece hoje também, e sempre aconteceu, mesmo na Idade Média de forma velada, mas no filme era escancarado.
  E os críticos se ofenderam. Lembro de cenas e não do filme todo. Uma coisa de louco mesmo. É um filme interessante para se assistir. Histórico e muito explícito. Não é o melhor filme da vida de um garoto cinéfilo. Contudo foi bem marcante como o primeiro filme pornográfico assistido com o consentimento de um adulto da família. 


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