segunda-feira, 13 de março de 2017

Negação - O Holocausto Judeu Não Existiu...

Negação - O Holocausto Judeu Não Existiu...





Filme de julgamento, baseado em fatos reais, onde David Irving, historiador partidário de Hitler, acusa a historiadora judia americana Deborah Lipstadt de difamação por ela sustentar, em um livro que publicou, que Irving nega a existência do holocausto judaico, de forma especial no campo de concentração de Auschwitz.

Irving sustenta sua hipótese com afinco, nega que os judeus tenham sido executados em câmaras de gás. E, prevendo que o modo de julgamento britânico lhe favorecesse, entra com o processo em Londres. O filme toca em pontos nevrálgicos sobre a questão histórica. O mais chocante é justamente o de se negar o massacre que os alemães promoveram em seus campos de concentração.

Simplesmente, eu como uma pessoa quase leiga e sem pretensão de grandes exercícios intelectuais e acadêmicos a respeito dos males do nazismo, acredito que enfatizam demais o massacre judeu esquecendo-se que milhares de outras etnias também foram perseguidos pelos arianos. Sem contar minorias como homossexuais e pessoas portadoras de deficiências. Nos últimos anos há um resgate desse grupo que foi esquecido em prol de uma maior divulgação do grupo judaico. Obstante a isso, jamais, com toda minha ignorância, só com as parcas pesquisas que fiz em épocas acadêmicas, eu negaria um fato tão sério e perturbador da história humana como o Holocausto. A história, como qualquer ciência, é passível de questionamentos, do crivo da dúvida. Porém, os fatos não podem ser deturpados, pode-se dar nova reflexão mediante a análise de evidências, conectando informações e chegando a conclusões. Por certo que essas “conclusões” são fruto de uma realidade contextualizada no tempo em que foi desenvolvida. E o que o Irving faz é distorcer a seu favor acadêmico, utilizando-se de retórica, algumas provas contundentes da existência das câmaras de gás, do massacre em Auschwitz e da culpa dos nazistas, e em particular Hitler.

Como se percebe o tema não é simples. Trabalha com informações técnicas que na minha argumentação mais formal não alcanço. Isso transposto a um roteiro pode ser complicado. Mesmo assim, aqui, com atenção e sabendo um mínimo sobre o assunto, conseguimos alcançar a indignação de Deborah Lipstadt. E o mais soberbo é que  um roteiro desses, bem executado, dá margem para os atores brilharem. E como esse elenco brilha.

Irving é interpretado magistralmente por Timothy Spall que atinge um gral de dureza e destreza ao articular sua própria acusação em cima de Deborah. Rachel Weisz faz a acadêmica perplexa Deborah que não entende de início o motivo de se tornar ré em um caso sobre a negação do Holocausto judeu. E, indo ao estilo mais mineiro possível, comendo pelas beiradas, temos um Tom Wilkinson que faz o advogado de defesa de Deborah, que aparenta desleixo e até um pouco de preguiça no caso, Richard Rampton.


Seguindo os clichês básicos de filmes de tribunal o filme já esbarra com um fato contundente, é um filme de tribunal inglês e não americano. Há nuanças, protocolos e pompas a se seguir que nos EUA não existem. E isso, aparentemente dificulta um veredito aos olhos de Deborah. O sistema americano diante do inglês é bem mais simplificado. E isso dá a graça e a revolta aos partidários da historiadora.

Os embates entre Spall e Wilkinson são formidáveis só possíveis diante de dois monstros da atuação. A turma mais nova vai lembrar de Spall na figura patética de Rabicho nos filmes de Harry Potter, e não vão entender a grandiosidade desse ator.

Andrew Scott faz um personagem também instigante, Anthony Julius, uma espécie de consultor intelectual de direito que está acima do advogado. Alguém que pensa o caso, pesquisa e designa o advogado certo para a causa certa. Ele também é conhecido por ter lidado com o caso de divórcio de Diana, a “ex” princesa. Quem não se lembra de Scott ele foi Moriarty na série inglesa “Sherlock”.

Um caso de comoção pública que afeta pontos centrais de conhecimentos históricos mais que aceitos pela maioria e que também faz um questionamento sobre a liberdade de expressão ao qual na voz da própria Debora temos a resposta: “Eu não estou atacando a liberdade de expressão. Pelo contrário, eu estive defendendo-a contra alguém que queria abusar dela. A liberdade de expressão significa que você pode dizer o que quiser. O que você não pode fazer é mentir, e depois esperar não ser responsabilizado por isso. Nem todas as opiniões são iguais e algumas coisas acontecem, exatamente como nós dizemos que acontecem. A escravidão aconteceu. A peste negra aconteceu. A terra é arredondada. As calotas de gelo estão derretendo e Elvis não está vivo.”

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