domingo, 5 de março de 2017

Moonlight: Sob a Luz do Luar - Não Sai do Armário

Moonlight – Sob a Luz do Luar




       
Quando o Oscar erra a repercussão é grande pois é o prêmio é muito aguardado e televisionado pelo mundo. A Rede Globo, na TV aberta, tem os direitos de exibição cabendo passar ou não de acordo com sua vontade. Esse ano não passou, pois a festa do Oscar coincidiu com o Carnaval. E como nossa cultura de “pão e circo” necessita de bundas e paetês no cardápio outro tipo de prato não foi disponibilizado.


        Ano passado tinha esnobado o Oscar. Ainda não me desceu a questão racial e, algo que é pouco divulgado, a questão da única mulher transgênero indicada até agora, através de uma música, não ser chamada para sequer interpretar sua própria música, Anohni. Alegaram que apesar de bonita a música não era “comercial” e por isso não ia ser apresentada.


        Essa grande introdução é justamente para ilustrar como tudo é muito complexo e hipócrita nos grandes meios televisivos. Esse ano, retomei o Oscar, e qual não foi minha surpresa ao ver vários indicados negros. Isso é bom por um lado, mas mostra o quanto a Academia está fora de uma representatividade real, o quanto é mero joguete da opinião pública. Faz só o que é necessário para amainar a crítica e não o que é realmente certo.


        O filme “Moonlight” é um referendo a essa hipocrisia oscarizada. Fala de negros, fala de gays. O filme não chega a sair do armário em uma causa ativista e talvez seja isso que tenha agradado aos votantes. Praticamente nada é consumado. Enquanto em um filme lésbico vemos as mulheres se pegando em cenas tórridas, de forma até gratuita em várias ocasiões, nos filmes com homens tudo é muito velado, muito escondido, insinuado. Por certo que a visibilidade vem melhorando, mas as cabeças das pessoas parecem ainda regredir. Principalmente na Terra de Pindorama.


      
  Em três atos distintos a história de Moonlight vai seguir o jovem Chiron: i. Little; ii. Chiron; iii. Black. Essas marcações são respectivamente a infância, adolescência e fase adulta. Na infância, cercado pela pobreza e sem referencial paterno, pois a mãe é solteira e viciada em drogas, ele vai conhecer Juan, o traficante do bairro que o adota quase como um filho. Por ironia Juan fornece a droga que a mãe do garoto usa. Mahershala Ali é o ator responsável a dar vida ao paternal traficante. E Naomie Harris a mãe distante e drogada de Chiron. Ambos, sabia e merecidamente, indicados ao prêmio de coadjuvantes, sendo que Ali ganhou.
É incrível a mudança física de Harris, uma mulher bonita desmazelada pelo vício. Ali só aparece no primeiro ato e marca a trajetória toda da criança. Chiron é interpretado por 3 atores diferentes Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes que conseguem passar os sentimentos necessários de cada fase. Uma outra figura emblemática na vida de Chiron vai ser seu colega Kevin. Também interpretado nas diferentes fazes por 3 atores diferentes: Jaden Piner, Jharrel Jerome, Andre Holland. No fundo acaba sendo três histórias bem distintas da mesma pessoa. O que não é ruim. Porém, a história não vai para fora do armário. Pelo contrário. O fim um tanto aberto e indefinido não nos dá real critério para achar que Little/Chiron/Black consegue se reconciliar com sua sexualidade que se manifestava desde a infância através dos coleguinhas que o perseguia com o bordão “FAG” (gay).
Na fase adulta é imposto ao personagem o celibato e ele se torna o oposto do que deveria. Afinal gay não pode mostrar sua sexualidade ao grande público. Os homens heteros e “xtãos” de plantão não aguentam esse imenso golpe às suas masculinidades frágeis. Então o personagem se isola de um convívio afetivo.  Por certo que o meio acaba influenciando muito a decisão de um indivíduo em manifestar sua sexualidade ou não. Porém, não sei se permitiria que ela fosse totalmente reprimida como acontece no filme na fase jovem de alguém.
Tudo isso dirigido por Barry Jenkis que dá ótima execução ao próprio roteiro baseado na obra de Tarell Alvin McCraney. Também abocanhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.



       
O filme é muito bom com os limites que comentei que estão mais no campo ideológico do que técnico. Traz um processo narrativo interessante e flerta com filmes mais artísticos e humaniza estereótipos negros, o traficante dono da biqueira.
As cenas na praia são as mais bonitas, e também significativas. Não sei se merecia o prêmio de melhor filme este ano. Com certeza é melhor e mais encorpado que La La Land, vazio e ingênuo.






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