O Código Da Vici
Ao contrário do que muitos querem
acreditar o cristianismo católico não foi algo planejado e o seu início foi “desinstitucionalizado”.
Era exigido muito pouco: conversão, mudança de vida, adesão à palavra de Jesus,
sempre pelo viés dos discípulos, e estar em união a um grupo eclesial. De
início a “Igreja” instituição não existia.
Existiam várias pequenas igrejas praticamente
autônomas que expandiam por cidades do oriente, sul da África e por fim pela
Europa. E com o tempo vários relados da vida de Jesus foram surgindo. Os mais
antigos são conhecidos como Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João, nessa
ordem. E pouco depois surgem outros relatos com outros pontos de vista. Chegou
um momento que as pequenas igrejas, se infiltrando em Roma, a cidade mais
importante da época, precisaram se organizar melhor. E principalmente a
comunidade de Roma foi, aos poucos, conquistando o império romano. Com
Constantino foi que ocorreu a unificação da crença cristã e instituída como religião
oficial no Império. De certa forma, os bispos, que eram autônomos em suas
comunidades, usavam os livros que bem lhes aprouvessem. Mas houve uma
predileção pelos que se tornaram depois os livros oficiais da Bíblia cristã.
Essa oficialidade dos livros usados foi só determinada no século IV e ratificada
de forma definitiva no Concílio de Trento séculos depois. Esse conjunto de
livros bíblicos aceitos pela maioria é chamado de Cânon. Há algumas
divergências entre os grupos cristãos existentes em relação a alguns livros.
Como que aqui quem nos interessa é o Cânon Católico, deixemos explicações dos
outros de lado. Com essa definição já no século IV temos um grupo de livros
oficiais e o grupo de livros não oficiais definidos como Apócrifos. Dentro
desses apócrifos ficaram as histórias mais fantasiosas sobre a vida de Jesus, as
exageradas e as que foram constatadas que não eram do primeiro século. Dentro
desses Apócrifos temos os Evangelhos de Tomé, Tiago, Pseudo-Mateus, Hebreus,
Nazarenos, Ebionitas, Marcião, Pedro, Bartolomeu, Judas, Maria Madalena e
tantos outros Evangelhos, Epístolas e escritos diversos.
Para nós o mais importante é o Evangelho
Apócrifo de Maria Madalena. Ele foi a base para o livro de Dan Brown. Junte-se
a história do Apócrifo de Maria Madalena lendas históricas sobre uma ordem
religiosa perseguida pela Igreja Católica, identificados como Priorado de Sião
e temos o enredo do livro. A lenda
“histórica” diz que eles se dispuseram a cuidar dos segredos do Santo Graal que
é um código para dizer que Jesus tinha deixado descendentes frutos de sua união
sexual com Maria Madalena. Essa sociedade secreta guardaria e defenderia esses
descendentes que ainda hoje seriam perseguidos pela Igreja.
Verdade ou não, saberemos somente na
segunda vinda de JC... Mas o livro faz um bom levantamento histórico e costura
uma bela colcha de retalhos colocando personagens históricos importantes como
membros do Priorado. Inclusive o próprio Leonardo Da Vinci que teria feito no
seu afresco “A Última Ceia” uma referencia direta ao relacionamento de JC e
Maria Madalena. O filme consegue uma boa adaptação do livro, com pequenas
alterações, nada que mude o contexto final. A crítica aqui fica para com a
versão da vida de Jesus defendida com interesses óbvios pela Igreja. Um Jesus
“Deus” e solteiro que morre e ressuscita era muito mais conveniente para os
interesses de um grupo que almejava controle do povo que um Jesus “humano” que
fornicou com uma mulher de índole duvidosa e teve filhos como qualquer mortal.
Não é fácil chegar a uma verdade. Por vezes colocam a Igreja como uma vilã fria
e calculista, sendo que muitas coisas foram acontecendo e não há como negar que
seu início foi até “puro” sem grandes interesses a não ser a salvação do homem,
custasse o que custou. E com o tempo, foi crescendo sua importância política e
assim a corrupção a assolou e como a grandiosa instituição que se tornou e por
mais de um milênio ela manteve a contradição com exemplos bons e outros
execráveis dentro de si.
O filme tenta se apoiar mais na polêmica
de um Jesus humano e sua relação com uma mulher. É interessante e fantasioso ao
mesmo tempo. Como disse não há provas de que Maria Madalena tenha sido esposa
de Jesus. Só há provas que as pequenas comunidades cresceram e se tornaram a
grande instituição que dominou com punhos de ferro, e pouca caridade, a Europa
na Idade Média.
Com elenco de peso vemos o detetive
casual Robert Langdon, interpretado por Tom Hanks que não foi a melhor opção
pela aparência. Contudo Hanks é um bom ator e faz bem o papel. Temos também a
participação de: Audrey Tautou, Paul Bettany, Alfred Molina, Jean Reno, Ian
McKellen entre outros menos conhecidos. Ron Howard dirige e imprime mais ainda
a característica comercial da qual o livro é fruto.
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