Clássicos: Ninotchka
Ninotchka
(1939)
Debutei com a Greta
Garbo em “Ninotchka”. E minha impressão foi de uma atriz presa a seu
estereótipo de seriedade. Uma mulher linda, sofisticada que faz bem um papel de
mulher distante ou enigmática. Sei que é dizer o mesmo que todo mundo sobre
Garbo, mas apenas reforço aqui o que já se sabe dela.
A história de
“Ninotchka” segue estilo de comédia romântica. Enviados soviéticos precisam
vender joias apreendidas da nobreza que foi deposta pelo regime comunista. Iranoff
(Sig Ruman), Buljanoff (Felix Bressart) e Kopalski (Alexander Granach) se mostram
um trio atrapalhado e incapaz de resolver um imbróglio que são envolvidos pelo
conde Leon d’Algout (Melvyn Douglas) que quer recuperar as joias para a
verdadeira dona, Condessa Swana (Ina Claire). Com a incompetência do trio uma
representante é envidada por Moscou para por ordem na bagunça, Ninotchka
Ivanovna Yakushova (Garbo).
Ninotchka se mostra
assexuada, dura, eficiente, séria, obstinada e focada em sua missão. Contudo os
deleites da vida capitalista vão corrompendo sua alma feminina. De inicio acha
tudo estranho, extravagante e desnecessário, mas vai se convertendo. E percebe
como, apesar de tudo que pregam na sua terra natal no pós-revolução, as
demandas capitalistas, e parisienses, lhe apetecem mais. Somado a isso temos
seu encontro por acaso com d’Algout. Um típico bon vivant que quer recuperar as
joias para sua amiga/amante Swana. Coloque nessa mistura toda um humor
simpático e aparentemente inocente e um pouco de romance e teremos a mistura
perfeita. O roteiro é encabeçado por Billy Wilder e a direção de Ernest Lubitsch
ambos com clássicos consagrados e reconhecidos em suas grandezas.
Até então, Garbo era
mais conhecida por sua presença em filmes dramáticos e colocá-la em uma comédia
foi um jogo bem orquestrado e com um ótimo resultado final. No fundo vemos que
a primeira parte, onde Garbo é mais taciturna, há mais tranquilidade entre a
personagem e a atriz. Já na segunda parte vemos a tensão que se instala. Não
que seja ruim e desmereça a atuação de Garbo.
Pelo contrário, ela faz o seu
máximo e consegue competência. Diante de todas as críticas sociais que o filme
carrega temos o romance impossível de uma agente soviética com um trambiqueiro
francês que consegue mover montanhas para fica ao lado do amor de sua vida. Se
o capitalismo corrompeu o coração soviético de Ninotchka, a paixão corrompe o
cínico coração de d’Algout. Os pontos românticos nos soam um tanto quanto
piegas aos nossos olhos contemporâneos. Afinal são décadas de aperfeiçoamento
do endurecimento de nossas almas áridas. Porém se nos entregarmos ao clima essa
estranheza se desfaz e conseguimos aproveitar mais o filme. O tempo em tela
passa voando e o filme em momento algum aborrece.
Perfeito para uma tarde
chuvosa em casa se estiver de bobeira. Ou para qualquer outro momento de sua
folga. No mais, preciso ver Garbo em algo sério.
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