Jezebel
(1938)
Senhoras, senhores, senhoritas e senhoritos, com muito
entusiasmo e artificialidade, venho apresentar minha nova empreitada. Tenho
comentado o quanto acho os filmes recentes um tanto quanto entediantes. Salvo
exceções, obviamente, que são raras. Há algum tempo também eu desejo muito
assistir clássicos, aqueles bemmmm clássicos. Não estou falando de filmes
cultuados pelos descolados de hoje que conseguem apenas entender como “filme
antigo” um Kubrick por exemplo. Falo de filmes das décadas de 1930, 1940, etc.
Os poucos que assisti foram soberbos e com enredos mais avançados que muitas
produções puritanas recentes. E eu fui atrás achando uns filmes desses por aí
perdidos.
E páh!
Bam! Pouh!
Entrei de “vuadora nos peitos” e consegui ver Jezebel.
“Meu”,
filmão da poha...
Imagine o furor que “...E o vento levou”, em fase de produção,
estava causando em Hollywood. Muitas atrizes se estapeando para conseguir ser
Scarllet O’Hara e uma delas era ninguém menos que Bette Davis. Sim, Davis foi
preterida, e dizem que de consolo recebeu o convite para “Jezebel”. A estreia
foi anterior ao “...E o vento levou” e deu mais uma estatueta do Oscar à Davis
que já tinha ganhado três anos antes por “Perigosa”, que é o próximo de minha
listinha.
Em “Jezebel” temos um quadro típico do sul dos Estados
Unidos: pouco antes de 1900, a cidade é Nova Orleans, escravocrata e atrasada
em pequenas demandas que conteriam alguns problemas básicos. A febre amarela
assola a região. E nesse panorama temos a teimosa e mimada Julie Marsden
(Davis) que faz do noivo Preston Dillard (Henry Fonda) gato-e-sapato. O auge da
humilhação acontece quando, para afrontar, ela decide ir ao baile dos ricos da cidade
com um vestido vermelho.
Olha que
escândalo, um vestido V-E-R-M-E-L-H-O! O que foi a última gota para acabar com
a paciência do mancebo apaixonado que rompe o noivado e parte para o Norte a
trabalho. Amparada e consolada pelos tios, principalmente pela Tia Belle Massey
(Fay Bainter), espera um longo ano em tristeza até a volta do amado, que está
casado com outra. Por capricho e para causar briga entre seu antigo noivo e um
valentão que lhe tem paixão, Buck Cantrell (George Brent), ela engendra um
plano que não sai como planejado e causa o maior desconforto, para falar o
mínimo, entres os convidados da festa que tinha promovido para receber e tentar
conquistar o antigo amor. O ápice dos infortúnios ocorre quando Preston cai
doente pela febre amarela
alguns dias
depois e, por lei, terá que ser exilado junto com os outros doentes numa ilha
onde ficavam os leprosos da região.
Claro que um filme que tem 80 anos não terá spoilers
possíveis.
Mas basicamente não contei
grandes segredos da trama. Contudo o que mais me deixou espantado foi a atuação
de Davis. Ela faz a garota “virgem” do sul que manipula e transtorna todos à
sua volta. Tem um vigor tão espetacular quanto Scarllet O’Hara. A grandiosidade
de “...E o vento levou” é espantosa, talvez o motivo de “Jezebel” ter sido
esquecido por muitos através das décadas. A personagem Julie tem uma
personalidade forte, mas que precisa ser doce, pois as regras de conduta da
época exigem. E ver Davis fazendo esse tipo de papel, pois estou acostumado com
os filmes mais novos dela, é um verdadeiro deleite a quem gosta de uma boa
interpretação. O bônus está em Fay Bainter que faz a resignada e preocupada Tia
Belle.
De todas as formas tenta
contornar as consequências dos atos de Julie, sem sucesso. Este papel lhe
rendeu o Oscar de coadjuvante. Eclipsar Davis é impossível mas brilhar ao lado
dela numa atuação soberba foi o que Bainter conseguiu.
E este é o primeiro filme clássico que tanto procurei
iniciando minha nova onda de comentários no blog. Não deixarei os lançamentos
de lado, mas investirei meu tempo nesses monstros consagrados pela crítica e
apurados pelo tempo. Com “Jezebel” inicio essa empreitada de um amante do
cinema, vasculhando os meandros mais recônditos e longínquos na história da
sétima arte.
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