quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Séries - Lemony Snicket - Desventuras em Série - Médio

Lemony Snicket - Desventuras em Série




        Não li os livros de Daniel Handler- o Lemony Snicket -   o qual a série e o filme se baseia.

Assisti a versão cinematográfica com Jim Carrey, Marryl Streep, Jude Law, grande elenco e como os desafortunados órfãos Baudelaire Emily Browning – Violet, Liam Aiken – Klaus e, Kara e Shelby Hoffman – Sunny. Filme este que gostei, mas que não houve uma continuidade. Comento isso pois é impossível não haver algumas comparações.


Na pele dos personagens órfãos temos agora: Malina Weissman, Louis Hynes e Presley Smith, na mesma ordem de personagens acima e praticamente fotocópias. Com o alívio de Klaus, na série, usar óculos, e pena que não um ator gordinho – representatividade já. E o grande vilão não é mais Carrey e sim Neil Patrick Harris. Do Harris conheci suas interpretações em “Garota Exemplar”, “Os Smurfs” e “How I Met Your Mother”. Particularmente acho ele mais propenso à comédia do que ao drama. Não que seu trabalho tenha sido ruim em “Garota Exemplar” simplesmente em “How I...” foi muito melhor. E convenhamos, muitos não gostam do Carrey, mas na comédia, apesar dos trejeitos e maneirismos típicos, não tem muita comparação. Então estranhei bem Harris de início. Para tirar a lembrança do outro precisou três episódios.
Seu Conde Olaf é tão bufão quanto o de Carray porém mais comedido, centrado, mais profundo (?), denso. E lembro que enquanto Carrey contou com um filme de cerca de 2 horas para desenvolver, Harris contou com 8 episódios, de cerca de 50 minutos cada, para descascar sua cebola, digo personagem.
Já os personagens Tio Monty (Billy Connoly) e Tia Josephine (Meryl Streep) foram melhores com seus intérpretes do filme que da série. E por mais que goste de Jude Law, sua interpretação ficou limitada a sombra e voz no filme. Na série temos um debochado e sorumbático Lemony Snicket (Patrick Warburton) mais atuante, aparecendo, e vivendo sua própria história, o tempo todo, com mais cara de detetive investigativo dos velhos tempos do cinema noir. Guardadas suas respectivas épocas, há um hiato de 12 anos entre uma produção e outra, os figurinos, fotografia e cenário são fabulosos em ambas.

Parando com as comparações agora discorro apenas sobre o produto da Netflix.

Particularmente, o primeiro episódio me deu muito sono. E literalmente, eu dormi. Porém, pode ter sido efeito da “lasanhada” do domingo que abusei. Tive que insistir com o segundo episódio e só no deslanchar do terceiro que a série me prendeu. Isso causa estranheza mas parece uma certa constante nas tramas da Netflix. Preciso pensar mais a respeito. Mesmo conhecendo a história do filme anterior, me deparei com um roteiro mais alongado. Isso se deve a cada livreto escrito ser desdobrado em dois capítulos da série. Nesta temporada temos 8 episódios que, seguindo a lógica, representam 4 volumes dos livros: “Mau Começo”, “A Sala dos Répteis”, “O Lago das Sanguessugas” e “Serraria Baixo-astral”. O filme não contemplava esse último livro.

  A interpretação dos personagens adultos é grotescamente caricata. Com exceção da bebezinha Sunny, Violet e Klaus desprendem seriedade demais e parecem que ambos são os únicos lúcidos na história. O que não é demérito quando bem executada. Aqui o efeito foi mediano. Por certo que é uma obra mais infantil que juvenil e que não tem a intenção de ser levada a “sério” enquanto obra.
Com um humor sarcástico e, por várias vezes, mórbido pode agradar muitas pessoas que gostam do “neogótico” transposto a uma produção de crianças. O cinza incomoda um pouco, ainda mais depois de situações políticas conturbadas escondidas por essa cor insossa aqui pelos lados de Sampa... (sim dei um cutucão irônico).  

No mais é uma série que agrada, não é a melhor do gênero, e não acrescenta muito até agora ao que foi feito pelo filme. Veremos se haverá continuidade pois no cinema não foi para frente. Acho que faltou um produtor antenado com novas necessidades do público. E a Netflix, por enquanto, anda seguindo bem as dicas de seus algoritmos inefáveis, herméticos, esotéricos e exotéricos. 


Pontos a serem comentados brevemente:
- Trocar a etnia de alguns personagens (Sr. Poe, Tio Monty, Tia Josephine) foi um ganho em tempos de representatividade;
- Existe um subtexto forte e pesado no fato de Olaf querer se casar com Violet que ainda é menor de idade;
- Junto a esse subtexto sobre a questão do casamento com pessoas que não conta com a idade adulta temos uma crítica forte às instituições que deveriam cuidar das crianças através das personagens da Juíza Strauss (Joan Cussack) e o responsável pela burocracia da guarda Sr. Poe (K. Tood Freeman), tutores e também o papel dos jornalistas na figura de Eleonora Poe (Cleo King) e dos adultos em geral que nunca ouvem o que as crianças têm a dizer;
- O texto de Olaf/Harris criticando o fato de se ir ao cinema e elogiando a ideia de se ficar no conforto da própria casa diante da televisão foi hilário e nem um pouco sutil (episódios 3 e 4);
- No episódio 7 e 8 dá para entender que na verdade os personagens Sir (Don Johnson) e Charles (Rhys Darby) não são “sócios” mas “parceiros/amantes” por causa da interpretação e tradução da palavra em inglês “partners” num contexto mais adulto, e na insistência desse termo específico;
- Dei uma olhada no livro e isso fica um pouco perdido na tradução, porém a “sacada” do roteiro da série foi ótima, pois Sir é todo machão e mandão e Charles bem submisso;

- E o tempo todo eu fico com a sensação que essa história contém muito mais do que aparenta, ao estilo da mais  pura “teoria da conspiração”.

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