segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Fences - Um Limite Entre Nós - Filme de Texto

Fences – Um Limite Entre Nós





        Esse filme eu assisti antes da premiação do Oscar. Com Denzel Washington e Viola Davis nos papéis principais. E assim que o filme terminou eu já me perguntei por qual motivo trabalharam o papel de Viola como coadjuvante se ela está presente em quase todas as cenas e tem um papel determinante na história? Outros filmes também fizeram o mesmo, por exemplo, “Lion – Uma Jornada para Casa” que fez de um principal, Dev Patel, coadjuvante. Coisas dos marqueteiros de Hollywood que não entendemos. Ou entendemos até demais.

        Como é meu costume eu tentei ao máximo não ler nada sobre o filme. E de cara percebi que os diálogos eram rápidos e extensos. O filme, vi depois, é uma adaptação de uma peça teatral de mesmo nome de autoria de August Wilson. E isso explica muita coisa. Quase não se sai do quintal de Troy Maxson, poucos momentos eles estão em outros ambientes. Troy, perfeitamente caracterizado por Washington, que também interpretou o papel no teatro e recebendo um prêmio Tony (2010), é um homem de riso largo e que  na meia idade se torna amargo. Quando novo teve chance de ser um jogador de beisebol, porém, segundo ele próprio, os brancos não deixam. E com isso sua amargura cresce conforme envelhece. Sua vida não é fácil, é catador de lixo e o trabalho não anda agradando muito. Tanto que questiona seu supervisor do motivo de só brancos dirigirem os caminhões. Sua esposa, Rose, faz o papel típico de uma boa esposa que se anula em prol do marido. Porém a amargura de Troy ecoa em todos.
O filho mais velho, fruto de um relacionamento anterior, sofreu com a ausência do pai e já adulto ainda precisa de um apoio financeiro por não estar equilibrado financeiramente e gostar de música e Troy lhe humilha por isso. O filho mais novo tem habilidades esportivas, mas Troy não quer que ele se envolva com os brancos, alegando que não quer o mesmo que lhe fizeram. O irmão que voltou da guerra com sequelas cerebrais vive pelas ruas vendendo legumes e aguardando o juízo final. Troy ao mesmo tempo que se sente responsável não tem a habilidade necessária para lhe dar os cuidados mínimos. O amigo Bono é de longa data presente, mas, as ambições de trabalho de Troy, acaba por afastá-lo. E voltando à sua esposa, a única que consegue driblar e contornar seu gênio forte, ele a magoa com uma relação extraconjugal.
      
O filme todo é pautado pela construção de uma cerca, do inglês “fences”. E é isso que Troy faz emocionalmente com todos. Cria uma cerca e deixa todos longe o suficiente para que ele não tenha que se explicar demais, para que os outros relevem suas escolhas erradas. Para não se machucar.

        É um filme de texto. Ótimo por sinal. Que dá o material necessário a grandes atores para trabalhar e brilhar. E foi o que Denzel fez e, além de tudo, ainda dirigi o filme de forma competente. Os diálogos rápidos das lorotas e causos de Troy são deliciosos quando encenados por Denzel. Viola não fica para trás. Uma mulher simples que tem a lucidez necessária para entender seu lugar num mundo ainda machista que vai evoluindo e mudando, um mundo o qual seu marido não enxerga e talvez não se encaixe mais. Ela é a voz da razão no casal. Enquanto Troy é regido pelas suas emoções mais primárias de típico macho alfa dos anos de 1950, que sofreu o suficiente para não conseguir mais se abrir e evoluir da maneira necessária.


      
  O filme é brilhante. E consegue segurar o público em mais de duas horas de filme, o que não é fácil hoje em dia. Impecável e simples ao mesmo tempo. Se Viola foi justiçada no Oscar, Denzel foi o contrário. Mais que merecia novamente a estatueta. Porém, como um comentarista disse “a academia prefere dar prêmios para os ‘jovens’ que ainda têm uma longa carreira pela frente”. O que acho um erro pois esse tipo de coisa pega mal e só afasta o público da premiação.
E exclui alguns ótimos atores que morrem sem reconhecimento deles. Sem contar outras questões mais incômodas subjacentes ao seu cenário que me deixa muito frustrado. Enfim, o Oscar é só mais uma premiação. Vale a obra que fica para nós. E um bom filme anda em falta ultimamente, e “Fences” nos presenteia sendo um ótimo filme.  

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