domingo, 15 de junho de 2025

Straight: mas ele "nera" era gay? Nera gay?

 “Straight”






        “Straight” é baseado numa peça de teatro homônima de Scott Elmegreen e Drew Fornarola que eu não faço ideia quem sejam no momento. Contudo, eu evito ler muita coisa para não ser influenciado na hora de eu escrever minha resenha. Produção mexicana que trata do trio Ro (Alejandro Speitzer), Elia (Bárbara López) e Cris (Franco Masini), e te falar que eles são lindos de doer os olhos, principalmente o rapaz que faz o Cris. Contudo vou reclamar aqui de uma coisa que nunca reclamei e nesse filme me incomodou muito. Por mais que o Masini parareça mesmo mais novo que o Speitzer ele não é. E isso faz diferença demais, o diretor, Marcelo Tobar, não se atentou que um homem de seus trinta e poucos, e uma mulher que já tem a preocupaçao de estar chegando aos quarenta possui aparência diferente e os dois atores que fazem um casal não passa verossimilhança. A idade da cara dos dois não condiz com a dinâmica proposta.  Ro tem mais de trinta anos, 32 se não me engano, e Cris desconversa, mas está entre 17 e 22 anos. É  muito comum homens mais velhos se interessarem por novos. Não conheço as leis do México sobre menoridade mas soa um tanto desconfortável para nós aqui, ou deveria. Principalmente pelo tema transversal que o roteiro/peça evita em confrontar: a responsabilidade afetiva que Ro não tem com Cris. Cris é novo e pouco experiente e se envolte totalmente com Ro que é rico e ainda por cima comprometido com sua namorada, que ele até enrola, mas, ela é uma mulher adulta. É a questão: quem o  “Straight”, heterossesual em inglês, vai magoar primeiro para poder dar vasão aos seus desejos? No fim, nós sabemos que homens como Ro escolhem as mulheres e as cozinham em banho-maria o tanto quanto podem e depois largam e vão atrás de viver o que se privaram, ou pior, ficam com vida dupla, principalmente quando a mulher não o supre sexualmente, ele vai lá numa sauna, num parque de pegação ou mesmo contrata um michê. Mas quem somos nós para julgar? Afinal quem julga é Deus...né? E sinceramente o filme faz um esforço enorme para não dar margem ao nosso julgamento mas, se tem uma coisa que é nítido é e a cena de sexo com a mulher ser bem sem graça e as com o Cris serem de deixar o Ro bagunçar o apartamento todo (ele tem TOC para limpeza e arrumação). E antes de uma tórrida noite de sexo, Cris faz um monólogo para por o Ro contra a parede e fazer ele decidir ser o que ele é coloca a música “Puto” do Molotov e com os versos “Marica, nena; Más bien putín, ¿no? ” se pegam dançando “feito homens” e acabam se pegando feito gays no chão e estouram até champanhe. 

        No dia seguinte Elia chega e até comenta da bagunça que a casa ficou sendo que o namorado é neurótico por limpeza e arrumação. Equanto isso, sorrateiramente Cris coloca a cueca debaixo do edredom no sofa e Ro sai do quarto só de camiseta e cueca. Os olhos veem o que querm quando se ama alguém.

        Enfim, eu não esperava muito da produção e tive direito a um filme bem equilibrado sem grandes conflitos. Havia material contudo preferiam pasteurizar para os Heteros não ficarem tão chocados. As atuações estão muito boas principalmento do Masini, que entrega um Cris doce e esperançoso. Não falo mais nada para não entregar o grande spoiler do final. E só lembrando que no mês do Orgulho assistir um filme com essa temática é mais que um clichê, é necessário.  

domingo, 8 de junho de 2025

 Looking




 

 

 

 

        O que uma série gay que estreou em janeiro de 2014 e teve seu fim em março de 2015 com apenas duas temporadas pode nos dizer em 2025? Principalmente para uma comunidade que não se importa muito com a temática que a série aborda?

        A série de 2014-2015 aborda relacionamentos gays e todos os temas que a envolvem em uma das cidades mais icônicas do Orgulho LGBTQIA+, São Francisco. Tenho que lembrar que nossas cidades Campinas e São Paulo não ficam atrás na iconografia gay. Há tempos São Paulo pegou para si o primeiro lugar de maior Parada do Orgulho LGBTQIA+. E, se levarmos em conta todos os ataques que a comuinidade sofre de todos os lados, e uma onda de extrema direita também se anunciando no país, então qualquer filme, série ou arte que seja instrutiva é importante. Eu lembro de ter assistido na époda do lançamento e a minha cosmovisão sobre esse universo era um pouco diferente de agora.

        E é interessante revisitar algumas obras, e perceber que talvez o que nós identificássemos como problemático tenha somente virado algo normal de uma vivência numa cidade grande. Se antes, eu todo careta, ficava horrorizado com o tanto de drogas que eles usavam como se fosse nada, frequentar baladas em São Paulo, e outros lugares me mostrou que a realidade é pior, ou melhor, cada sabe de si, e foi outra coisa que aprendi, não julgar, pois também somos passíveis de julgamentos.

        Nós acompanhamos na série Patrick (Jhonathan Groff), Dom (Murray Barllet) e Augustín (Frankie J. Alvarez) e a tira colo, temos Doris Lauren Weedman), ex namora de Dom da época que os dois moravam numa pequena cidade do interior. Cada um dos personagens está “procurando”, em inglês “looking” algo. Eu gostaria de poder falar o que realmente penso, quer saber, “fodasse”: todos procuram rola, a Doris é heterossexual. Contudo, para também gerar uma dinâmica, eles todos procuram das maneiras mais complicadas que seres humanos podem procurar. Dom só gosta de novinho, mas vê a oportunidade de um “apoio” de um homem mais velho que ele, pois já conta com 40 anos e não tem nada concretizado em sua vida. Augustín é artista que não faz arte e usa seu namoro para explorar uma ideia que dá muito errada e Patrick é o gay branco sonso que teria tudo para ser feliz mas não valoriza o que tem e acaba perdendo. Acho que o personagem mais fofo e doce da série, Richie (Raul Castilho), se apaixona por ele, ele estraga tudo ficanco com o chefe casado, e vira amante desse. Isso tudo na primeira temporada. Para falar da segunda temporada teria que dar mais spoilers. E o que importa é o mundo LGBTQIA+ pré-Pandemia sendo mostrado com uma certa positividade. O mundo é assim como deve ser, os humanos complicam e descomplicam e a vida vai desenrolando sem ou com grandes preocupações.

        “Looking” pode então ser herdeiro de “Crônicas de San Francisco” na temática, até tem uma cena que citam a Sra. Madrigal mas não tem como fazer nada gay se não ter um monte de citação de várias coisas e, para um não iniciado, as citações estão na medida. O hetero top não vai precisar saber pajubá para entender o que passa, só não poderá ter homofobia pois o que mostra de bunda não está escrito... E umas rolas também. Afinal, se tem coisa que gay “Looking” é rola e bunda.

 

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Pecadores - É religiosidade pura

 Pecadores





        Começar com uma coisa óbvia que tem um sentido profundo, sou brasileiro. E isso representa um amálgama cultural complexo e ainda não de todo homogênio. Enquanto umas regiões o povo é menos misturado em outros o povo é mais miscigenado, umas regiões com mais mistura dos povos originários, outras de negros, outras com portugueses e não esqueçamos outros tantos povos do mundo que vieram para cá. Se essa questão de mistura de etnias ainda se encontra em processo uma coisa que já está bem misturada é a religiosidade brasileira. Por mais católico que alguém seja, uma plantinha indígena vai estar lá para um chá ou um banho, por mais evangélico neopentecostal, na hora de arrumar um “perna-de-calça” elas vão lá no terreito escondido, ou ainda, numa questão de iminente de saúde muitos não pensam duas vezes em confrontar sua religião e vai sim buscar ajuda em médium, víamos muito com Chico Xavier e outros arautos da cura medúnica. E nem falo de dinheiro, o que há de gente pedindo para Exu grana e não deveria pois "serve" o Deus Único, depois vão lá jogar pedra em terreiros. E nos sertões e rincões do país, onde por vezes não há médicos? Quem faz as vezes são benzedeiras, xamãs, idosos conhecedores de magias, rezas e ervas. Eu me lembro do meu avô, católico, devoto de N. Sra. Aparecida, de Santa Bárbara e outros que não vou me lembrar, sabia mais de ervas curativas que muitos botânicos. Eu lamento muito na época não aproveitar e pedir para ele me ensinar muitas coisas. As poucas que eu conheço aprendi por “osmose”. Lembro que ele tinha umas sementes “para proteção”, que depois descobri serem elementos poderosos de diversas magias de nossos místicos populares. Sem contar as histórias verídicas do sobrenatual, hoje eu vejo que era a espiritualidade manifestando na vida dele. E por que eu estou falando disso? Porque somos um povo bem misturado nas crendices, cada região com suas peculiaridades mas muitas coisas convergem, se assemelham e, mesmo levando outro nome, ou sendo cristianizado, são nada mais que a espiritualidade brasileira expressa em ritos, ações, liturgias, cantos e crenças. E a falta disso numa produção brasileira começou a me incomodar muito e me dei conta que nas produções hollywoodianas também carecem do mesmo. Entendo que um filme é um recorte determinado para poder se narrar uma história, mas aqui lembro de uma palestra, fico em falta de indicar onde vi pois não lembro, do Denzel Washington dizendo que um filme sobre os negros nos EUA precisa ter a “cultura” negra por trás. Resumidamente ele disse que somente um negro estadunidense sabe algumas coisas próprias da cultura negra estadunidense. Ele até deu o exemplo do pente de ferro quente num domingo de manhã queimando os cabelos com um monte de mulheres, tias, irmãs e crianças antes do culto dominical. Um branco pode até escrever sobre a vida de um negro mas esses detalhes, que devem ser colocados tanto na construção do personagem como no roteiro fazem a diferença, dá verossimilhança, traz vida ao filme, série ou teatro, vai faltar ao branco. Isso para ele é cultura, trazer para a obra coisas que só aquele grupo saberia e teria sensibilidade para retratar. E como falta a cultura da religiosidade em filmes. Quando colocam é um cristianismo fanático a ser combatido ou um satanismo magnânimo que vence tudo. E geralmente num filme de terror sanguinolentos. 




        “Pecadores” é um filme de terror que joga com isso, de ter uma cultura por trás, existe uma pesquisa histórica nas roupas, nos costumes, na religiosidade, aos moldes dos EUA. As três etnias aparecem, e ao contrário daqui que houve uma miscigenação mais intensa, lá não, os negros são segregados ainda, as cidades são separadas, recém libertos eles são perseguidos por leis que os fazem ser presos e voltar aos trabalhos pesados “gratuitos”. Os indígenas, tentam fazer algo, porém sabe que os brancos não querem sua ajuda então eles se retiram da história. E os brancos que, no filme como vampiros são a manifestão da apropriação cultural que incutem aos negros, e outros povos, e detratam esses mesmos povos para manter a falácia da supremacia branca. Vejam o que fizeram com a África até hoje, nações poderosas apagadas, a cultura egípcia espoliada por gregos que se tornaram os “pais” da filosofia. E aqui chega ao que disse pouco acima, a religiosidade nesse filme não está a serviço de causar medo ou de se contrapor aos vampiros. Ela está na caminhada cotidiana, na fé simples de cada personagem. É orgânico, flui dos poros de cada um ali retratado. A melhor cena que mostra isso é quando Sammie (Miles Caton) sem saber que possui um poder sobrenatural de ligar os tempos, presente, passado e futuro ao  rítmo da sua música. Este “dom” é explicado já no começo e percebam, não estou fazendo um resumo do filme pois esse filme não é sobre isso. É sobre a cultura negra americana que foi tanto tempo apagada a ponto de várias coisas não aparecerem nas produções já feitas. As poucas coisas que via da espiritualidade negra que via estava ligada a Nova Orleans e mesmo assim de forma um tanto desrespeitosa e preconceituosa. Tenho a sensação que às vezes alguns personagens só são de determinada etnia para cumprir cotas e isso que o Denzel falou nem é levado em conta pois as ações não condizem com o que deveriam representar. Em “Pecadores” tudo condiz. Tem um casal de chineses que possui um mercadinho de um lado da rua, onde atende negros, aí vemos a câmera atravessar a rua para um outro mercadinho que é deles também, mas esse é para atender brancos, seguindo as regras de segregação. E que delicioso ver a personagem Annie (Wunmi Mosaku) sendo uma mulher fora do padrão, sendo acima do peso, e sensualíssima que ama um dos irmãos gêmeos da história e se comparar com a branca que o outro irmão gosta Mary (Hailee Steinfeld) é de dar pena dessa última, que é uma mulher bonita mas comum. Annie tem os paranauês, sensualidade e tem espiritualidade, ela tem as práticas ancestrais que vai perceber e depois ajudar a combater os perigos. Ela é uma Oxum, se for colocar uma referência nossa. 

        O diretor sabe dessa “cultura” que o Denzel falou, ele é o Ryan Coogler e fez filmes com esse naipe de profundiade. Só vou citar um filme que ele esteve à frente: “Pantera Negra”.  Se a cultura Woke andou derrapando, e fez isso pois muitos diretores e roteiristas não fizeram o dever de casa direito, Coogler sabe o que está fazendo e manda muito bem. Ele é uma aula de história da negritude estadunidense e o que é melhor, disfarçada em filme de suspense terror e ação, neste caso. O que menos importa é o filme ser de vampiro, tudo é pano de fundo para algo tão mais profundo e necessário que me arrepia só de lembrar do filme.  Como faz um tempo que o filme estreou e não ganho para comentar filmes (ainda) não vou fazer resuminho não. Só essa resenha comentando e recomendo, assistam. Vale cada minuto que você fica diante da tela. E se puder dar uma dica, caso não conheça muito, tente perceber tudo, tudo mesmo, e saiba que nada ali está gratuitamente, todo adereço, toda ação, toda roupa, toda figuração, até os nomes dos dois gêmeos, ambos interpretados pelo Michael B. Jordan, têm sentido. Leia um pouco sobre as Leis de Jim Crow, isso também ajuda. E mesmo que você não queira se aprofundar, só ficar na camada superficial, é um ótimo filme de ação/terror. 


sábado, 17 de maio de 2025

A Maravilhosa Sra. Maisel - M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A mesmo!

 A Maravilhosa Sra. Maisel




 

 

        Se existe um grupo étnico capaz de “criar uma narrativa” cativante e cheia de energia que sobrepuja os tempos são os judeus. Donos de uma história rica, complexa, turbulenta e, no momento atual, diplomaticamente delicada, estão num patamar cultural grandioso. Pelo menos detêm o domínio da grande máquina Hollywood. Chegaram lá quando tudo era mato, e construíram, com nomes variados, as bases e depois o edifício inteiro da indústria de entretenimento estadunidense. E não é só nos filmes, é no teatro, na Broadway e off-Broadway, na comédia Stand-up, na música, e qualquer, repetindo a expressão acima citada acima em aspas, “criação de narrativa” que eles são bons, eles também são ótimos em vender essas ideias. Comerciantes natos conseguem nos convencer de que seus produtos são bons. Como tudo em um grande centro comercial temos que sempre analisar bem o que estamos adquirindo, mas o papel deles, produzir e vender, eles desempenham com maestria.

        E “Maravilhosa Sra. Maisel” é um produto muito bem feito. Eu não conheço muitos judeus, a não ser pela tela e pelo filtro da arte. Tive contato com um amigo que era judeu, e pelo que tenho dele eu tento fazer uma causa de juízo sobre a cultura que “Maravilhosa Sra. Maisel” retrata. E, sim, é fantástico perceber que as duas narrativas, do meu amigo e da série, convergem. Obviamente que meu amigo é brasileiro e a série se passa em Manhattan então algumas divergências e especificidades culturais podem ocorrer, mas pelo que meu amigo falava da família, das relações religiosas e da rede de apoio que havia “Maravilhosa Sra. Maisel” está similar a tudo que ele relatava. Eu, meio vira-latas do interior de São Paulo, sem um senso étnico tão definido, pois minhas origens se perderam na desimportância da vivência histórica que um brasileito tem, ando resgatando algumas coisa hoje em dia, não acompanhava aquela mixórdia de situações que não havia na minha família que meu amigo narrava. Simplesmente se alguém brigava na minha família paravam de se conversar e o tempo resolvia, na do meu amigo, ninguém parava de conversar mas ninguém esquecia o que cada um tinha feito e, segundo ele, tudo era remoído incessantemente em todas as oportunidades possíveis, e mesmo se odiando ninguém deixava de falar com ninguém. E, aqui não vou julgar quem tem razão, são constextos culturais distintos. “Afinal quem somos nós para julgar....” (Só lembrando a fatídica frase do senso cumum que justamente dá aval a começar a tacar o pau em quem não está perto para se defender)

        A série é sobre isso, vivência cultural de um grupo étnico bem definido. Nunca tinha visto uma produção tão voltada ao universo judeu, além daquelas sobre o holocausto, o que é um alívio, pois, por mais traumático que tenha sido os eventos das Grandes Guerras é bom saber outros meandros de um grupo tão importante na nossa história ocidental. Nossa personagem título a Sra. Maisel é uma judia casada, espirituosa, cheia de personalidade e com uma veia cômica que vai definir toda a série. O marido menos interessante porém esforçado não consegue lidar com uma aptidão que surge na vida da Sra. Maisel, sua esposa, a veia cômica que se manifesta numa apresentação de Stand-up e devido a isso ele termina o casamento e a mulher fica livre para iniciar sua carreira. Porém nada é simples e tranquilo, ser comediante Stand-up não é bem visto para homens que por uma piada podiam ser presos, estamos pelos anos de 1958-1959, imagine para mulheres, e divorciadas, apesar da situação não estar resolvida no papel. Então a empreitada de Miriam, a Sra. Maisel, interpretada brilhantemente pela Rachel Brosnahan não vai ser fácil, no meio das apresentações, quem percebe a qualidade do humor de Miriam é Susie (Alex Borstein) que se torna sua amiga e empresária. Deliciosamente masculinizada ela figura cenas hilárias não só em contraste com a feminilidade delicada de Miriam, mas também, para fazer acontecer o plano de colocar sua comediante nos palcos e ambas buscarem sucesso, mesmo que para isso ela mesma tenha que requebrar numa dança supostamente brasileira, na segunda temporada para se passar por funcionária do resort que a família de Míriam está passando férias. Os pais de Míriam são deliciosos de se ver, a mãe toda afetada, feita pela ótima Marin Hinkle, e o pai, Tony Shalhoub, um professor de física metódico figuram cenas hilárias de casal. Tudo na série funciona, contudo uma coisa é absurda, a direção de arte. Pense na perfeição da reprodução de época, de móveis, a lugares, roupas. É um exercício de pesquisa hercúleo. E como tem locações para serem reproduzidas, essa série não saiu barata. Nem tinha como. A qualidade do roteiro, reproduzindo a comédia e os trejeitos ingênuos da época acabam por dar mais luz ao todo.

        Eu ainda estou finalizando a segunda temporada de cinco. Cada temporada possui de 8 a 10 episódios com seus 50 minutos, com variações. Não é uma série pesada, mesmo sendo um pouco complexa por haver muitos personagens e subtramas. É divertida de se seguir. E é impossível quem goste de moda não admirar os vestidos de Miriam, um mais lindo que o outro, mesmo os da mãe dela e de outras personagens, são espetáculos de uma época dourada de ingenuidade e esperança que os estadunidenses viviam. Hoje, com as produções focadas em terror, suspense, ficção científica com reviravoltas o tempo todo nos deixando em pequenas crises existenciais “Maravilhosa Sra. Maisel” é um sopro diferente de tudo que está no mercado. Algo para aliviar o peso dos tempos difíceis que vivemos. “Bora” assistir o restante!

quarta-feira, 26 de março de 2025

Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa - Uma belezura de firme







          Dos personagens do Maurício de Sousa Chico Bento é o meu querido, talvez o gatinho Minguau venha logo em seguida, este eu vi “nascer” quando estreou. O Chico é mais longevo e só lembro dele sempre existir na minha vida. E, talvez justificando esse bem querer, eu sou nascido e crescido no interior de São Paulo, e por mais “fresco” que eu tenha sido eu lidei com bichos da roça, eu cacei, aprendi a atirar (algumas histórias antigas ele chegou a empunhar um espingarda do pai), eu pesquei, eu nadei em açudes, represas e rios, eu trepei em goiabeira para comer goidaba direto do pé, e particularmente, ao contrário dele eu não gosto de goiaba, estudei numa escola de “roça” .  E outra coisa importante, até escrevi com o som reverberando na minha cabeça, o “r” retroflexo que nós do interior temos. Eu perdi bastante dele quando saí da cidade que minha família morava e fui morar por esse mundão de meu Deus. Agora estou de volta e ao mesmo tempo que me asusto com o povo me cumprimentando na rua “Bãããuuum” eu me pego reproduzindo o “r”. E lógico que o Maurício com tanto bom humor e tato reproduziu essa fala caipira nas HQs. 

          O elenco está de um primor só! Eu assustei de ver o Lobianco fazendo competentemente um Nhô Lau, pegando o espírito do personagem. Acho que todos os atores conseguiram chegar no ponto. As crianças talvez faltam uma energia específica aqui ou ali mas não as julgo pois algumas devem conhecer pouco a obra extensa do Maurício. A História é bem simples, típicas das perípecias de Chico. Nesta vemos Dotô Agripino, Augusto Madeira, querendo construir uma estrada que passaria justo onde uma goiabeira que Chico tanto gosta está. E vira um escarcéu para salvar a tal goiabeira. Temos uma aparição de uma personagem misteriosa que é uma delicinha feita pela Taís Araújo,  mas fiquei indignado do figurino dela ser tão mal feito. Uma saia pintada com um casaco de crochê feito folhas acho que poderiam ter pensado melhor. 

         O Isaac Amendoim encarna a criança da roça perfeitamente. Eu não o conhecia o trabalho do garoto como influenciador digital mas como ator ele manda muito bem. Uma coisa é ser fofo e caipira outra coisa é interpretar e ele faz muito bem . 

          No geral o saldo de Chico Bento e a Goiabeira Marviosa é positivo. É gostoso ver os personagens do Maurício saindo do papel e até sendo interpretados por outros “pincéis”. Quem não viu o trabalho de Graphic MSP que foi dado um personagem para outros desenhistas e roteiristas parceiros fora da editora da família Sousa? Saiu um primor cada edição e se não sabe do que esotu falando está perdendo é uma pancada em cima de outra. E aqui no formato de Live Action temos uma belezura de "firme". 


terça-feira, 25 de março de 2025

Adolescência - Estarrecedor sem ser terror

 

Adolescência - Estarrecedor sem ser terror





 

          O primeiro acerto dessa série da Netflix é o próprio roteiro que divide em tudo em quatro episódios, de cerca de uma hora cada, e cada um descasca as camadas sociais das etapas do que acontece. Vemos na história que um adolescente de 13 anos é acusado de matar uma colega da escola. A família toda é acordada com a polícia entrando com aquela brutalidade que alguns filmes mostram, contudo, logo em seguida um certo polimento excessivo me fez atentar para que a série podia não ser americana. E não era para nosso bem. Isso faz toda diferença pois o que é abordado não é captado fácil pelas produções americanas. Levado para a delegacia acompanhamos o desenrolar da acusação, coleta de dados, as burocracias e a primeira entrevista com o advogado junto, e o pai embasbacado sem entender como aquilo pode estar acontecendo, sem acreditar que o filhinho seria capaz de uma coisas daquela. No segundo episódio os detetives do caso vão à escola e falham miseravelmente com os jovens. Tanto que uma informação primordial aparece do próprio filho de um dos investigadores que estudava lá. É aí que vemos um do problemas denunciado pela série: a falta de diálogo que há entre as gerações. E como a escola é bagunçada e permissiva. Parece totalmente desgovernada. E o celular em todos os lugares, isso também é outro ponto de denúncia da série. No terceiro episódio, o centro da história, temos a entrevista de uma psicolaga contratada pela defeza para dar um parecer. É incrivel a perfeição desse episódio. É a cabeça do jovem colocada num raio-x para um adulto entender o que se passa lá, por mais que no filme haja um crime por trás, aquilo é estarrecedoramente plausível e real. Quem trabalhou com jovens sabe. Por fim, vemos as consequências desse suposto crime na família no último episódio. E tudo feito em plano sequência, seria como se gravassem tudo sem nenhum corte, em cena contínua, sem parar a atuação, para quem não sabe.


          Outro acerto é o elenco. Saindo do óbvio de nomes badalados eles acham o meio termo necessário para atores interpretarem o tipo de pessoa que acho mais difícil, pessoas comuns. O criador da série Stephen Grahan faz o estupefato pai do garoto Jamie que também interpretado pelo fabuloso novato Owen Cooper. Mas ninguém fica para trás, a atriz que faz a psicóloga, Erin Doherty, é abursa tentando mostrar sua máscara de neutralidade profissional e entregando uma sutileza que beira o brilhantismo. As cenas mais aterradoras, se pudermos falar isso, lembrando que não é uma série de terror, são com ela.

                 Talvez essa série leve os pais de hoje discutir e repensarem as próprias atitudes em relação aos filhos, uso de celular e façta de acompanhar de verdade a juventude. Eu fui professor do estado e sei o quanto um pai pode ser omisso, obtuso, ou ainda negar que o filho seja capaz de fazer algo errado. Já ouvi pais defendendo os filhos “Mas em casa ele não dá trabalho...”, claro, dá um celuar na mão e deixa ele lá no mundo da internet e ele não dá trabalho mesmo. E é sobre isso a série: Internet, Instagram, comunidades virtuais e os crimes que muitos cometem no virtual e no real.

                Se não assistiu, corre, eu assiti de uma sentada pois, tinha tempo e não conseguia me desgrudar da tela. Só uma dica, indiquem para aquele amigo Red pills sem falar nada. Apesar que acho que ele não vai ver problema nenhum ou entender.

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

A verdadeira dor: sincericídio

 





          Existe uma dor que é comum a todos, ou considerando uma maioria, que é a dor de existir, e se reverter essa moeda de duas faces, vamos ter as delícias de existir. Ou seja, nada é negativo o tempo todo como o contrário também acontece. Aqui vemos um pouco dessa dualidade de dor e “não dor”.

          Antes de chegar lá, começo falando que o que mais me chamou a atenção em assistir esse filme foi a presença e a indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante de Kieran Culkin. Lembro dele em “A estranha família de Igby” (2002) que fazia um jovem que entra em atrito com a família que o quer colocar num reformatório militar. Depois acabei perdendo de vista pois ele se enveredou para a televisão e por várias situações, como por exemplo, ser impossível de assistir a tudo que a televisão produz. Toquei a vida. E outra surpresa foi o Jesse Eisenberg estar na direção e no roteiro, inclusive este é o seu segundo. E que roteiro bonitinho, redondinho, tudo no lugar e uma história bem sensível.

          Ambos fazem primos que, após perderem a avó, decidem se reconectar com suas raízes polonesas fazendo uma viagem para o país de origem dela. Contudo, os dois estão desligados na vida, se cresceram e foram melhores amigos a vida toda agora a distância, a família de um deles compromete essa união. David (Eisenberg) se culpa um pouco por abandonar o primo, pois tem família, e de certa forma inveja o Benji (Culkin) por seu jeito desinibido, carísmático e caótico com a capacidade, palavras minhas, “iluminar os lugares que entra”. David é acanhado, tímido e tem dificuldade nas interações. Benji faz todo mundo ter momentos ótimos e divertidos, mesmo que em momentos de exageros, acabe fazendo o oposto e deixanto todos desconfortáveis com alguma questão que levante. Ele parece ser provido do que chamamos no Brasil de “sincericídio” . Isso pode ser bom e pode ser ruim, dependendo sempre da situação. E isso que nos leva àquela dualidade que disse lá em cima. Por trás desse jeito tão extrovertido Benji não é bem o que parece. E, David, o que é o tímido, é o que consegue estabelecer uma família e se sente impotente ao tentar ajudar Benji.

           Na viagem as conecções que eles pretendem se mostram um pouco mais desafiadoras que imaginavam. E o fim, não vou falar nada além disso, deixa tudo aberto. Muito aberto.

          É um filme gostoso de relações familiares, saindo do convencional pai/mãe/filhos, irmãos ou netos/vós que encanta. E, realmente a atuação de Culkin é uma luz fulgurante no filme inteiro. Se lá atrás ele já estava muito bom agora ele está soberbo. Torço por ele no Oscar.

 

domingo, 19 de janeiro de 2025

“Pobres criaturas”, “O sacrifício do Cervo Sagrado” e “A favorita”, preciso falar de Yorgos Lanthimo

 


 

 

          Não sou um especialista para tal empreitada, mas com base nesses três filmes, o que é pouco para uma análise séria e profissional, como não sou nem um nem outro escrevo que me apetece. Contextualizando um pouco, estava vivendo uma realidade paralela desde pouco antes da Pandemia, tentando me situar. Acho que essas explicações acabam sendo lugar comum aqui no meu blog, mas é difícil ser um adulto produtivo no trabalho massacrante e ainda produzir um conteúdo que não é uma dancinha, ou uma reprodução de algo já pronto num aplicativo de vídeo. Admiro quem faz, eu não tenho molejo, traquejo e remelexo. Junte a isso uma dose cavalar de vergonha de mostrar ela linda carinha de fuinha que tenho. Então, na minha falta de adequação me escondo por trás das palavras. É o que tem para hoje e possívelmente amanhã.

         


          Então, nessas vivicitudes, eu não sabia quem era o abençoado do Lanthimos e assiti “A favorita”. Gostei e desgostei do filme. Deu uma sensação de histórico clichê contada de um ângulo bem esquisito. Olivia Colman brilhou, e eu pisquei os olhos ofuscados por isso, o mesmo com a Rachel Weisz, e teve a Emma Stone, vinda de La La Land e como diria RuPaul “Meah!”. Não via tudo que andavam vendo. Entendam, achei La La Land bom, o suficiente, e a Emma também boa, é que naquele ano estava concorrendo com a Isabelle Huppert em “Elle” e é impossível alguém bater essa mulher quando faz uma personagem amarga. E deram o Oscar para Emma, era a Isabelle Huppert..




          Esses dias, no tédio fui procurar indicações para filmes que instigassem, mesmo que essa caracterísitca seja genérica e abrangente e me apareceu “O sacrifício do Cervo Sagrado”, Collin Farrel, Nicole Kidman e o Barry (Keoghan), mas o que me pegou foi a história ser baseada numa tragédia grega de Eurípedes “Ifigênia” e lá fui eu. Então, o filme em uma filmagem normal mas com atuações “estranhas”, todo sentimento estava suprimido. Basicamente, movimentos do corpo nos cenários e as falas. Eu quase assisti em off, quando ao mesmo tempo que está assistindo algo faz outra coisa mas mantém o fio da meada sem precisar parar nada. Tem vezes que consigo, foi o caso desse filme. E novamente a estranheza dos acontecimentos e o desenrolar da história sem dar spoiler desnecessário entregando um “vilão” deliciosamente bom.

E finalmente “Pobres criaturas”, foi aqui que descobri consientemente que era desse diretor todos esses filmes. E faz um tempo que eu queria dar atenção a essa produção. E confesso, eu estava com uma preguiça de ver a Emma Stone num papel que me pareceria uma nova “Nell”, filme de 1994 com a Jodie Foster e o Liam Nieeson de caráter duvidoso para os padrões de hoje. E já falei que tinha a Emma Stone? Acho que sim e já entenderam também. E se tem uma coisa que eu adoro, mesmo, é morder minha língua, ser surpreendido, não esperar nada e receber tudo e mais um pouco. E como esse filme é bom. Estranho, cheio de metáforas e filosofia, clichês que desdobram para outros rumos, uma certa diversidade e profundidade que um americano não consegue delinear em seus filmes. Tem um momento que a personagem vai para Portugal e, além das peripécias, se encanta com uma mulher que está cantando Fado. Americano mal sabe o que é Portugal... E para nossa felicidade Yorgos Lanthimos não é americano, nem inglês, é grego. E sair um pouco dessa colonização cultural anglo-saxã, mesmo que volte para para outro lado da europa é um respiro gostoso. Ainda achei que a mulher é objetificada e para conquistar sua liberdade, no filme ela passa pela prostituição. E lembro que o filme é baseado na obra de mesmo nome de Alasdair Grey. E o que queria mais falar, e já finalizar o texto pois está longo demais: a Emma Stone está muito boa no papel de Bella Baxter. Na verdade, dos principais, todos mandam muito bem. A direção do Yorgos deu a estranheza e acentouou na medida emoção e falta de emoção, o cenário impecável e o figurino lindo de viver... Apesar de estar um tanto atrasado com os filmes eu só lembro que não vivo disso e não tenho nem ajda no meu pix, que por sinal está abaixo para doações. Por enquanto mantenho esse formato. Precisando monetizar logo e melhor para não ter que apelar para o OnlyFans e passar vergonha miseravelmente.

 Segue a chave pix, que é meu e-mail, pelo Banco Inter e está no meu nome Vinícius Motta:

 

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