Vingadores – Ultimato
Uma afirmação:
o filme é muito bom, bem construído e estruturado, principalmente em relação
aos roteiros anteriores. Produção de arte impecável, efeitos, é um ótimo final
para uma epopéia cinematográfica que rendeu tantos arcos de histórias e tantos
lucros. Vemos pela arrecadação que se teve até agora. Contudo é uma obra
humana, grandiosa, então passível de
críticas. E acho que minhas críticas vão mais pela ideologia do filme do que no
filme em si.
Possivelmente
haverá spoilers, então: alerta de spoilers!
Vou começar
pelos mortos. Não acho que matar a Viúva Negra tenha acrescentado algo à sua
personagem ou ao seu valor como heroína. Parece que os roteiristas sempre optam
por descartar uma personagem mulher e nunca o homem. Lembro que o Gavião só
voltou, pois ficou putinho com a perda da família, não digo que não seja um bom
motivo. Contudo ele tinha abandonado a equipe, e a Natasha não. E no decorrer
do lapso de tempo em que todos estiveram sumidos na pedra da alma, percebe-se
que Natasha está deprimida e que sentiu mais que todos, ou tanto quanto, a
perda da população. Seu “sacrifício” me soou mais como um suicídio. Se bem que
o Gavião não estaria em condições diferentes dela. Uma alma era pedida como
resgate da pedra e só sinto que os roteiristas optaram pela mulher. Num momento
de tanta conscientização pela importância feminina isso ecoa como algo meio
rude. Contudo, no âmbito artístico, o drama estava mais para o lado de Natasha,
se perdêssemos o Gavião não sentiríamos tanto. É uma morte que, pelo menos em
mim, realmente fez sofrer. Percebam que não estou querendo afirmar que foi
certo ou errado, no momento só faço conjecturas. Como disse o filme é muito bom
por ser o fim de uma saga.
A outra morte,
Stark. Afff! Narcisismo ou burrice? Uma mescla dos dois? Era evidente que ele
sendo humano não aguentaria o fluxo de poder que as jóias produziriam. Foram
até que generosos, pois ele não explodiu em partículas de carne moída
ressecada. Viram como ficou ao braço do Hulk? Mano, era o braço do Hulk! Poucos
personagens do filme não sofreriam algum dano com a manopla do poder. Havia personagens mais poderosos que o Tony. E era só ele levar a luva dourada
para esses personagens. Contudo temos aqui um alter ego dos americanos, lembro
que o outro é o Capitão América, e esse ego inflado americano não deixaria
outra pessoa fazer o serviço. Lembramos que Thor é “estrangeiro”, Hulk já não
tinha dado certo, mataram a Viúva Negra antes, o Gavião, tão útil que para
impor um respeito e fúria faz um corte de cabelo “rebelde” e sai matando
“bandidos”, Pantera Negra, estrangeiro e negro, Dr. Estranho, apesar de ser a
versão mística de Stark, sabe que não pode, ele vê as coisas de forma mais
claras, e a Capitã, era só uma mulher que surgiu com um filme nos quarenta e
cinco minutos do segundo tempo. Stark era o "necessário". Mesmo ele tento poder,
pela tecnologia obviamente, de conseguir chegar até outro personagem mais
poderoso. O problema não foi o Stark se “sacrificar”. O problema que
não foi um sacrifício, como disse foi uma burrice com narcisismo que o
sentimento americano possui e transborda em seus filmes, é a ideologia que
falei acima. Sei que não dá para tirar isso dos roteiristas. E o peso de se
fazer um filme desses, a cobrança é tamanha, os contratos que vencem, os que
estavam renovados, os cachês altos, e tudo foram determinantes para
definir quem morria. E mais certo é que não dá para levar os Vingadores adiante,
pois os atores estão envelhecendo e ficando caros. Eu acredito em vários
reboots e que novas personificações de heróis estão por vir.
Outro ponto
que me chamou a atenção foi o “embarangamento” do Thor. Ele perdeu o apelo
sexual que seu corpo escultural e beleza causavam e muita gente não gostou. Perceba
que só colocaram uma prótese no peito e barriga do ator e deixaram a barba um
pouco mais longa e isso foi o suficiente para acharem ele feio. O ator
continuou com as mesmas feições e toda a essência do personagem estava lá. Mas sem
o tanquinho ele perde a importância? Claro que não! Ele continuou fazendo o que
sempre fazia e ainda nos deu uma complexidade maior ao personagem, ele estava
claramente em um quadro depressivo em que a pessoa se cerca de recursos “alegres”
para amortecer sua condição, contudo a depressão está lá, o transformando em
zumbi social, que não sai de casa e nem se preocupa com sua aparência. E ele era um deus, imagina o quão complicado é um deus em depressão. Nebulosa
foi a que mais cresceu nesse fim, ela, mesmo que “desumanizada” (sei que ela nunca
foi um personagem humano, só uma expressão) consegue promover um avanço que
fica evidente em suas poucas aparições. Um robô de guerra que “humanizado” se
torna uma peça-chave para a história, mesmo que seja de uma forma invertida.
Jesus! O que
fizeram com o Hulk!!??? O transformaram num macho hetero desconstruidão!!!! Só faltou a barba e chavões do tipo "Crossfit é o melhor exercício!", "Sou ser humano!", "Não sou de esquerda nem de direita, sou do Brasil!". Foi
de cagar, apesar de promover uma certa graça pelo absurdo da situação. O Hulk
morreu nesse episódio final. Apesar de ser um personagem insólito que nunca
sabiam direito o que fazer com ele. Oscilavam em deixar o Banner aparecer e
tirar os poderes ou a coragem do Hulk. Poder demais para um personagem “abobam”
os roteiristas nos filmes.
Na verdade vários personagens poderosos foram
anulados no filme de forma proposital para dar mais destaque a personagens
menos poderosos. Vemos que a Capitã Marvel era colocada só em “missões” fora da
terra. E quando o perigo está em curso ela sempre está fazendo algo que a
impede de participar do desenlace final, contudo o que faz é algo imprescindível
moralmente, ser escada a outros personagens machos. Assim como o Dr. Estranho
que ficou preso contendo a água de uma represa e a Feiticeira Escarlate que tem
seu grande momento de luta com Thanos, que apela de uma forma aterradora para não
morrer e novamente a Feiticeira é suspensa pelo roteiro.
Claro que
poderia falar infinitamente de várias nuances ideológicas de “Vingadores –
Ultimato”. E nem vou comentar da “aposentadoria” do Capitão que o fez
envelhecer absurdamente, realmente o casamento acaba com uma pessoa. Temos uma cena
que reúne todas as mulheres para enfrentar Thanos, uma metade de de um quarto de
um biscoito para dar um cala-boca nas feministas. No geral estamos cheios de “cala-bocas”
em “Vingadores – Ultimato”. E com isso, pequenas migalhas, conseguimos nos
satisfazer e aceitar o todo que ainda continua bem tradicional, colocando os
personagens homens como principais para satisfazer a maioria que não gosta de
ter mulheres como salvadoras do universo.
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