Comer, Rezar, Amar
Sabe aquele filme bobo, leve, sem
grandes atrativos, a não ser uma atriz famosa e que é baseado supostamente numa
história real?
“Comer, Rezar, Amar” é esse filme em
que Julia Roberts faz Elizabeth Gilbert uma escritora que entra em crise no
momento que sua vida parece engrenar para a felicidade. Casada com o homem de
seus sonhos, percebe que não é bem aquilo que imaginou. Separa-se e entra numa
disputa rancorosa com o ex pelos bens que adquiriram juntos. Num outro momento
começa um relacionamento com um professor de yoga mais jovem e que também não
dá certo. Tudo desmorona. Sem perspectivas decide fazer uma viagem de
descoberta de si mesma. Vai se empanturrar deliciosamente na Itália. Depois
rezar na causticante Índia e por fim, na paradisíaca Bali, descobre o amor
depois de alguns contratempos. E o interessante é que esse amor é um
brasileiro, interpretado pelo espanhol Javier Bardem.
Até aí tudo bem?
Claro que não. Esse filme estreou num
dos piores momentos de minha vidinha pregressa. Hoje vejo que tive outros
piores momentos, mas esse foi um onde tive uma ilusão que minha vida no
sacerdócio daria certo. Ali meus anseios foram definitivamente assassinados
pela mesquinharia de um bispo e pela tentativa desesperada de um padre salvar o
namoradinho da forca. Sem entrar em grandes detalhes, eu estava a serviço de
outra diocese, lá no estado do Rio de Janeiro. E havia um seminarista que
brigava com todo mundo. E ele era namoradinho do padre G. que obviamente queria
ele ordenado. E houve uma reunião, no período de férias de julho, esse padre
simplesmente levantou poeira para o meu lado para acobertar o outro. Só para ter
uma noção, eu andava bem na minha por lá.
Ficava de boa, e fazia tudo o que me
mandavam fazer. Esse rapaz entrava em tretas com todo mundo que lhe questionava
alguns tipos de comportamentos. Ele
tinha, poucas semanas antes, brigado feio com outro padre que ele dependia de
aval para ir adiante. Foi extremamente grosso e ofensivo. E no dia da reunião,
não tendo eu quem me defendesse, e isso ficou entalado na minha garganta, pois
não só o bispo, mas outros padres estavam lá que me conheciam se omitiram
descaradamente, o G. falou mal de mim e disse que eu seria uma incógnita,
ninguém sabia nada a meu respeito. Eu estava lá há dois anos e esse mesmo padre
deveria me acompanhar, e adivinhe, ele nunca ia conversar comigo. Tentava
sempre conversar com ele, que propositalmente, me evitava. Enfim, outra hora em
outro blog conto isso de forma mais adequada.
O final dessa história foi que recebi
um telefonema no meio de minhas férias do bispo me desligando do seminário por
motivo nenhum. Só alegou que o conselho simplesmente tinha decidido e pronto.
Sem explicações. Tive que sair ligando para quem eu conhecia para ter uma noção
do que houve. E muito puto eu fiquei. Porém como em todas as coisas internas da
Igreja o segredo tem que permanecer. E que se foda quem não está dentro dela.
Nessas
férias tinha ido a Uberaba a convite de um amigo, que é padre, e tinha sido
expulso comigo na primeira vez, a história que contei na resenha de “Kill Bill
Vol. 1”. Ele me deu um bom apoio, pois, por incrível que pareça, eu fiquei
dilacerado. Se a primeira vez eu estava meio confuso se queria ou não seguir o
sacerdócio, desta vez eu tinha certeza. E, na medida do meu possível fiz tudo o
que pude para caminhar certo e conquistar o grande prêmio de ser aceito na
Igreja católica. Yeeehh.
Minha tristeza foi enorme. E num dia
daqueles eu decidi ir ao cinema e o filme era “Comer, Rezar, Amar”. Eu chorei
copiosamente o tempo todo da segunda parte em diante. Chorei... Chorei...
Chorei... Não sei o que me pegou
direito, talvez a busca por uma nova vida que a protagonista travou e minha
nova realidade de ter sido expulso injustamente, mais uma vez, tenha sido
demais. Sei que saí com os olhos inchados do cinema e tentei me levantar.
Reformular meu novo rumo na vida e criar uma nova estratégia para conseguir
viver. E infelizmente isso me impulsionou mais uma vez para uma terceira
tentativa frustrada com a Igreja. Que conto com o próximo filme que marcou
minha vida.
“Comer, Rezar, Amar” pode não ser o
melhor filme do mundo, contudo tem uma mensagem positiva: “siga seus sonhos”.
Ele valeu para eu conseguir descarregar toda a amargura que senti naquela fase.
Depois de uns meses descobri que minha mãe tinha o livro em sua casa e peguei-o
para ler. Claro que o filme é diferente, mas a mensagem é a mesma. A linguagem
literária é diversa da cinematográfica, estava lá a esperança em mudar para uma
vida melhor de Liz Gilbert. Se ela pode, eu deveria tentar também. Eu até agora, sete anos depois, ainda não
consegui...
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