sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Crônicas de uma pessoa linda, louca e desvairada em São Paulo

O cotidiano sempre vindo... 







    Minha saúde mental nunca foi tratada. Eu fui levando, de um trauma a outro, despercebendo que eu precisava de ajuda. E fiquei anos empurrando com a barriga o que deveria ter tratado de frente. Minha inteligência me blindou com a arrogância de me achar autossuficiente e não procurar ajuda. Como procurar ajuda se não tenho problema? E  o problema cobrando seu preço, em mim o saldo negativo vinha de três em três anos, mais ou menos. Eu, iniciava uma jornada, começava de novo, construindo um jeito de ser "totalmente" novo, e dessa vez "vou ser assim" pois eu "preciso" de uma vida nova. E, o cotidiano, sempre vindo, massacrando com sua repetitividade que era assimilada por mim como insuportável. O, clichê, era evitado com toda minha ânsia de ser diferente do gado manipulado que não tem noção do que lhe acontece. E o cotidiano, sempre vindo, massacrando aquela vontade de ser diferente, de não estabelecer parâmetros repetitivos e seguros, querendo inovar, seguindo caminhos diferentes. E o cotidiano vindo, massacrando aquela alegria de viver, aquela força que tentava ir contra a corrente, nadar era fácil mas o cotidiano vindo massacrando como uma onda avassaladora de situações que começam a acumular: uma roupa que não foi lavada, uma semana que não deu para fazer a faxina em casa, e o cotidiano no trabalho cobrando metas, cobrando datas, cobrando atitudes. Metas, datas, planilhas, burocracias sempre fáceis de fazer, por mais inúteis e desnecessárias, uma sentada em frente ao computador sempre resolvia. Contudo o cotidiano sempre vindo, massacrando meus pensamentos e desequilibrando minha alegria de viver refletindo nas minhas atitudes. Antes assertivas, as atitudes começam ser agressivas. E atitudes agressivas ferem os outros, ferem e transformam o ambiente de trabalho em um lugar hostil. E hostilidade a alguém que já se manifesta através de agressividade gera mais agressividade. E vem a primeira advertência, a segunda, condutas erradas não devem continuar. E, ante que se consiga refletir sobre o que é "essa conduta errada" o instinto de autopreservação te deixa mais agressivo para se proteger. Contudo não estamos numa selva... E o cotidiano, sempre vindo, massacrando alguém que se sente acuado, e que não faz ideia que está num surto de alguma coisa que tem dentro de si que o impulsiona a sobreviver como se tudo fosse perigoso e ninguém fosse de confiança. E, mais uma advertência pois você falou palavrão ou porque quis quebrar algo. E você sempre falou palavrão e nunca foi problema e nunca quis quebrar nada mas a coisa pode ter caído ou não estava funcionando e você deu um tapa com o senso comum de quem dá um tapa para a imagem voltar nas antigas televisões de tubo... e voltava. Contudo, sua agressividade já não é vista com bons olhos, é vista como mal comportamento que deve ser rechaçado. E tome mais uma advertência. Até que o cotidiano vindo, massacrando todos os dias te deixa doente na alma. E, como ninguém vê feridas na alma, somos só alguém intratável. Alguém que não merece estar na empresa que tentou tanto que mudasse o comportamento, que fosse dócil. Melhor mandar embora. Dá menos trabalho nunca mais lidar com essa pessoa que o cotidiano veio, massacrou, e deixou lá quebrado, destruído. Mas ninguém vê pois é por dentro. E, sozinho, sem amparo, desempregado, não dá tempo de ficar "com pena de si mesmo". Vamos recomeçar. Ser uma nova pessoa, num novo emprego, com atitudes novas, mas o cotidiano é o mesmo que virá massacrar de novo, e de novo, e de novo... 

    


vinimotta2012@gmail.com

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