MIB: Homens de Preto Internacional
É
falho acreditar que qualquer coisa que venha da produção humana ocorra sem uma
ideologia por trás. Isso não é papo de esquerdista. É um fato. Somos frutos do
meio em que vivemos e reproduzimos o que nossa cultura permite. E por vezes
vejo como um roteiro é fruto de um condicionamento cultural impregnado nos seus
idealizadores e realizadores. Estou falando isso, pois, “Homens de Preto -
Internacional” é uma dessas produções culturais, óbvio. O próprio título, um
tanto machista, “exclui” a possibilidade de mulheres estarem na corporação. Contudo
os mesmos roteiristas condicionados, por uma sensibilidade hodierna, acabam por
dar pitadas de desconstrução do que é estabelecido e isso é criticado de uma
forma bem divertida num dos diálogos. No primeiro filme da franquia, lá nos
anos de 1990 já vimos, tudo bem que somente ao final, a agente “L” (Linda
Firentino) tomar seu lugar ao lado de “J” (Will Smith). Mas o peso cultural, a
ideologia, como alguns chamam, ainda arrasta não só a asa como o corpo inteiro
da ave para o lado dos homens.
Em
“Homens de Preto – Internacional” temos o típico “predador” americano como
personagem principal, “H” é bonito, bem sucedido e reconhecido no trabalho,
tudo que faz dá certo no final, tem experiência, principalmente sexual, até
alienígena ele “traça” e converge tudo isso em um charme irresistível. Atitude
é tudo, é o que vende. Uma atitude masculina com certeza. Contudo, e aí temos
uma pequena quebra de paradigma, todo esse jeito de ser é que o coloca nos
problemas que surgem. Sua arrogância em não perceber o ambiente que está acaba
por fazer um amigo morrer. E, em uma posição que precisa ser enaltecida está
“M”, uma candidata a se tornar uma agente “MiB” que foi atrás do posto e não
recrutada como é costume do departamento. Contudo a escapadela da ideologia vigente
retorna aos trilhos.
O homem sempre está à frente fazendo e acontecendo, sendo
atrapalhado, inconsequente e charmoso e até perigoso, tudo é perdoado até por
seus superiores. Simbolicamente, um paladino é imposto a “M”, um alienígena
diminuto que se coloca a seu serviço a fazendo sua rainha, mesmo que fique
clara sua inabilidade em proteger sua rainha anterior. É como se a mensagem
passada fosse “apesar de você ser durona por ser mulher você precisa de um
protetor”. E o pior de tudo é que fica evidente que essa garota inocente e
determinada vai se apaixonar pelo safadão experiente que coleciona
ex-namoradas.
Sem
fazer maiores análises para não correr o risco de dar algum spoiler, vejo
“MiB-Internacioal” como o típico filme que enaltece o homem, mesmo atrapalhado
e com uma ética em relação a mulheres bem questionável, como o herói fodão que
merece ser imitado. Contudo pequenas pitadas de valorização feminina são
garantidas, pois o público exige isso, pelo menos uma parte desse público. Sim,
esse mesmo público ainda dita algumas regras e temos marmanjos que se sentem
intimidados com personagens femininas fortes. Por isso “M” é “pura” aos olhos
menos treinados.
Por trás é uma personagem forte e destemida que sabe o que
quer e como chegar até lá e faz valer o filme. Se não fosse sua personagem as
coisas não se resolveriam de forma adequada e convincente. Garanto que muita
gente vai assistir ao filme mais pelo Chris Hemsworth/Thor do que pela ótima
Tessa Thompson que foi a Valkyrie em Thor – Ragnarok. Os dois fazem uma boa
dobradinha, minha predileção fica para Thompson. Hemsworth sem barba e sem
músculos fica bem sem graça. É impressão minha ou ele está muito magro nesse
filme? Nem parece o bombadão de antes.
Apesar
do filme não ter grandes inovações ele garante diversão. Pelo jeito é o que os
filmes estão tentando fazer, principalmente os de ação/aventura que pecam pelas
histórias previsíveis, se agarrando ao público mais novo sem muito senso
crítico e vontade de assistir aos filmes anteriores. Um dia desses ouvi um
carinha dizer que um filme de 2010 era velho. Imagino se um dia ele conseguirá
assistir a um filme de 1950. Eu espero e desejo que sim. E os “cinéfilos” que só possuem como
referência mais antiga “Laranja Mecânica” e nenhum outro mais? Bom, estou
envergando para outros lados.
“Homens
de Preto – Internacional” vai divertir quem gosta do gênero, tem ação e humor
suficientes para isso. Contudo se estiver num estágio mais avançado de senso
crítico realmente assista outra coisa, esse vai te aborrecer.
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