Black Mirror: Bandersnatch
Quando
trabalhei numa locadora, um sistema antiquado onde se alugavam fitas de VHS de
filmes para se assistir em casa em aparelhos bem arcaicos numa televisão de
tubo, em meados dos anos de 1990, tive contato, através da banca de revistas
que havia lá, com a revista Dragon Brasil, e depois Dragão Brasil. Era sobre
RPGs, uma espécie de jogo de complexa desenvoltura com dados que podem ter 3954
faces. Quem assistiu “Strang things” vai ver o jogo apresentado no começo. Em
uma edição especial que veio com o título “Aventura solo”, que comprei
evidentemente, descobri o que seria um jogo interativo. Estava no período
anterior a internet e jogos eletrônicos longe do alcance, a não ser que você
fosse um pequeno burguês abastado ou freqüentasse os fliperamas fedorentos que
existiam. Essa Aventura solo consistia apenas em uma história fracionada, sem
uma ordem aparente, que se lia e pedia para tomar uma decisão. Se desejasse
combater o cavaleiro que claramente possuía armas e destreza melhores que a sua
deveria ir para o parágrafo número x, se tivesse bom senso e noção do perigo e
quisesse fugir berrando feito uma garotinha de três anos que acabou de ver o
capeta, o parágrafo y. Cada escolha te levava a uma morte dolorosa e desastrosa
ou ainda para um possível fim glorioso. Eu, lógico que roubei no que pude para
chegar ao fim glorioso.
Todo
esse parágrafo para explicar a ideia por trás de “Black Mirror: Bandersnatch”.
Não é algo inovador em si, apenas pelo fato de aplicar essa ideia a uma
plataforma de streaming. E isso é inovador. Contudo o que achei foi um pouco
claustrofóbico. Não é uma história ruim, é uma história relativamente básica,
como muitos filmes por aí. Contudo é o formato que mais instigaria. Você é
chamado a tomar umas decisões, aparentemente aleatórias, durante a execução do
filme. Porém, não há reais escolhas, os finais são limitados, o que é bem
compreensível, acaba sendo entre duas opções apenas. Segundo li são cinco
possibilidades de final mais suas variações. Eu não assisti a série toda de “Black
mirror”, que a própria Netflix tem no catálogo, mas me pareceu, na minha pouca
noção. que há alguns “easter eggs”, alusões colocadas propositalmente entre uma
cena e outra ou até mesmo no cenário. Porém não posso afirmar categoricamente.
Conhecendo “Black mirror” tudo é possível. Apesar de achar claustrofóbico,
parece que quanto mais se escolhe mais volta ao começo, meio ou outra parte
qualquer do filme, e acaba sendo divertida essa pseudointeratividade. Fica
claro quando se presta atenção no filme que não temos real escolha e somos
levados ao que o autor deseja. É interessante que em uma das minhas escolhas,
bem estúpidas, a Netflix faz uma brincadeira tão bem colocada que o absurdo
fica engraçado e vemos como “fazer o que parece ser mais legal” pode estragar
uma história. O filme o tempo todo brinca com a situação de ser ou não um filme
ou realidade e isso dá mais graça e deixa o interesse mais aguçado.
Como
experiência nova a história vale a tentativa. Mas imagino que muitos ficarão
perdidos, ou como vi comentários no Facebook, “bugados” com a história. Por
haver várias possibilidades de escolha nem sempre a história é linear. E quando
se pensa que acabou uma nova escolha aparece e te leva para o começo para
tentar tudo de novo. Se tem a memória da Dori, de “Procurando Nemo” esse filme
se torna uma tortura. Caso seja “normal” divirta-se.
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