A Cabana - Deus é Mãe
Há
dois anos tentei ler o livro e não consegui. Achei chato. Por certo que Willian
P. Young tentou um nicho de mercado bem prolífico: o cristão. Não que o livro
assuma uma denominação, ele tenta ser universal para fisgar desde católicos até
os neopentecostais. Algumas coisas fogem da ortodoxia mas passa tranquilo por
“liberdade poética”.
O
filme segue os passos pedagógicos do livro, pelo menos até a parte que li. Com
uma ou outra alteração. E vemos um desfile de imagens monótonas e talhadas para
assolar o povo que acha lindo uma estética batida. Basicamente a história
acompanha o patriarca da família Phillips que acaba por perder a filha mais
caçula de forma brutal. Ele que já não nutria grande simpatia pela religião
acaba por se afastar de vez de Deus e cria um abismo entre si e o restante da
família.
Um
dia recebe uma carta que o convida a ir até “a cabana”, local onde acharam as
roupas de sua filha, e jamais o corpo. E lá vai ele. E lá acontece o encontro
com a Santíssima Trindade através de uma maternal presença representada pela
atriz oscarizada Octavia Spencer. Numa cena, o Papai do Céu fala que se
apresenta como mulher pois o Mack (Sam Worthington) sempre teve uma visão negativa de um pai “homem”. Jesus é interpretado
pelo ator israelense Aviv Alush e o Espírito Santo a atriz japonesa Sumire
Matsubara. Até mesmo a versão masculina de Deus toma o corpo do veterano ator e
indígena Graham Greene.

É interessante o
uso de diversas etnias para mostrar a Trindade. Pai, e Filho e Espírito Santo
passam um tempo batendo papo com Mack tentando colocar em sua cabeça dura o
quanto Deus Pai é bom e ele está equivocado em achar que a culpa de sua filha
ter sido brutalmente assassinada ser dele. Até a Sabedoria Divina, que no
Antigo Testamente é praticamente uma personificação alheia a Deus, apesar de
dependente, aparece no corpo da brasileira Alice Braga. Tudo faz com que Mack
repense sua relação com Deus e reate seu amor ao criador.

Esse
livro, e em consequência o filme, vai de encontro com velhos questionamentos da
humanidade enquanto a suposta ambiguidade na ação divina. Como o filme toma o
contexto cultural americano, fortemente influenciado pelo protestantismo vemos
que tudo é colocado como uma visão relativamente nova. Até parece que é tudo
algo bolado pelo autor. Porém, se o catolicismo pecou por esconder os
ensinamentos o protestantismo peca por não estudar muito a história. Tudo que é
retratado no filme, pelo filtro modernoso que vemos, já foi abordada à exaustão
pelos teólogos católicos desde os primeiros séculos: Dionísio de Corinto,
Dionísio de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, Agostinho, Abelardo, Anselmo,
Guilherme de Ockan, Tomás de Aquino até os contemporâneos, sejam os católicos,
sejam os protestantes.
Então
o questionamento do filme é antigo e a busca pela resposta tão antiga quanto. E
já aviso que é estabelecido um consenso sobre o tema há pelo menos uns 1800
anos de história cristã. Não ache que “A Cabana” descobre o segredo mais
imperscrutável do universo pois não descobre. Só faz colocar de forma simples o
que os teólogos já o fizeram e continuam fazendo.
O
filme no geral pode emocionar quem não tiver um coração já calejado pelas
hipocrisias cristãs. Infelizmente é o meu caso. Me entediei aos 20 minutos de
filme. Claro que quem nunca ouviu sequer a menção “Deus é mãe!” achará tudo muito inusitado. E a
propósito, o primeiro a citar essa ideia de forma oficial ao mundo foi o papa
João Paulo I... Coitado, morreu com apenas 33 dias de pontificado...
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