Dois Dias, Uma Noite - Magnifique Marion
Em 2008 ela
arrebatou o público com uma interpretação “mediúnica”, como ouvi o José Wilker
comentar, da cantora ícone francesa Edith Piaf. Foi soberba. Não teve quem não
a reconhecesse como “a” melhor daquele ano. Cheia de trejeitos e singularidades
da diva. Era possível dizer que foi fácil plasmar essa interpretação por haver
um material por trás muito “manejável”. E o que dizer sobre uma pessoa comum,
sem aparentes trejeitos, sucesso, atrativos, relevância? Alguém simplesmente
bem normal???? Seria possível tirar algo para plasmar uma personagem
interessante? Nas mãos de Marion sim, seria possível, e foi!!!!.
A história é tão
banal que nos choca. Principalmente se levarmos em conta que tudo foi baseado
em fatos reais e ocorreu na Bélgica. Sim, na Bélgica e não no Brasil. Sandra, é
uma mulher fragilizada pela depressão que ao voltar ao trabalho descobre que
foi feita uma votação para seus colegas escolherem entre manter o seu emprego
ou, um grupo de mais 16 funcionários, receberem o bônus anual de Mil Euros.
Como Sandra não estava lá, houve uma facilidade em votar a favor do dinheiro e
esquecer quem era ou representava. Porém essa mulher não pode ficar sem
trabalhar, ela é pobre e sua renda complementa em muito no orçamento familiar.
Corre o risco de perder o apartamento e passar fome. E é nesse ponto que o
filme começa, ela vai atrás de todos que votaram contra ela para pedir que
repensem e abram mão do dinheiro a seu favor. E vemos todos os tipos de
atitudes. Uns arrependidos, uns egoístas, uns repensam de forma sensata outros
não. A jornada de Sandra não é para salvar a humanidade, ou para vencer na
vida. Sua luta é para ter o direito de viver dignamente com o suor de seu
trabalho. E o melhor do filme é que ele não cai no fácil, dividindo o grupo de
trabalhadores em bonzinhos ou malvadões. Ali ninguém é rico, todos dependem do
bônus para complementar algo em casa. Há sim os injustos, mas há muitos que
simplesmente precisam do dinheiro e ponto. É fácil ter um discurso altruísta
quando não se precisa se preocupar com a escola dos filhos, com a comida em
casa, com o aluguel... É muito fácil. Essas barreiras são enfrentadas por
Sandra que toma Xanax contra seu quadro depressivo, o que faz tudo ficar mais
insuportável.

Simplesmente é um
filme imperdível para quem gosta realmente de atuação. Os diretores Jean-Pierre
e Luc Dardene, irmãos, são ótimos porém pouco reconhecidos. Dão o tom certo
para a história e não caem no óbvio. Mas, e enfatizo esse “mas”, não é um filme
para qualquer um. É um filme europeu que pesa e pode desagradar aos que curtem
algo mais “pipoca”.
E sabe o que mais
surpreende ao nosso olhar brasileiro???? O quanto somos desprovidos!!!!!! É humilhante ver a pobreza dos belgas. Tudo
que Sandra tem é muito mais que muita gente considerada classe média no Brasil
possui. Todos os seus companheiros pobres moram em lugares que consideraríamos
ótimos lugares pela aparência. Bairros limpos, sem pichações sem sujeira nas
ruas. Os pobres da Bélgica são muito mais munidos que “os classe média”
daqui... É o que parece, é o que é... E nós ficamos com aquela cara de “ué”
assistindo o filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário