domingo, 15 de setembro de 2024

Série: Only murders in the building - Trio inusitado

 



 

    Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez formam uma mistura inusitada que eu me deliciei assistindo-os. Quando estreou eu não fiquei sabendo por apenas estar envolvido em outras coisas. E, do nada, pesquisando séries leves apareceu essa indicação. E fui conferir.

    A história é uma detetivesca clássica embrulhada num lindo pacote atual, mesclando a nova geração com a mais velha dando um espetáculo de entretenimento. Cheio de reviravoltas e subtramas e, se parar para pensar, o episódeo 7 “O garoto do apartamento 6b” é uma pequena joia esperimental. O referido garoto é surdo e o episódio inteiro vai em sua perspectiva sem oralidade nenhuma, vários momentos só se usa Libras.

    De forma resumida acompanhamos dois homens e uma garota se encontrando num elevador e dando início a uma investigação do assassinato de um morador que possui muito mais segredos que se possa imagina. E não é o único, o emaranhado de gente que o odeia é o mesmo que se degladia numa reunião do condomínio escondendo algo relevante ou não para a investigação. Eles são inspirados por seu podcast favorito de investigação policial  para iniciar uma investigação amadora culminando em iniciar o próprio podcast.

    A série é filmada no Edifício Belnord em Nova York, mas na ficção tem o nome de Arconia, possui um apartamento mais deslumbrante que o outro, quem me dera poder morar num desses um dia. Contudo, a morte de Tim Kono (Julian Cihi) não é o único crime que vai se desvelar na hitória. Entre um ator de uma série famosa dos anos de 1990, com uma certa fobia social, e um diretor falido, e sem noção, temos uma garota que não só está atrás de um assassino de um estranho como seus segredos vão deixar seus parceiros sempre em dúvidas de suas intenções. Mesmo que as piadas demorem a desenrolar é gostosinho de assistir, mas não vá assanhado pensado em um caso mirabolantemente profundo. É raso, feito para diversão e é aí que está a graça. Não é pretensioso e sim sincero com sua proposta.

    Os três atores principais acertaram a mão e também são produtores, o que ajuda muito. Steve Martin também assina o roteiro em parceria com outros. E o casaco amarelo que Selena Gomez usa na primeira aparição? É de querer um igual para o próximo inverno se não morrermos assados com esssa onda de calor.

    Os coadjuvantes estão um primor também. É hilário o Sting virar um forte suspeito na cabeça desalinha de Charles (Martin) e Oliver (Short) e percebam a coincidência dos sobrenomes dos dois colocados assim, entre parêntesis, formam o nome completo do segundo. Ah! Besteira de quem gosta de brincar com as palavras e acaba percebendo esse tipo de coisa.


Contribuam com o escritor que se esmera deixando passar um monte de erros de digitação, gramática, concordânica  e ortográficos (fora a opinião por vezes desatinadas) Rsrs!

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sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Os fantasmas ainda se divertem: Beetlejuice, Beetlejuice


 

    Eu tinha uma aversão ao Michael Keaton gratuita. E eu não sabia o motivo. E como estou na terapia revisito várias memórias, e como minha cabeça se empolga eu continuo numa autoanálise fora da sessão. E quando fiquei sabendo que haveria uma continuação eu desencadeei gatilhos/memórias de quando eu assisti o primeiro filme com meus 12-13 anos. E sabe quando ouvimos algum ator brasileiro relatando que alguém na rua acabou hostilizando-o pois a pessoa confunde o ator com o personagem? Foi isso, Beetlejuice me causou uma má impressão tão grande que eu canalizei na figura do ator. Esse personagem eu achei insuportável de chato, no bom sentido, entendam, ou seja, ele entregava o que era esperado, um vilão louco e inconveniente que dava a esquisitice necessária ao universo fantasmagórico que apresentava. Eu lembro também que por não estar acostumado com a estética do Tim Burton eu estranhei demais tudo, os efeitos especiais, figurino, cenário e música. Tudo era muito estranho e diferente do que estava acostumado. E não percebia que estava, entregando a idade, vendo o estilo próprio desse diretor se iniciar. E hoje, eu me “reconciliei” com o Michael Keaton e ele é sem dúvidas a alma do personagem. E Tim Burton um dos diretores que gosto muito. Lançou algo eu nem cogito, só vou assistir. E quantos personagens legais ele nos proporcionou.

    A sacada da continuidade parte de um certo lugar comum, que só é inicial, depois vemos o desenrolar do universo do diretor. Até a música “Banada Boat (Day-o)” que deu aquela cena clássica da dança em volta da mesa de jantar com camarões virando mãos e pegando no rosto de todos os convidados foi revisitada de uma forma inusitada. A escultura que parecia uma espécie de escorpião que toma vida também aparece entre outras referências ao filme anterior. Só quem não aparece no filme é o Jeffrey Jones que foi preso por posse de pornografia infantil e tudo que se desmembra disso. O caso é um pouco cheio de coisa, só pesquisar quem que acha fácil. E como Hollywood é hipócrita, se não causa comoção pública não é problema, no caso dele foi e não aparece contudo, seu personagem aparece com uma boa sacada. Eu até imaginei que ele tivesse partido ou estivesse com alguma debilidade física. Até pesquisar depois a respeito.

     Neste filme vemos Lydia (Winona Ryder) um tanto fragilizada e sem muita voz para se impor. Alguns acontecimentos a deixaram vulnerável e o Rory (Justin Toureaux) se aproxima tornando-se namorado, empresário e aproveitador . E sua filha Astrid (Jenna Ortega) faz a adolescente revoltada com as escolhas erradas da mãe e em muitos casos só sendo uma babaca, parece bem comum isso entre adolescentes americanos, só lá. E ambas retornam para a antiga casa onde Lydia tinha vivido suas desventuras com o Beetlejuice e o evitava há muitos anos... Aí é aquele show de horrores e reviravoltas do além-mundo que Burton tanto gosta e nós também se inicia. Acrescente-se uma inusitada vilã que explica um pouco da vida “em vida” do Beetlejuice, interpretada por uma picada Monica Bellucci e um detetive canastrão que foi um ator em vida vivido por Willen Dafoe. Uma boa participação do Denny DeVito no início e o Bob...

    O filme é nostálgico na medida certa e resgata o tipo de filme que usa efeitos práticos com o mínimo de CGI e isso é um mérito. Essa overdose de coisa ruim em fundo verde fabricado na tela do computador anda cansando.

 

 E como a vida não está fácil para ninguém, principalmente para quem quer viver de seus conteúdos, e eu só escrevo e não faço vídeos para Tik Tok ou Intagram (sou todo vergonhoso), mas infelizmente acho que vai ser o jeito reconsiderar... Enfim, quem quiser contribuir com qualquer valor, segue a chave pix, que é meu e-mail, pelo Banco Inter e está no meu nome Vinícius Motta:

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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Livro: Menino do Engenho - Como fazer um sinhôzinho



    Estou numa empreitada de ler todos os livros que estão em minha estante desde que me lembro por gente. E “Menino do Engenho” me assombra desde meus tenros anos. Não só pela edição ser horrorosa, com um menino com a cara laranja na capa, como a própria história de um garoto crescendo num engenho de cana nas primeiras décadas do século passado não me animava muito. Talvez o impacto foi importante quando lançou (1932) e nas décadas subsequentes para os mesmos letrados que juravam de pé junto que Capitu era traidora do pobre e inocente Bentinho: homens. Se em Dom Casmurro temos a crítica escancarada à masculinidade frágil da época do autor, aqui temos o saudosismo crônico do Rego, é usar assim não pega bem em nossa língua... 
    Do Rego, ou melhor, José Lins do Rego faz algo que com certeza foi bem inovador, contar as mesmórias de um jovem que perdeu a mãe em circunstâncias ainda existentes em nossos dias e foi morar no engenho de cana de açúcar de seu avô materno. O pai matou a mãe por ciúmes. E suas narrativas ponderam e ilustram os dias de glória dessa infância tão sabora perdida no passado. O livro acaba com a sensação que o maior problema do homem é deixar de ser criança. Eu acharia poético se esse mesmo argumento não justificasse atitudes não adequadas de marmarjos já maiores de idade que ainda se acham “garotões”. Homens feitos fazendo o que querem como moleques. Parece que a infância perdida lá no engenho é o ideal de vida de város brasileiros em sua fase adulta. E o mesmo saudosismo da obra do José Lins do Rego escutei da boca de vários homens barbados no alto de seus 22 anos, 26, 30, 40 e até alguns com mais de 60. E por mais que se divirtam e vivam na felicidade da vida de garotos sem preocupações essse vai ser o momento que ainda anseiam, a infância perdida para a idade adulta. 
    No livro Carlinhos é simplesmente um garoto que tem acesso e direito a ir por todos os caminhos do engenho, acesso as negras, descendentes ou escravos aforriados. O único lugar que não tem livre acesso é a dispensa que sua tia guarga com chave e punhos de ferro de quem é tirano. Pelo menos é isso que ele acha, afinal, como Bentinho, ele é a única testemunha que narra a sua própria história. Contudo não é um suceder de artes e estripulias de um garoto, ele é um herdeiro, um sinhôzinho e isso fica claro diante dos negros que seu bondozo avô ainda acolhe mesmo depois da alforria. Ou mesmo nas mazelas da região que não são sanadas ou tratadas para melhoria do bem comum. Tudo é mantido como tal para o benefício dos donos da casa grande. E assim ele vai conhecendo a vida pelo viés do homem branco privilegiado, conhece o amor inocente e logo em seguida é iniciado com uma das negras que prestam algum serviço lá. E para variar, sífilis. Nisso o livro é bem corajoso de expor a vitórias dos machos heterossexuais brasileiros, contudo é visto mais como um troféu da vitória do que algo preocupante. 

    No geral, por ser um texto de 1932 não temos expressões difíceis, a não ser as de origem regional, e não são poucas. Caso tenha crescido em algum rincão brasileiro talvez não ache difícil de entender o contexto, caso contrário, vai sofrer um pouco sim. Cada capítulo parece mais uma crônica independente uma da outra. Claro que há uma linha temporal que vai impulsionando para o crescimento do personagem principal. Li mesmo pelo motivo acima e pela necessidade de entender os nossos clássicos. Todo esse saudosismo fica meio vazio e sem sentido quanto temos por referência outro clássico, mas do cinema, “Conte comigo”, baseado numa obra do Stephan King que desenvolve melhor os personagens. Aqui só temos o Carlinhos que é raso feito um pires. Mas é disso que são feitos os sinhôzinhos... 



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Tudo em todo lugar ao mesmo tempo: a arte de fazer uma pessoa comum.



    Quando um filme relativamente simples, em sua feitura, mas com um ótimo roteiro, direção inspirada e atores que abraçam e entendem a essência de seus personagens se juntam nós temos o êxtase puro. 
     Em primeiro lugar, quando falo de “feitura simples” é que ele não se utiliza de recursos mirabolantes que um CGI proporciona. Aqui quem torna tudo possível é a montagem, que por sinal ganhou Oscar, é absurda o tanto de coisa que foi possível executar com uma boa montagem. E quem assistiu sabe que não é uma história simples. "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo" toma um assunto complexo por um víes que não seja o universo do MCU da Marvel, o multiverso. Para longe de heróis com super poderes vemos inúmeras possibilidades de pessoas simples que poderiam ser as possiblidades de qualquer um de nós. Contudo há sim poderes que acabam surgindo, mas nenhum lidado a um altruísmo idealizado das HQs. 
     Agora, o que mais deixa o filme interessante é que essa abordagem toda através de pessoas simples/comuns, que estão tendo um momento difícil. Como o filme brinca, a pior versão da Evelyn que pode dar certo. Ela é dona de uma lavanderia com problemas com a Receita Federal e em crise familiar, o marido tenta pedir o divórcio, e não consegue, e sua filha a vê como um objeto de outro mundo, o que de fato é, vinda de outro pais sua filha criada aos moldes dos EUA, o "american way of life" acaba gerando conflitos. E, esse conflito ecoa em todas as realidades possíveis. O melhor de tudo é que tanto Michelle Yeoh, que interpreta Evelyn, quanto Ke Huy Quan, que faz Waymond, seu marido acertam no tipo de personagem mais difícil que eu acho de se interpretar: a pessoa comum. Claro que eles multiplicam as interpretações nas variantes mas fazer o Waymond e a Evelyn que são pessoas plausíveis e possíveis sem nenhum atrativo a não ser a condição que surge depois e deixar eles com uma comparação glamurosa de outra variação deles de outro universo só para mostrar sua condição comum, e papel para poucos. Com tantos procedimentos invasivos e tanta busca de uma imagem perfeita, os atores, em menos grau, e as atrizes, expostas aos extremos às vezes, perdem uma essencia e tentam a todo custo escapar da idade. E Michelle e Ke Huy assumem suas inperfeições e rugas em função dos seus papéis e se despem da empáfia de alguns têm em se achar belos demais. Não há praticamente glamour em nenhum dos personagens, talvez somente na vilã do filme Jobu Tupaki, que propositalmente muda o tempo todo de roupa, todas espalhafatosas e fashionistas. Um outro exemplo de despir de sua vaidade para que o personagem fosse pequeno é a surpreendente Jemie Lee Curtis, sempre uma figura emblemática e vaidosa em muitos de seus filmes assume uma bela pancinha que insiste em sair da calça e um cabelo com o corte tão feio e mal cuidadeo que eu diria não existir se não tivesse visto com os próprios olhos várias versões dele em várias mulheres por aí. Não é à toa que esse trio de ouro levou todos os prêmios possíveis por onde passou. E mais que merecido, interpretam com autenticidade mesmo o filme descanbando muitas vezes para o pastelão. 
     Complexo, mas fácil de entender, e por isso delicioso "Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo" sai da mesmice hollywoodiana previsível dando um frescor ao cançasso que muitos filmes considerados “ótimos”, mas que são um copia/cola, nos causam. Elenco afiado e história interessante e filosófica questiona muita coisa, mesmo que através da compreensão que tudo é uma rosquinha.




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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Oppenheimer - Mescla de Prometeu e Otelo



    Oppenheimer - Mescla de Prometeu e Otelo Sim, estou muito atrasado com os filmes. Mas, nesses últimos meses tenho tentado colocar em dia tudo que não tinha assistido, de Barbie a Deadpool e Wolverine. E, retomando o blog, tento resenhar todos. E aos desavisados também consta no blog outros “manuscritos” de imperfeição literária que tento rascunhar. 
     Os filmes do Christopher Nolan me dão um pouco de preguiça num primeiro momento. Ao contrário do Guy Ritchie, que são mais crus, os filmes de Nolan retratam o mesmo clube do Bolinha, onde meninas não entram, só que com maior habilidade artística e técnica. Muitos falam das “firulas” que este diretor e roteirista usa para desenrolar, ou enrolar, suas produções. Contudo, superada a preguiça inicial, e decidindo por um de seus filmes consigo ser envolvido e entrar na história que ele propõe. E isso é o que mais ando buscando ultimamente, a capacidade de me desligar da realidade diante de uma história bem contada. E por mais mirabolante que seu roteiros sejam, dando uma volta longa ou mesmo como seus personagens masculinos e seus discursos inflamados desvinculados da realidade com o universo feminino ele chega lá. Admito que não assisti muita coisa dele pois aquela preguiça de cima não é fácil de vencer. Oppenheimer eu tive essa sensação, ouvi o burburinho em torno dele, e não fui assistir, li o que se falava, e não fui assistir, soube do rodo no Oscar, e não fui asssistir... Até que Cillian Murphy e seus memes e vídeos me chamaram a atenção. É incrível como algo tão aleatório, os memes, são capazes de produzir uma curiosidade. Enquanto ele era aclamado e exacerbado como um gênio na atuação suas caras e bocas entre indiferente, enfadado e “me tirem daqui’ me deixou realmente curioso. Ele realmente é um recluso e age como tal, a discrição é tanta que sua esposa ficou bem camuflada diante toda a badalação. Aí, depois de uma assinatura de um streaming que não vou falar o nome, afinal não sou patrocinado, eu, depois de assistir outras dez produções que tinha mais curiosidade, assisti Oppenheimer. 
     É entre um Prometeu, personagem mitológico que “rouba” o fogo dos Deuses entregando aos humanos, e Otelo, personagem shakespeareano que incitado por um colega invejoso, Iago, cai em desgraça que vejo esse filme. Se como Prometeu, Oppenheimer realizou um feito de consequências assustadoras para o futuro da humanidade, como Otelo ele teve um detrator que jogou todos contra ele fazendo sua carreira implodir com a mesma força que suas bombas atômicas. Cillian Murphy entrega um Oppenheimer que não gera simpatia contudo, apesar de toda sua contradição, uma certa admiração. Ele é envolvido, e se envolve, num jogo de gato e rato perpetrado pelo seu aparente colaborador Lewis Strauss que fica conhecido na história por “o inimigo da bomba atômica” que acaba mostrando mais inveja e ciúmes do que capacidade, assim como Iago. E é incrível, depois de tantos anos como Tony Stark, símbolo de genialidade e sucesso, que Robert Downey Jr. consiga o feito de brilhar no papel oposto. Vez ou outra vejo o Tony num pulinho aqui e ali no filme mas no restante é puro suco de rancor e inveja disfarçada numa aparência amável e calma. Até as máscaras caírem. O embate da disputa de atuação de Murphy e Downey Jr. causou um estrondo tão sonoro quanto o filme assistido nas salas dos cinemas e quem ganhou fomos nós, meros mortais que assitimos por três horas tudo isso com a pipoca na mão, no meu caso foi outra coisa pois não gosto de pipoca. 
     Claro que a interpretação dos dois foi fenomental, contudo o elenco está de parabéns. Não teve um que eu não tenha admirado. Mesmo os terciários estavam bem. Teve um momento que estava intrigado com o Rami Malek que só coletava assinaturas e derrubava a prancheta até que no fim o roteiro faz ele mostrar para que veio, afinal é um ganhador de Oscar que estava praticamente como figurante até então. Nolan dirige muito bem e escreve também, por mais que nem sempre eu me empolgue com seus filmes ele é virtuoso e não tem como esquecer várias obras suas. O que ele fez com um herói com origens estranhas, que pegua mancebo para “criar” e corre atrás de um palhaço pela noite foi bem interessante. Contudo, no filme as mulheres são quase desnecessárias. Não que sejam realmente na história. Parece que Florence Pug foi colocada para mostrar que Oppenheimer se interessava mesmo por mulher, dentro deste roteiro. E Emily Blunt como uma esposa troféu? Alcoólatra que não cuida direito dos filhos? Defensora do marido e irritada? Testemunha da grandesa do marido? Ficou tudo meio perdido e com relevância reduzida. Me espantei com um Josh Peck, mais velho e sério aparecendo de forma competente, com o personagem do Matt Damon como um suggar Daddy bigodudo, digo, um militar sério e enérgico e o Gary Oldman que faz um cínico Truman. Mas sério, são tantos atores mandando bem que fica difícil escrever sobre todos. O roteiro arremata bem história e sensibilidade artística e o resultado é este, um ótimo material para a reafirmação do patriarcado, se cair nas mãos erradas dos coachs como exemplo de filme para seus adeptos, para nós só arte. 







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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Resenha de Filme: Deadpool e Wolverine



    Deadpool & Wolverine

     Ah, fazia tanto tempo que não resenhava nenhum filme. Para quem leu os outros textos talvez entenda minha situação. 
     Desde o primeiro filme com o DeadPool, e não estou falando daquele horroroso desperdício de personagem que foi o “X-man Origens: Wolverine”, estou falando do "Deadpool" de 2016, me fisgou. Não sou conhecedor do universo das HQs, sempre foi um produto caro para mim, contudo quando surgia uma animação eu me empolgava e assistia. Então, no geral a “alma” de alguns personagens eu tive contato. Cheguei até ter um boneco articulado do X-man, por coincidência, Wolverine. Contudo, não conhecia o Deadpool até então. Muita coisa eu só fui saber depois com pesquisas aleatórias. E o que mais me chamou a atenção foi o incrível poder de ele saber que é um personagem e agir como tal quebrando a quarta parede. Quebrar a quarta parede é algo poderosamente dramático que bem executado eleva o nível do que está sendo interpretado ou apresentado. Um exemplo estúpendo é a série “Fleabag”. Caso erre a mão, desastre certo. E Deadpool acerta o tom desde o começo. 
     O mais incrível é saber que a Fox destruiu esse personagem de uma forma medonha e Ryan Reynolds não desistiu e percebeu o potencial e bateu o pé e fez acontecer dando margem para o segundo e agora este. E agora aconteceu um dos melhores filmes que assisti nos últimos anos. Não é exagero de minha parte. Eu assito filmes há mais de 40 anos e muitos deles eu me lembro bem, pois eu gosto muito de filme. Gostava, até ter uns problemas recentemente e eles perderam um pouco a graça, não vou entrar muito no mérito aqui, mas estava bem afastado do cinema, no máximo aproveitava o que a Netflix tinha a proporcionar sem sair de casa. E ligado à minha personalidade, posso dizer que sou bem blasé (que ou aquele que está embotado pelo excesso de estímulos,sensoriais, afetivos, intelectuais etc., ou de prazeres, e que se tornou insensível ou indiferente a eles). Houve uma época que os filmes me envoviam muito mais, quando criança evidentemente e o último filme que eu me desliguei completamente de mim e entrei na tela sentindo as emoções que o filme pretendia, perdendo a conciência de estar assistindo algo foi “Velocidade Máxima” e eu tinha dezesseis anos. 
     É, há muito tempo mesmo. Depois disso eu não conseguia me desconectar da realidade. E para mim, um filme é bom se ele cumpre o que propôs, não gosto de ficar esperando algo além. E, não fui na estreia, acho que um mês depois, ainda havia sessão e fui. E sério, minha única reclamação é que estava dublado. Não gosto de nada dublado. Do restante, até esqueci o cinema em si, eu simplesmente fui fisgado para o universo do filme e eu não parei de rir o tempo todo. Praticamente eu só me escutava rindo e mais ninguém com a mesma intensidade. 
     Do momento que ele inicia sua busca pelo Wolverine eu só me deliceiei sem nenhuma preocupação com a vida. Cada surpreza, cada reviravolta, cada “fan service” eu delirava. Há anos todo mundo queria ver coisas que os produtores insistiam em não mostar para não imitar os quadrinhos. Gente, não quer imitar um quadrinho, não faça adaptação de quadrinhos. Li várias críticas que a história não é boa, que usou “fan service” desnecessário. Os números de bilheteria atestam que teve quem gostou de tudo isso, e muito. O filme trouxe o que faltava no Universo Marvel e do jeito doentio e louco de Deadpool. Ninguém contesta que o Hugh Jackman foi um ótimo Wolverine, ele tinha o perfil perfeito, o problema foi transformar ele num herói "Nutela" e pasteurizado com roupa preta de couro. Nada contra, mas qual o problema do amarelão que todos conheciam? "Era uma estética muito irreal". Se o povo quisesse uma estética real deveriam procurar um documentário e não uma obra de HQ. Tem tantos momentos icônicos e todos fantásticos que passaria horas escrevendo cada um e entregaria tanto “spoilers” e não gosto dissso. Mas é um filme fora de série. Tem participações especiais de gente que nem imaginaríamos que podiam estar juntos. Uso de uma trilha sonora com músicas conhecidas por praticamente todo mundo, e uso de forma inteligente. Uso dos personagens de forma adequada e condizente com suas essências. Vários “Easter eggs”, referências diretas ou indiretas ao universo Marvel. É assombroso o que conseguiram reunir nesse filme, é muitos direitos autorais que só com o monopólio da Disney foi possível usar. E para finalizar, um leve spoiler que não entrega muito, é de cair no chão de tanto rir que em uma cena importantíssima, com uma música icônica que foi consedida especialmente para o filme, e tudo está dependendo de que aconteça o que estão lá tentando fazer, e o Deadpool, se aproveitando que a roupa do Wolverine se rasga dá uma manjada de rola das mais indiscretas e essencais para a história dos cinemas. É sensacional a sacada do roteiro nessas partes onde o Deadpool deixa claro que com ele não tem tempo ruim, caiu na rede é peixe... 





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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

No interior de São Paulo: conversa torta

No interior de São Paulo: conversa torta Por várias questões estou aqui, numa cidade que eu não caibo mais, que eu nunca me identifiquei e que tento ao máximo me desenraizar. Agora, após o falecimento de minha mãe, talvez consiga, por mais que fique meu tio, tia e meu primo aqui eles não são tão próximos. O que tem ainda é uma propriedade, onde estou morando, que pretendo vender o mais rápido possível. Enquanto não acontece vivo aqui cuidando de mim, sem teatro, sem lugares badalados, sem grupos sociais que me identifico, sem lugares que gosto de ir para me divertir, sem shows de cantores interessantes, sem conversas acaloradas de temas que me empolgo. Pouco converso aqui, o restante da família de forma esporádica para manter a convenção social. Um casal que tinha uma quitanda aqui perto, agora estão com uma casa de churros. Alguns clientes desse lugar que acabo por conversar e um amigo ou outro que aparece do vácuo que deixei pela minha longa temporada longe daqui. No geral, tentam não abordar temas espinhosos. Contudo, os temas não espinhosos são torturosos. Para sentir o nível, vou contar uma pequena hediondice que presenciei. Estava com meu tio na esquina de casa, meu tio tem o costume de ficar sentado na mureta de uma consultoria agrícola aqui do lado. Costume de anos, antes ele fazia uns percursos pelos bares e finalmente resolveu abrir, como ele mesmo diz, seu escritório ali. Numa manhã de domingo, precisei falar com ele, e fui lá. Conversa vai, conversa vem, aparece um e outro, que do mesmo jeito que chega se vai. Até que, um senhor, com uma postura envergada pela falta de cuidado com o próprio corpo vestindo uma calça marrom, com um sapato mais surrado e uma camisa que um dia foi nova, mas estava limpa. Dizia que estava indo comprar a mistura do domingo, atravessando a rua havia um açougue. Até este momento, eu não tinha interesse algum nele, o que não era um desaforo, era só uma circunstância. Não conhecia ninguém, e ninguém se dirigia a mim além do cumprimento de educação, eu também não fazia esforço de tentar engajar uma prosa. O que ouvi fez eu prestar atenção de uma forma não confortável: “Dinho! Dinho...” - Só lembrando para carregar no erre retroflexo, pois estamos no interior, e coloque na sua leitura uma pegada de sotaque bem caipira, mas não das novelas da Globo que tem um coach de sotaques horroroso. Enfin, tentem o que puderem - ” Dinho, quer aprender uma simaptia pra deixar a muié que você quiser no cio?” Eu acho que até meu tio se espantou com aquilo pois não esperava ter ouvido o que ouviu e deu um sinal de falta de entendimento: “Eu disse se você quer que te ensine uma simpatia pra uma mulher fica no cio.” “Que mulher?” “A que você quiser, você pode escolher. Ela vai ficar no cio pra você poder comer depois...” Meu tio mostrou um pouco de embaraço mas tentou levar no bom humor, afinal era um conhecido seu e ele sabia lidar com aquilo. Em compensasão eu estava chocado e quase pulando no pescoço do homem. E meu tio percebeu e tentou desviar o assunto mas o homem estava muito interessado em passar a simpatia. “Então, Dinho, você tem que achar uma cadela no cio. Não pode ser outro tipo. Você pega uns pelos da cadela ...” “Não pode ser de cachorro macho?” - interferiu meu tio. “Não, não pode.” - Disse o homem sério. - “Veja bem, você pega os pelos de uma cadela no cio e joga no quarto ou na sala que você sabe que a mulher vai estar...” Deu uma pausa dramática e meu tio emendou: “E se aparecer um homem....” “Aí você se vira com ele.” - Rebateu animadamente o homem - “Mas garante que seja a muié, senão você vai ter que comer o homem...” “E se ele quiser me comer?” “Aí é problema seu.” E riu o quanto pode mas continuou - “Aí dá certinho viu, jogou o pelo de cadela no cio no lugar que a muié estiver ela entra na hora no cio e vai querer dá pra você.” E meu tio emendou desdenhoso: “E aí? O que faço quando tudo isso acontecer?” “Você come a muié, uai! Ela vai ficar com uma vontade e vai querer dar para você” “E se aparecer outro? “Tem que tomar cuidado senão ela dá para o outro.” - Seu tom foi de gravidade sobre a possibilidade. O jogo de infantilidade machista continuou com mais zombarias da parte do meu tio e o homem justificando e explicando de forma séria o que sabia... Eu só estava mudo... De boca aberta não acreditando no que ouvia. E com certeza ficou muito evidente meu desagrado pois meu tio me olhava e em certo momento ele resolveu mudar tão repentinamente a conversa que o cara ficou no vácuo e meu tio não deu brecha para voltar ao assunto. O homem deve ter se tocado, pois me olhou desconfiado e logo proferiu uma desculpa sem graça e foi buscar sua carne no açougue. Quando já tinha atravessado uma rua eu virei para meu tio: “Como assim? Ele realmente acha que uma mulher entra no cio com uma simpatia dessas? Ele nem tem cara que consegue nada com ninguém e ainda mais dessa forma tão escrota?” Entendendo minha indignação mas não querendo prolongar o assunto continuou a falar de outra coisa. Logo depois quem se despediu fui eu. Até hoje, já se passou semanas, quando eu esbarro nesse homem que mora no caminha para a academia, eu sinto uma certa pena e um mal estar no estômago. E de birra, não o cumprimento. E como a vida não está fácil para ninguém, principalmente para quem quer viver de seus conteúdos, e eu só escrevo e não faço vídeos para Tik Tok ou Intagram (sou todo vergonhoso), mas infelizmente acho que vai ser o jeito reconsiderar... Enfim, quem quiser contribuir com qualquer valor, segue a chave pix, que é meu e-mail, pelo Banco Inter e está no meu nome Vinícius Motta: Pix - vinimotta2012@gmail.com.br