sábado, 17 de maio de 2025

A Maravilhosa Sra. Maisel - M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A mesmo!

 A Maravilhosa Sra. Maisel




 

 

        Se existe um grupo étnico capaz de “criar uma narrativa” cativante e cheia de energia que sobrepuja os tempos são os judeus. Donos de uma história rica, complexa, turbulenta e, no momento atual, diplomaticamente delicada, estão num patamar cultural grandioso. Pelo menos detêm o domínio da grande máquina Hollywood. Chegaram lá quando tudo era mato, e construíram, com nomes variados, as bases e depois o edifício inteiro da indústria de entretenimento estadunidense. E não é só nos filmes, é no teatro, na Broadway e off-Broadway, na comédia Stand-up, na música, e qualquer, repetindo a expressão acima citada acima em aspas, “criação de narrativa” que eles são bons, eles também são ótimos em vender essas ideias. Comerciantes natos conseguem nos convencer de que seus produtos são bons. Como tudo em um grande centro comercial temos que sempre analisar bem o que estamos adquirindo, mas o papel deles, produzir e vender, eles desempenham com maestria.

        E “Maravilhosa Sra. Maisel” é um produto muito bem feito. Eu não conheço muitos judeus, a não ser pela tela e pelo filtro da arte. Tive contato com um amigo que era judeu, e pelo que tenho dele eu tento fazer uma causa de juízo sobre a cultura que “Maravilhosa Sra. Maisel” retrata. E, sim, é fantástico perceber que as duas narrativas, do meu amigo e da série, convergem. Obviamente que meu amigo é brasileiro e a série se passa em Manhattan então algumas divergências e especificidades culturais podem ocorrer, mas pelo que meu amigo falava da família, das relações religiosas e da rede de apoio que havia “Maravilhosa Sra. Maisel” está similar a tudo que ele relatava. Eu, meio vira-latas do interior de São Paulo, sem um senso étnico tão definido, pois minhas origens se perderam na desimportância da vivência histórica que um brasileito tem, ando resgatando algumas coisa hoje em dia, não acompanhava aquela mixórdia de situações que não havia na minha família que meu amigo narrava. Simplesmente se alguém brigava na minha família paravam de se conversar e o tempo resolvia, na do meu amigo, ninguém parava de conversar mas ninguém esquecia o que cada um tinha feito e, segundo ele, tudo era remoído incessantemente em todas as oportunidades possíveis, e mesmo se odiando ninguém deixava de falar com ninguém. E, aqui não vou julgar quem tem razão, são constextos culturais distintos. “Afinal quem somos nós para julgar....” (Só lembrando a fatídica frase do senso cumum que justamente dá aval a começar a tacar o pau em quem não está perto para se defender)

        A série é sobre isso, vivência cultural de um grupo étnico bem definido. Nunca tinha visto uma produção tão voltada ao universo judeu, além daquelas sobre o holocausto, o que é um alívio, pois, por mais traumático que tenha sido os eventos das Grandes Guerras é bom saber outros meandros de um grupo tão importante na nossa história ocidental. Nossa personagem título a Sra. Maisel é uma judia casada, espirituosa, cheia de personalidade e com uma veia cômica que vai definir toda a série. O marido menos interessante porém esforçado não consegue lidar com uma aptidão que surge na vida da Sra. Maisel, sua esposa, a veia cômica que se manifesta numa apresentação de Stand-up e devido a isso ele termina o casamento e a mulher fica livre para iniciar sua carreira. Porém nada é simples e tranquilo, ser comediante Stand-up não é bem visto para homens que por uma piada podiam ser presos, estamos pelos anos de 1958-1959, imagine para mulheres, e divorciadas, apesar da situação não estar resolvida no papel. Então a empreitada de Miriam, a Sra. Maisel, interpretada brilhantemente pela Rachel Brosnahan não vai ser fácil, no meio das apresentações, quem percebe a qualidade do humor de Miriam é Susie (Alex Borstein) que se torna sua amiga e empresária. Deliciosamente masculinizada ela figura cenas hilárias não só em contraste com a feminilidade delicada de Miriam, mas também, para fazer acontecer o plano de colocar sua comediante nos palcos e ambas buscarem sucesso, mesmo que para isso ela mesma tenha que requebrar numa dança supostamente brasileira, na segunda temporada para se passar por funcionária do resort que a família de Míriam está passando férias. Os pais de Míriam são deliciosos de se ver, a mãe toda afetada, feita pela ótima Marin Hinkle, e o pai, Tony Shalhoub, um professor de física metódico figuram cenas hilárias de casal. Tudo na série funciona, contudo uma coisa é absurda, a direção de arte. Pense na perfeição da reprodução de época, de móveis, a lugares, roupas. É um exercício de pesquisa hercúleo. E como tem locações para serem reproduzidas, essa série não saiu barata. Nem tinha como. A qualidade do roteiro, reproduzindo a comédia e os trejeitos ingênuos da época acabam por dar mais luz ao todo.

        Eu ainda estou finalizando a segunda temporada de cinco. Cada temporada possui de 8 a 10 episódios com seus 50 minutos, com variações. Não é uma série pesada, mesmo sendo um pouco complexa por haver muitos personagens e subtramas. É divertida de se seguir. E é impossível quem goste de moda não admirar os vestidos de Miriam, um mais lindo que o outro, mesmo os da mãe dela e de outras personagens, são espetáculos de uma época dourada de ingenuidade e esperança que os estadunidenses viviam. Hoje, com as produções focadas em terror, suspense, ficção científica com reviravoltas o tempo todo nos deixando em pequenas crises existenciais “Maravilhosa Sra. Maisel” é um sopro diferente de tudo que está no mercado. Algo para aliviar o peso dos tempos difíceis que vivemos. “Bora” assistir o restante!

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