True Detective - Suspense que instiga
Quando esta série
estreou eu fiquei muito interessado pelo enredo. Devido a trabalho/faculdade
não pude assistir e o tempo consumiu os dias que se passaram. Finalmente
consegui assistir nessas férias de janeiro.
Eu sempre tive um
pouco receio de séries, pois se perder um episódio, tudo fica confuso. E não
sou o tipo de pessoa que consegue se programar toda semana, no mesmo dia e
horário, diante da televisão para assistir um programa específico. Sou capaz de
chegar e simplesmente esquecer que existe tal programa e só lembrar duas horas depois
de terminar. Gosto de sentar e assistir algo com começo, meio e fim. Filmes são
minha predileção. A ansiedade de aguardar algo por uma semana é
frustrante e desestimulante. Então ficou muito mais fácil com o advento dos
“box” que se vende das séries, porém o preço exorbitante também acaba sendo um
empecilho e encher a casa de quinquilharia é péssimo. Novamente a internet
mudou tudo e me deixou com a possibilidade de assistir muitas coisas “on line”
e, em sequência, dando as pausas que eu quiser. E assim comecei a assistir as
séries com mais alegria.
“True Detective”
é uma série relativamente curta. Isso me animou muito mais. Com 8 episódios de 45-50
minutos em média. E algumas curiosidades que só contribuíram para o melhor. Com
um roteiro poderoso, cheio de alusões ao universo de Carcosa, falo mais disso
logo, obra de Nic Pizzolatto, que desconhecia antes, é dirigido por um único
diretor, Cary Fukunaga, algo não muito comum nesse formato. Para quem não
conhece Fukunaga dirigiu uma competente
adaptação do livro da escritora inglesa Charlotte Brontë, Jane Eyre.
Escalaram dois atores ótimos para
serem os principais, Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Sempre achei esse
último um tanto bobalhão. Porém ele dá certo com personagens um tanto quanto
“dúbios” entre o espertalhão, cínico e o hipócrita. Quando fez “O Povo contra
Harry Flynnt” conseguiu provar que era um ótimo ator que ainda não havia achado
o papel certo. E mais uma vez o personagem lhe coube como uma luva. Já
McConayghey prometia muito quando fez “Tempo de Violência” (1996) e lembro que
foi capa de uma revista de cinema que o tratava como nova promessa de Hollywood
e o citava como uma mistura de Marlon Brando e Paul Newman. Se me recordo bem.
Isso há uns 19 anos, quando era um jovem atendente de “locadora de filmes”...
Séculos atrás... E nessa fase atual ele realmente prova o quanto é bom.
Voltando a
Carcosa, cidade fictícia, (ou não!!!) criada por um escritor um tanto
desconhecido dos brasileiros, Ambrose Bierce, que introduziu essa localidade em
seu conto “Um Habitante de Carcosa”. Lido por Robert W. Chambers inspirou seu livro “O Rei de Amarelo” com contos
sobre uma misteriosa obra que levava a loucura quem a lesse. E lá se encontra o
tal Rei e a cidade. Carcosa pode ser o “não-lugar” ou ainda um buraco negro que
reflete a insignificância humana diante do desconhecido. E isso é o que dá um
tom a essa série através dos pensamentos mirabolantes e teorias existenciais e pessimistas de
Rustin Cohle (McConaughey).
Uma garota é
assassinada com traços fetichistas indicando algum ritual religioso obscuro. E
dois detetives irão investigar por quase duas décadas o ocorrido. Com grande
repercussão eles percebem que não terão tanta facilidade em descobrir quem foi
que matou a jovem. Uma rede de intrigas envolvendo um político protestante
poderoso e sua família vai tornar tudo muito ambíguo e complexo.
Os personagens principais são
totalmente destoantes. Martin Hart (Harrelson) típico pai de família, americano e hipócrita, limitado por suas crenças e pela sua inteligência, que ainda trai
a esposa. Já Rustin Cohle (McConaughey) um atormentado detetive que carrega uma
tragédia familiar nas costas juntamente com seu comportamento e linha de
pensamento totalmente estranhos para o simplório parceiro de trabalho e mantém um
“celibato” forçado.
Tudo se passa
numa cidade do estado da Louisiana que não possui nada de romântico nas lentes
do Fukunaga. A luz, a amplidão, as cores ocres e os verdes apagados dão o ar de
vazio existencial, ainda mais se considerarmos que este estado foi desolado
pelo furacão Katrina. E acostumado a ver a prosperidade americana,
sempre sinto um choque em ser relembrado que lá nos EUA também há regiões pobres.
E este espaço tão amplo, rural e devastado é o material perfeito para crimes
ligados a algum culto clandestino. Porém, não há corpos, não há vestígios,
somente alguns fatos aparentemente isolados que com a persistência de Rustin consegue
garimpar.
A história começa
um tanto lenta, sonolenta e até desinteressante. Porém se for persistente e continuar
será recompensado. Com os dois parceiros, já afastados da investigação e do antigo emprego, sendo
interrogados, separadamente, sobre o antigo caso que eles solucionaram pois houve outro assassinato com as mesmas características. Tudo então indica que o caso não está solucionado. E essa forma de contar a
história nos dá um quebra-cabeça que aos poucos vamos montando e percebendo que
talvez não consigamos todas as peças.
Entre o caso
sendo investigado há situações da vida pessoal de ambos.
E justamente nessas questões pessoais é que ficam alguns pontos sem nó. É subentendido
que algo mais sutil e angustiante ainda acontece por lá. É um tanto aterrador ver
a filha mais velha de Martin, com cerca de 10 anos, ensinando sua irmãzinha
alguma coisa de cunho sexual com as posições de suas bonecas. E nada explica
isso. Outros acontecimentos também ocorrem e se perdem em tanto tempo de
filmagem. Porém isso não é um defeito. Se fosse filme, com suas 2 horas padrão possivelmente
não conseguiria ter o efeito que mostra.
A relação com o
livro não é direta. Apenas se apropriam, aparentemente, da mitologia do “Rei de
Amarelo” e de “Carcosa” para, possivelmente, não usar nenhum nome já conhecido
de seitas satânicas existentes ou, quem sabe, há sim uma relação que o
roteirista não quis explicitar, por enquanto.
É certo que muita coisa fica em aberto. É mais certo que a história agrada,
mesmo se não souber nada da mitologia “Amarela”.
Enquanto trama de
“caça ao rato” nos dá tudo o que esperamos e com um fim bem articulado
percebemos que muito da trama paralela fica em aberto. Talvez uma continuação
esteja preparada. Talvez seja só uma elucubração delirante de minha mente. Enfim,
tudo isso não tira o brilho e a qualidade da história principal. Martin e
Rustin são magistralmente interpretados por Harrelson e McConaughey que dão o
tom certo mediante a direção de Fukunaga. Em um período que a criatividade da
indústria do cinema parece estagnada, a televisão nos dá bons momentos
para nos entretermos com algo de ótima qualidade. Então aproveitem.
E um “PS”
importante é a trilha sonora ótima. De cantores alternativos, passando pelo
folk, o blues sombrio e resvalando pelo country regional. Agregando ao material
filmado um clima coerente. Aqui chamo atenção para a música de abertura da
série “Far From Any Road” do grupo The Handsome Family que dá o toque venenoso,
plácido e angustiante que virá logo em sequência.
Adorei, vou assistir
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