terça-feira, 10 de março de 2015

Séries: Penny Dreadful - Parte III - Personagens Secundários

Penny Dreadful - Parte III - Personagens Secundários




Continuando:

- Dorian Gray (Reeve Carney)



Interpretado por um ator cantor advindo da Broadway não conhecido ainda no mundo das séries e cinema. Dorian Gray é um personagem famoso de Oscar Wilde dramaturgo e escritor irlandês erradicado em Londres. Em sua obra ele conseguiu sintetizar em Dorian o que viria a ser o jovem contemporâneo de classe média (baixa, média e alta): narcisista, hedonista, alienado, arrogante, cínico, adepto do “self” (manifestado no próprio retrato de Dorian), que vive uma maldição lançada por si mesmo, a busca pela juventude eterna, e por isso é um monstro.

Dorian Gray é visto em vários perfis de Facebook e no Instagran. É cada um de nós que vivenciamos a cultura da aparência acima de qualquer coisa. Dorian se torna fútil, amante da “arte”, mas não enquanto transcendência ou sublimação de si, apenas como manifestação narcísica de si. É incapaz de amar, por isso acumula retratos, fotos, músicas, tudo que a tecnologia propicia. Ele veste roupas ousadas, anéis em exagero, envolve-se em orgias, drogas e se frustra quando tudo que fez deixa de ser instigante como a primeira vez. Em várias ocasiões na série ele diz invejar alguém pelo simples fato da pessoa ter dito que seria a primeira vez em algo. Ele não mede esforços em saciar sua vontade de novas sensações, é entediado e tem a vida eterna pela frente com a juventude eterna. Vanessa Ives lhe interessa por ter algo que ninguém tem dentro de si. Brona Croft é instigante por ser uma moribunda e como ele mesmo diz “Nunca fodi com uma moribunda”. Não sente medo e nada o afeta fisicamente. É sua alma que é atormentada pela futilidade, pelo “carpe diem” vivido até as últimas consequências. Não titubeia em largar sozinha sua nova conquista para ir atrás de outra que no momento se mostra mais instigante e imediata. Dorian não é um dos principais, apesar de servir de catarse sexual para liberação da monstruosidade de Vanessa. Ainda pouco explorado na série só nos é relatado algumas pitadas de seus dons sobrenaturais. É um personagem que reflete o que a maioria é hoje em dia. Mulheres de 60 anos que se esforçam para aparentar 30, homens que malham para atingir um ideal de beleza, ou garotas que não comem para atingir outro padrão irreal de perfeição. Selfies, narcisismo celebrados a todo o momento por todos nós nas redes sociais. Incapazes de realmente amar o outro por nos amarmos demais. E não é que Dorian leva uma rasteira na série? A nova sensação que sente é deliciosamente celebrada por todos nós. Ele mesmo não acredita no que ouve por ser arrogante demais. E possivelmente como muitos casos reais vai se afogar na sua entediante vida cheia de coisas “legais” e “surpreendentes” para fazer. Por isso não envelhece, envelhecimento supõe-se sabedoria que acaba desprezando. Não pode ser sábio. É o eterno adolescente que não faz a passagem simbólica para a fase adulta. E nessa fixação vai se frustrando mais e mais. Cava um buraco para tapar outro em seu peito, nisso se torna um Sísifo demoníaco e deturpado. Aquele é amaldiçoado a empurrar uma pedra morro acima que ao fim do dia desliza para o lugar anterior e no dia seguinte é obrigado a continuar o trabalho inútil, eternamente. Mas Dorian não trabalha e sua maldição está consumindo diariamente o que tem de mais precioso, sua alma. Ou, para quem já conhece a história, ou leu o livro, seu quadro que apodrece e deteriora em seu lugar.


- Brona Croft (Billie Piper)


Outra atriz cantora. Porém já tem um currículo invejável na televisão. É mais conhecida pela série que participou “Doctor Who”.

Essa personagem me chamou muito atenção. Assim como Chandler uma reviravolta no final dá um novo fôlego que só veremos o resultado na próxima temporada. Nesta ela não é um monstro típico.

Sua monstruosidade consiste em ser uma prostituta com tuberculose. Muitas vítimas de Jack, o estripador foram prostitutas. Muitas mulheres se deterioravam devido à lida, ao que era considerado trabalho “fácil” e o peso do preconceito as acompanhavam até o leito de morte, que muitas vezes era precoce. Juntando a isso coloque uma doença incurável que matava praticamente todos que a contraíssem, e muitos não sabiam direito como se pegava. E a manifestação mais visível era por tosses que se expurgava sangue. Brona não é um monstro, a sua condição é que sofre a monstruosidade do preconceito, do descaso. Como a tuberculose a humanidade sempre possuiu doenças que tiravam a dignidade da pessoa. Não importa os sintomas, não importa o período histórico. O descaso é o mesmo, o preconceito é a navalha que mata essas pessoas. O monstro de Brona é algo que outros podem contrair e por isso ela se esquiva o quanto pode. Vítima de um status quo que a empurra para a prostituição é vítima também de Dorian que a usa como brinquedinho para aplacar a ânsia de novidades. Brona se entrega a ele iludida. Mas como tantas outras é descartada, paga e “devolvida à prateleira”.

Sua dignidade é dada de novo através de Chandler. Que ciente de seu monstro interior consegue ter compaixão por seus pares. Ele se preocupa e sabe que não há mais saída para Brona, ela vai morrer. Ele quer que morra com dignidade e com suavidade. Todos deveriam ter esse direito.


            - Sembene (Danny Sapani)



         Criado de confiança de Malcolm é africano. Não tem nada de supostamente especial. Sua condição o torna especial. Não possui nesta temporada nenhum “monstro”. Negro vindo da África de uma das explorações de Sir Malcolm nada é revelado sobre seu passado e no presente pouco é mostrado. Ser criado na Inglaterra já era viver em condição de explorado, ainda mais sendo negro em um país de brancos. Por mais que o movimento abolicionista tenha iniciado na Inglaterra isso não os redime de anos de escravidão da população africana. Pelo que se percebe numa conversa ao fim do 7º episódio com Chandler ele tem uma relação bem profunda com seu “senhor”. Não é apenas um mero funcionário. Ainda um personagem enigmático que pouco é revelado.


          - O “mostro” de Frankenstein (Rory Kinnear)


         
          Não é mais monstro que seu próprio criador. Abandonado por Victor aprende sozinho a ser “humano”. Encabeça umas das cenas mais traumáticas da série junto a Victor. Porém se sua “falta” de criação/educação o fez um monstro. É o personagem mais triste de todos nessa série. Deformado por cicatrizes conhece os piores comportamentos humanos e os melhores. É acolhido por um grupo de teatro e até toma ares de “Fantasma da Ópera” por se interessar por uma jovem e bela atriz que o trata com dignidade. Porém seu traquejo social é falho. Sua miséria o faz ter complexos que o torna mais monstruoso ainda. Se seu “pai” não foi capaz de lhe dar um nome, símbolo de pertença, o renega deixando-o sozinho, seus novos “amigos” o chamam de Calibã, um personagem selvagem e deformado de Shakespeare da peça “A Tempestade”.


         Logo percebe que não é um ser humano. Tem a noção clara que nunca vai ser aceito, seu senso de rejeição é tamanho que precisa de uma companheira da mesma espécie e para isso vai atrás de Victor para que “costure” uma companheira para ele. Mesmo tendo que usar da força para conseguir persuadir o médico ateu. 

          Continua.... 

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