segunda-feira, 30 de março de 2015

Cinderela, o Filme - Meio termo

Cinderela, o Filme - Meio termo




         Tudo hoje em dia precisa passar por explicações. Não aceitamos as coisas como são sem o crivo de algum tipo de especialista para atestar que aquilo é desse ou daquele jeito por ter uma história, um contexto ou uma cultura por trás. Só quem acha que não precisa dessas coisas são religiosos fundamentalistas que acabam distorcendo com essa visão suas crendices. Então é mais que normal a Disney querer dar outros tons às maldades de suas vilãs. Isso aconteceu com Maléfica e agora é a vez da “Madrasta” de Cinderela. Ao contrário de sua colega de estúdios, que foi totalmente redimida, Lady Tremaine, o nome dado à madrasta, não é acometida pela heresia de se tornar boa no final.

         Continua rancorosa e mesquinha até o fim. Mas tem uma história que justifica tudo isso. Que não vou contar para não estragar. Porém esse fato de se ter uma justificativa não é desculpa para suas atitudes. Todos têm escolha para seguir fazendo o bem ou não. E como madrasta ela simplesmente foi o cão chupando manga do avesso para a jovem e não tão bela, neste filme, Cinderela.



         Enquanto as princesas encantavam as pequenas crianças o mesmo não ocorre com as moçoilas na adolescência. Muitas parecem esquecer-se da docilidade servil dessas personagens e algumas até viram as bruxas e as madrastas que tanto odiavam. E o simples fato é de se haver humanidade em cada uma dessas adoráveis “princesinhas” que crescem um dia. Parece que muitos desenhos e animações já estão percebendo que ninguém é 100% bom, e muito menos 100% mau, pode haver uma gama de coisas que nem sempre se encaixam numa explicação de vilania existencial simplista.

         E artisticamente falando, sempre os malvados e megeras deram mais possibilidade de desenvolver um personagem. Então uma Cate Blanchett é escolhida a dedo para ser a rancorosa e amarga mulher que casa com o pai de Cinderela. É fabulosa para dar a cor certa e emoldurar sua personalidade e suas ações. Contrasta a sutileza de olhares fulminantes e desdenhosos junto ao glamour de uma “dama” bem vivida. Tanto que a heroína da trama fica bem apagada, coitada, some, tanto na atuação quanto no visual. Nem o vestido de baile icônico consegue suplantar a elegância pérfida da vil antagonista.


          O velho clássico revisitado não é em si ruim,  simplesmente linear. Sem excessos de efeitos especiais com figurinos eficientes, alguns belíssimos, e uma reconstituição de uma época híbrida entre a encantada idade média e um passado não tão longínquo, onde tudo parece ser bem mais real que nos contos de fadas, a história fica no meio. Possivelmente será sucesso, pois acessa a memória afetiva de várias gerações. A animação original é de 1950. Então só por nos recordar uma época que gostávamos mais das princesas do que das vilãs já garante o bom uso de nosso dinheiro no ingresso.

         Com nomes de peso na coadjuvação muitos são subvalorizados. Como o quase desastroso exemplo de Helena Bonham Carter, que a usam como alívio cômico e fica algo caricato impresso na tela. Já vi interpretações dessa atriz de embevecer o peito. Porém, a meia idade, e talvez o casamento com Tim Burton, a deixou numa zona de conforto um tanto bizarra. Tanto Stellan Skarsgård, como o Duque conselheiro, quanto Derek Jacobi, que faz o moribundo rei, são atores primorosos que não conseguem dar uma força a seus personagens devido ao roteiro raso. Sei muito bem que é um filme de “diversão” e talvez esteja exigindo muito. Porém dá para desenvolver uma história mais consistente para um clássico desse porte. O que não houve aqui. Garanto que as crianças e os menos críticos irão adorar.

         O diretor é Kenneth Branagh que também fez muita coisa boa e agora se dedica mais a dirigir que atuar. E também se mantém no meio termo. Fez a lição de casa sem deixar o caderno sujo e amarrotado. Acaba por ganhar o “A” mas não o “Parabéns”.


         E uma nota um tanto triste, Lúcifer se encontra representado por um gato todo frufru e fofo e também não é valorizado na trama. Pouco aparece e pouco se sabe de seu passado obscuro como a "estrela da manhã" ou "o portador da luz". E ainda fica a pergunta “Que “poha” de nome é esse para se dar a um gato????” Depois a Disney não quer virar alvo de vídeos sobre teoria da conspiração satanista no YouTube!!!




Um comentário:

  1. Achei muito interessante a maneira em que terminou é filme. De forma interessante, o criador optou por inserir uma cena de abertura com personagens novos, o que acaba sendo um choque para o espectador, que esperava reencontrar de cara as queridas crianças. Desde que vi o elenco de Cinderela imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, pessoalmente eu irei ver por causo do atriz Lily James, uma atriz muito comprometida. Eu a vi recentemente em um dos melhores Filmes de Ação 2017, acho que é uma opção que vale a pena ver.

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