quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Para sempre Alice – "Still Alice" o melhor título

Para sempre Alice – "Still Alice" o melhor título 







         Mais uma vez, o título em português falha. Pois dá a entender de algo que dura, eterno, e o filme é do que se perde, do que se esvai contra a vontade... E o original “Still”(ainda) soa bem mais interessante, pois impulsiona para o caráter forte da protagonista diante de seu problema que a faz esmorecer se descaracterizar de si mesma.

         Quando comecei esse blog, eu queria resgatar minhas memórias sobre um período bem significativo de minha vida e tentava usar o humor como tom da narrativa. E vez ou outra comentava um filme assistido, sem pretensão. Continuo sem pretensão, mas vejo o quanto é difícil usar de humor em certos assuntos. Tento no que posso. No que não posso fico tentando apenas não ser piegas. E para falar desse filme realmente não dá para se usar um tom satírico, ou humorístico escrachado. No máximo alguma pontuação levemente bem humorada. No máximo! Esse filme é um drama sobre um tema simpático a muitos. E não digo simpático no sentido de sentirmos empatia e ternura por algo “gostosinho”. É simpático por se tratar de uma doença muito presente, porém “recém” descoberta em nosso vocabulário, apesar de não ser tão nova assim. Simpática pois ataca principalmente nossas “vózinhas” ou “vôzinhos”.  Uma doença que vem de mansinho, que se instala, via genes, fica e deteriora o que há de mais precioso em um ser humano: as lembranças de uma vida que faz a pessoa ser do jeito que ela é.

         Então, o filme é sobre Alzheimer. Alice, mulher de seus 50 anos, bem sucedida como linguista começa a perceber certos lapsos, esquecimentos. E quando essas faltas de lembranças começam a afetar sua vida profissional e afetiva ela vai a um médico e o diagnóstico é devastador: Alzheimer precoce. E o filme todo vai mostrando a evolução do seu quadro.

         O mais triste é Alice ter noção do que virá. Ela sabe que vai perder aos poucos tudo o que tem. Em uma fala ela deixa o ápice da amargura transparecer dizendo que preferia ter câncer. Não são só recordações que se vão, são palavras que ela usava tão magistralmente na sua comunicação, como disse era linguista. Nomes, endereços. É angustiante uma cena que ela não acha o banheiro na casa que estava passando as férias. É frustrante saber que aquele problema não é só de Alice. Muita gente sofre desse mal, e nem é diagnosticada a tempo. Dramaticamente, no filme, ela tem a doença evoluindo de forma rápida. E surge a urgência, de querer ver os filhos bem, de querer ver os netos que vão nascer. O mais difícil é perder, perder, perder e perder... E não lembrar.


         Baseado em um livro, de mesmo nome, da escritora Lisa Genova o filme trás no elenco a perfeita Julianne Moore dando vida à Alice. Apesar de uns filmes ruins na carreira, sempre me surpreendeu em papéis de pessoas reais, comuns, como a mulher que casa por interesse e se descobre apaixonada pelo marido que está morrendo em “Magnólia”, ou ainda a mãe que abandona o filho em “As Horas”, entre outros. Aqui ela é perfeita. Sutil e ao mesmo tempo brutal como essa doença. Ela faz o papel render tudo que pode render. Sua interpretação consegue tirar uma emoção do rosto vazio da descabelada Kristen Stewart, que faz a filha destrambelhada que quer ver encaminhada numa profissão decente, ironicamente é atriz.

         Apesar de tratar de um tema pesado, o roteiro é leve. Como uma borboleta, usada em uma analogia singela. E também o filme não cria fórmulas miraculosas para salvar a personagem. É fiel ao que a doença causa.

         Na corrida ao Oscar, Julianne Moore tem todas as chances de ganhar. Melhor que Rosamund Pike em “Garota Exemplar”. Porém tenho que assistir aos filmes das outras indicadas. Mas intuo que Marion Cotillard pode surpreender. Vou logo assistir o seu filme, “Dois dias, uma noite”, e falo de minhas impressões.

         Por fim, o filme rende choro. Principalmente se houver algum caso na família de Alzheimer. Pode preparar os lencinhos de papel. 

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