sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Dois Dias, Uma Noite - Magnifique Marion

Dois Dias, Uma Noite - Magnifique Marion




        Em 2008 ela arrebatou o público com uma interpretação “mediúnica”, como ouvi o José Wilker comentar, da cantora ícone francesa Edith Piaf. Foi soberba. Não teve quem não a reconhecesse como “a” melhor daquele ano. Cheia de trejeitos e singularidades da diva. Era possível dizer que foi fácil plasmar essa interpretação por haver um material por trás muito “manejável”. E o que dizer sobre uma pessoa comum, sem aparentes trejeitos, sucesso, atrativos, relevância? Alguém simplesmente bem normal???? Seria possível tirar algo para plasmar uma personagem interessante? Nas mãos de Marion sim, seria possível, e foi!!!!.

        A história é tão banal que nos choca. Principalmente se levarmos em conta que tudo foi baseado em fatos reais e ocorreu na Bélgica. Sim, na Bélgica e não no Brasil. Sandra, é uma mulher fragilizada pela depressão que ao voltar ao trabalho descobre que foi feita uma votação para seus colegas escolherem entre manter o seu emprego ou, um grupo de mais 16 funcionários, receberem o bônus anual de Mil Euros. Como Sandra não estava lá, houve uma facilidade em votar a favor do dinheiro e esquecer quem era ou representava. Porém essa mulher não pode ficar sem trabalhar, ela é pobre e sua renda complementa em muito no orçamento familiar. Corre o risco de perder o apartamento e passar fome. E é nesse ponto que o filme começa, ela vai atrás de todos que votaram contra ela para pedir que repensem e abram mão do dinheiro a seu favor. E vemos todos os tipos de atitudes. Uns arrependidos, uns egoístas, uns repensam de forma sensata outros não. A jornada de Sandra não é para salvar a humanidade, ou para vencer na vida. Sua luta é para ter o direito de viver dignamente com o suor de seu trabalho. E o melhor do filme é que ele não cai no fácil, dividindo o grupo de trabalhadores em bonzinhos ou malvadões. Ali ninguém é rico, todos dependem do bônus para complementar algo em casa. Há sim os injustos, mas há muitos que simplesmente precisam do dinheiro e ponto. É fácil ter um discurso altruísta quando não se precisa se preocupar com a escola dos filhos, com a comida em casa, com o aluguel... É muito fácil. Essas barreiras são enfrentadas por Sandra que toma Xanax contra seu quadro depressivo, o que faz tudo ficar mais insuportável.

        Então com essa história vemos como uma ótima atriz atua. São detalhes das expressões faciais, um gesto, um silêncio, uma respiração, uma saída rápida de um lugar, uma resignação pontuada, choro, angústia na medida certa, desânimo, animo, tudo alternado nos dois dias e uma noite que Sandra tem de tempo, o fim de semana, para reverter essa situação. Uma curiosidade que “Dois Dias, Uma Noite” não entrou na disputa do Globo de Ouro, e entrou agora no Oscar, possivelmente desbancando “Cake” com Jennifer Aniston, que não está entre as indicadas. Porém é falado em francês e tem uma pegada europeia que pesa contra ele.

        Simplesmente é um filme imperdível para quem gosta realmente de atuação. Os diretores Jean-Pierre e Luc Dardene, irmãos, são ótimos porém pouco reconhecidos. Dão o tom certo para a história e não caem no óbvio. Mas, e enfatizo esse “mas”, não é um filme para qualquer um. É um filme europeu que pesa e pode desagradar aos que curtem algo mais “pipoca”.


        E sabe o que mais surpreende ao nosso olhar brasileiro???? O quanto somos desprovidos!!!!!!  É humilhante ver a pobreza dos belgas. Tudo que Sandra tem é muito mais que muita gente considerada classe média no Brasil possui. Todos os seus companheiros pobres moram em lugares que consideraríamos ótimos lugares pela aparência. Bairros limpos, sem pichações sem sujeira nas ruas. Os pobres da Bélgica são muito mais munidos que “os classe média” daqui... É o que parece, é o que é... E nós ficamos com aquela cara de “ué” assistindo o filme. 

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