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terça-feira, 26 de março de 2024
Mamãe morreu!
Mamãe morreu!
Eu não tenho lembrança de chamar minha mãe de "mamãe". O substantivo "mãe" sempre me pareceu completo e repleto de sentido em si mesmo. Como escrevi na crônica anterior, ela não estava bem. Não era mais a mulher que eu aprendi a admirar. Agora, depois de ter perdido oportunidades, uma amiga inseparável e o irmão mais querido, a idade ia acumulando com as enfermindades. E, a pior, era a mental. Cresceu como um mato que toma conta de um terreno baldio uma depressão e uma síndrome do pânico. De certa forma ela escondia o máximo que podia. Era de uma geração, e de uma família, que não se reclama dessas coisas. Psicólogo não serve muito. E os médicos ficam com frescura. Se refugiou na automedicação que estava ao seu alcance. O remédio que escolheu foi só camuflar o que lhe crescia em seu interior.
Mamãe morreu, mas antes sofreu por não querer ajuda, por não saber e querer incomodar ninguém. Quando ela pediu para ir ao hospital, e eu perguntava praticamente todos os dias se ela queria ir, e sempre não, era tarde. Chegamos, foi encaminhada, e, após alguns procedimentos que presenciei ela foi levada à UTI. E de lá só saiu seis dias depois. Recebi a ligação as 5h e 20 min. Era para dar entrada nos preparativos. Eu sei, que eu estava, ainda estou muito gripado, até sensação febril eu tive. Contudo, o que mais me estarreceu foi minha ansiedade. Me deu uma trégua, me deu um respiro. Era como se nada houvesse acontecido com minha saúde mental. Então, lá fui eu enterrar minha mãe. Meus tios me ajudaram muito. Deram apoio. E lá fui velar o corpo. A cada rosto conhecido que vinha me visitar o espanto "Nossa, o que aconteeu? " Ninguém sabia a luta daquela mulher contra uma depressão, agravada pelo luto e cultivado nas abas da velhice que fustigava seu lombo. Tentei levar na psicóloga, tentei levar no médico antes...
Mamãe morreu... triste, cheia de dores, com uma doença que piorou o quadro geral. E, só possso ter certeza que houve um descanso. Sua passagem foi mais para alivio de suas dores emocionais, físicas e mentais. Me Despedi, antes que ela fosse entubada. O médico garantiu que apesar de parecer que ela estava dormindo ela podia ouvir.
Eu disse "... você foi a melhor mãe que pode ser.... e não se preocupe que eu vou ficar bem..." Sei que não vou, pelo menos por um tempo. Mas é o luto, esse processo que só eu posso ruminar e superar.
Essa mulher que eu cresci aprendendo a admirar, diante da doença virou uma mulher de verdade, sem idealizações infantis. E era uma mulher frágil. Tanto que não resistiu retirar a entubação. Por mais que tenha sido a coisa mais difícil nos últimos tempos, lidar com o humor corroído de minha mãe, eu fiz a coisa mais certa, por estar tanto tempo longe daqui, veu passeis os últimos dois meses e meio convivendo com ela. Dando um mínimo de apoio. Brigando para que ela retomasse a alegria de viver.
Contudo, mamãe morreu... E eu aqui um pouco morto pelo luto... No pós-enterro é que o peso do adeus fica forte, e quem volta me abraçando e beijando falsamente? A ansiedade
Afinal, mamãe morreu!
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