quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

 CRÔNICA PAULISTANA DE UM PAULISTA



Ler, escrever, caminhar e foder  



 

Representação do Espírito Santo na Basílica de São PedroCidade do Vaticano.





Quando eu estou bem eu leio, escrevo, caminho e fodo. 

O que é estar bem? Quando o cotidiano fustigante e massacrante de trabalhado não consome você como se fosse uma laranja arregaçada pela castanha de um espremedor elétrico. Isso é estar bem. Toda sua suculência é tomada de você e, para se recuperar, o único jeito é não fazer nada, comer e dormir. Para o dia seguinte, trabalhar, gastar calorias e ficar atento para novamente ser arrombado pelos seus contratadores. Se tiver sorte, a violência é menor por trabalhar com o que gosta ou mesmo ser seu próprio patrão. Desconsidere os herdeiros e gente que enriquece com exceções. Falo de pessoas comuns, que precisam ser laranjas espremidas. E não para por aí, pois, estando bem, mesmo não espremido, eu preciso de um equilíbrio cármico, mente, corpo e espírito unidos em equilíbrio constante. Se fosse fácil, mas acontece de vez em quando.  

Equilibrado consigo concentração suficiente para me postar diante de um milhão de palavras sobrepostas em conformidade a uma ideia expressada ou mesmo uma história narrada. Essas minhas preferidas. Ou seja, consigo ler. E principalmente entender o que li. E por muito treino eu leiro com razoável rapidez. Orgulho-me disso.  

Equilibrado consigo fazer o caminho inverso ao ler, concateno ideias, conceitos, conecto palavras e formo histórias, ou mesmo ficções. E isso é tão trabalhoso que precisei amadurecer para conseguir esse intuito. E agora, com meus trá-lá-lá de anos (não faço ideia da grafia de trá-lá-lá, e não vou pesquisar, vai ser assim e pronto), tenho muito a contar, narrar, e não cabendo em mim, transformar palavras em textos que pretendo literários. Se não, que sejam textos. Disso, certeza.  

Caminhar é algo que não percebia. Não é um caminhar qualquer. É andar, passo diante de passo no meu ritmo, não para suar, não para demorar. É meu ritmo que pode variar. Não gosto de ficar ofegante, não gosto de ficar melado. Se acontecer, tudo bem também. Andar no meu ritmo me acalma, me faz contemplar. Se fosse do Candomblé diria que Exu rege meus pés, não Ogum, este segue “caminhos férreos e retos” eu sou do caminho esdrúxulo, da decisão incerta do momento. Uma caminhada minha pode terminar em aventura, em nada ou em tudo. Caminho a esmo, caminho por onde a prudência não aconselha. Caminho. Contudo sou católico e sei que, apesar do sincretismo dizer que o Espírito Santo é Ifá, vejo essa entidade que atua no subjetivo individual mais próximo de Bará, o Dono da casa, do que do Oráculo divinatório. Afinal, eu sou morada do Espírito Santo, o “Dono da Casa”, meu padroeiro de comunidade iniciática. Longa história e um dia, quem sabe um dia, conto. Rapidamente, só por desencargo, sou de uma cidade que tem como padroeiro o Divino Espírito Santo. E da Trindade acho a “pombinha” a menos carrancuda, sofredora e simpática das faces. Beijos E.S.! 

Agora, equilibrado eu me desequilibro fodendo, é meu “Calcanhar de Aquiles”, pois, ao mesmo tempo que me satisfaz e equilibra eu logo me deixo envolver pela vontade de mais, mais, mais e mais. Descobri umas coisa pessoais que aplacam essa ânsia, mas, isso sim, deixo para o “trabalho certo que está em confecção”.  

Então, acabei de escrever mais algumas páginas, já tinha andado bastante durante o dia que transcorreu, e, evitando foder, por “conselho médico” e salutar necessidade de equilíbrio (não me tornei celibatário não), antes de dormir, vou dar as mãos ao Neil Neil Gaiman, meu narrador nesses dias.    

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