segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Crônica Paulistana de um Paulista - Av São João

Av São João
Em minhas andanças de reconhecimento de território não tinha como não passar por ela: Av São João. É um exemplo de furor que São Paulo pode promover. Por mais que a Av. Paulista seja "badalada" e instagramável, a São João é a "pé no chão" e mais próxima da realidade. Ela nunca fecha para virar "parque público", mas, em certo ponto, ela se encontra com o Elevado João Goulart, nome horroroso que mesmo perto do simpático apelido desse ex presidente, Jango, não chega aos pés do "vulgo" que a população deu, e, consequentemente pegou: Minhocão.Garanto que muitos que por ali andam sequer sabem ou lembram do presidente, contudo, não tem quem não saiba do Minhocão. O nome insinua um safado duplo sentido que deixa a marca registrada de nosso modo de ser. Contudo, existe uma desfaçatez que se revela no abandono e degradação abaixo do Elevado. Incrível, que isso já se encontra no primeiro monumento erigido pela cidade, que era justamente para comemorar o patrimônio público: Obelisco Piques. Foi feito lindamente e abandonado ao esquecimento ali ao lado da Estação Anhangabaú. Voltemos à Av. São João, de tão importante, ela figura num dos mais charmosos, apesar de eu não achar, e celebrados cruzamentos: Av São João com Av Ipiranga festejada até em música "Sampa" de Caetano Veloso. O começo da São João é, ao contrário do que imaginava, a Rua São Bento (Apesar de um trechinho constar até a Rua João Bricola, como tudo ali virou "calçadão" talvez se confunda com os limites da Praça Antônio Prado, mas está confuso de entender direito, vou pesquisar mais e juro reelaborar um parágrafo sobre isso) à frente do calçadão do Farol Santander. Ele mesmo é um sinaleiro da avenida. O fim é a Praça Marechal Deodoro. Pensava que o começo era o calçadão mesmo, aos pés do Farol. Erro de primeiro amor que ainda não conhece as reentranças, recôndidos, curvas e segredos do ser que ama, mas se deleita em cometer os equívocos para nunca mais ousar o erro. Quando vi o Marechal Deodoro eu não o reconheci em "crossplay" de bruxo de Hogwarts, me desculpem os historiadodes, sei que é ignorância minha, mas esses equívocos que, além de dar um charme aos acontecimentos, viram boas histórias e nos impele a buscar o motivo daquilo. Eu ainda não fui saber, mas imagino que seja uma indumentária ou vestiário simbólico, seja da região, seja de alguma ordem ou confraria secreta que está no comando até hoje, nas teorias das conspirações, de todo o Brasil. Uma hora descubro, não se preocupem, só ter o tempo devido para tal que descubro, ou oportunidade. Enfim, não fosse ter conhecido a praça como moradia de pessoas em situação de vulnerabilidade total, eu teria me permitido conhecê-la melhor. Ainda não é viável tirar o celular e tentar uma pesquisa "in loco". O impotante é que Av São João e Minhocão se fundem numa estranha camada, e do ponto certo, em cima do viaduro, se consegue uma visão bonita da extensão da Av, sempre iluminada pelos faróis de carros indo e vindo em vermelhos e brancos e lá no fim o farol maior que, de mês em mês, alterna sua cor de acordo com alguma campanha nacional de algo: amarelo, rosa, azul, e agora em dezembro vermelho. Gosto muito de ver o Farol pois da janela do apartamento que alugo eu não vejo nem o Minhocão, nem a São João, apesar de duas quadras que me separa um e umas quatro outro, mas vejo o Farol em suas cores. Seguindo do ponto do Farol, a Av. São Soão vai passando por vários pontos interessantes, o Edifício Martinelli, não passa perto mas está num ponto central entre o Largo São Bento e o Largo São Francisco, que pela importância ambos, ao seu tempo, merecem uma crônica só deles, seguindo a avenida ela corta o Vale do Anhangabaú, passa ao lado do prédio da Agência Central de Correios, Largo do Paissandu, Galeria do Rock, Centro Cultural Olido, O Ponto Chic, que inventou ou Bauru, ali encostado, o Bar Bhrama, temos perdido três estátuas que estão bem nas calçadas (entre elas a do Paulo Vanzolini), o antigo Teatro Record que infelizmente virou igreja evangélica se descaracterizando, o fatídico Edifício Andraus, Praça Júlio de Mesquita, a entrada da rotatória do Largo do Arouche, cruza a Duque de Caxias e continua para fundir com o já citado minhocão, e aí a explosão de cidade grande se mostra no furor que citei inicialmente. É tudo, uma mistura de centro que cresceu em desordem, com moradores da região, que se estapeiam com o títudo de "Santa Cecílers" a "Higienopolers", sendo que este último não quer pagar o IPTU desse bairro. É delivery, é drogaria, é lojas de produtos baratos, produtos caros, lojas de móveis, novos e usados, loja de tudo que é tipo. Além de hotéis antigos e históricos temos também os prédios novos que servem de Airbnb ou mesmo do que quer se seja. É morador de rua, é morador de casa, é morador de pensão, é morador de outro país, é morador de outra cidade, é um amalgama, que se confunde com bairro mesmo com o torpor do centro. E o cheiro? Varia, do mais ignóbil mijo humano em camadas diárias repostas ao cheiro de uma suave e persistente Dama da Noite, já senti Jasmim e carne de açougue, cheiros adociados de massas de salgados e doces, já senti só o cheiro de poluição. E dependendo da perspectiva, em cima, no elevado, ou em baixo na avenina, pode se sentir maconha vagabunda ou cara, ou mesmo o cheiro de crack, ambos sendo fumados por seus respectivos usuários. A maconha geralmente pelos "cidadãos" que caminham pelo Minhocão, que fecha para carros e abre para pedestres as 20h, ou mesmo um ou outro, que saindo do trabalho, ou entrando, decide se presentear com uma tragada de canabis para relaxar ou se alienar, tudo dependando da necessidade. Já o crack às escondidas pelos "não cidadãos". Isso só me faz pensar mais ainda na complexidade de uma Av. São João. E uma retratação: interessante que eu escrevi essa crônica há semanas antes de publicar, hoje é dia 11 de dezembro, para dar tempo de revisar e tudo, sempre me acomete uns errões de concordância, ou mesmo de digitação, e por ainda estar sem notebook, eu dou meus pulos para conseguir escrever da melhor forma que dá, eu me deparei na noite do dia 10 com a informação que os vereadores estão estudando a possibilidade de fechar a São João aos Domingos, além do Minhocão. Eu, com toda a minha maturidade só posso desejar que tudo aconteça o mais rápido possível e que realmente a São João vire um parque aos fins de semana para eu poder não só me beneficiar de caminhar perto de casa sem precisar pegar metrô (Coisa que nunca fiz desde que mudei para cá) e só dizer "CHUPA AV. PAULISTA... ÃO-ÃO-ÃO É AV. SÃO JOÃO! ÃO-ÃO-ÃO É AV. SÃO JOÃO!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário