segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

The Alienist – Netflix


The Alienist – Netflix




         Quando uma produção envolve o nome de Cary Fukunaga eu fico sempre de orelha em pé. Umas das séries que mais gosto é de sua produção, True Detective. Talvez aqui o que faça falta seja o roteiro transcendental, cru e brutal de Nic Pizzolatto. Contudo com seu grupo de roteiristas Fukunaga manda bem. Porém não chega aos pés do já citado roteirista.
        A série enverga pelos meandros de uma categoria que surge antes de se estabelecer o termo psicólogo, o alienista. Temos até uma obra homônima na nossa literatura que brinca com o descrédito que se via essa profissão no início. E só para nos lembrar é um divertido conto/novela (?) do magistral Machado de Assis que até virou uma versão televisiva naquela rede que sempre está a favor dos golpes de estado no Brasil.
        
Um alienista é uma espécie de precursor do psicólogo moderno, acreditava-se que as pessoas ficavam alienadas de suas faculdades mentais e desse desequilíbrio viria a insanidade, pessoas que perderam a noção de tudo e estão alheias de si mesma. O alienista trata quem está alheio, ou alienado de si. Tecnicidades a parte temos o Dr. Laszlo Kreizler (Daniel Brühl) que possui uma clínica onde trata de jovens e crianças com algum distúrbio. Podre de rico pode bancar suas peripécias. Contudo, o próprio Laszlo é cheio de seus traumas e comanda uma equipe tão problemática quanto ele mesmo, a primeira mulher a trabalhar no departamento de polícia de Nova York, Sara Howard (Dakota Fanning), que achou seu pai suicida agonizando, John Moore (Luke Evas) que teve seu noivado com a mulher que amava desmanchado de forma um tanto quanto vergonhosa e se satisfaz fantasiando com prostitutas e os irmãos Luccius e Marcus Isaacson ( respectivamente Matthew Shear e Douglas Smith) que também trabalham no departamento de polícia na recém profissão de investigadores forenses. Estes são estigmatizados por serem judeus e vivem seus perrengues tentando provar que são capazes no que fazem.  Contudo o mais espinhoso na série são os crimes seriais abordados. Adolescentes “travestis” são mortos de forma peculiar numa espécie de ritual que lhes são tirados algumas vísceras, o olho e os órgãos genitais. E justificando, uso o termo “travesti” de uma forma simplória, não é o termo mais apropriado, se fosse usar algum termo seria o de pederastas ou invertidos pelo contexto da época. Contudo, nossa cultura possui um equivalente para que possamos entender e com um peso pejorativo tão profundo como os dois termos acima citados. Contudo, no fundo eram adolescentes em situação de rua que para sobreviver se prostituiam vestindo-se com perucas e roupas androginamente femininas. Geralmente eram jovens órfãos ou que tinham sido expulsos de casa por se mostrarem afeminados. Falo que é um tema espinhoso, pois o tempo todo percebemos o cuidado de não fetichizar nem sensualizar os jovens em tela. São retratados sempre que possível como o que realmente são: crianças ou jovens que se prestam a um trabalho não aceito pela sociedade por não se querer encarar que essas pessoas com comportamento afeminado existam.
        
Numa NovaYork de fim do século de 1900, com grandes descobertas científicas e efervescência cultural vemos um tema marginal sendo posto diante da cidade que teria a vocação de se tornar uma nova “capital” do mundo. Alguns formalismos acabam deixando tudo um pouco frio, com um olhar atento conseguimos sair desse grosso verniz e enveredar por uma sórdida história que envolve jovens, ou como dizemos por aqui, menores, pessoas ricas e suas perversões. A reprodução de época é exemplar, e as atuações são magistralmente contidas. Todo mundo é reprimido pela sociedade novaiorquina de uma forma absoluta. A civilidade está acima de tudo e tudo cai por terra na viceralidade das ações diárias. É até interessante a insinuação do envolvimento amoroso, meio que forçado por “drogas”, de um dos personagens com um dos garotos que se prostituem. Mas é uma insinuação bem de leve, que parece ficar só na insinuação mesmo.
        
O elenco cumpre seu papel de mostrar a frieza das relações civilizadas e os meandros do que a natureza humana decreta e faz acontecer com pequenos gestos, olhares, e atos ínfimos. Isso tudo parece fazer a história não decolar, estamos muito acostumados a histórias dramáticas onde tudo é exposto e jogado na nossa cara. O roteiro é inteligente, peca uma vez ou outra por nos querer despistar de um jeito um pouco exagerado, contudo, cumpre sua função de entreter. Imagino, e novamente só conjecturas, alguns homens de bem, cristãos poderão se sentir um tanto incomodados com a série. Em vários momentos vemos gatilhos que podem corroborar para algumas pessoas passarem vergonhas de seus atos escondidos.
        
Demorei a assistir, estreou em janeiro deste ano e só terminei semana passada por um milhão de motivos e por nenhum ao mesmo tempo. Isso não tira a qualidade da série. Contudo é uma série pesada, densa que pode não agradar quem gosta de coisas leves. Tome um Sonrisal e enfrente, tem mistério e instiga numa grande produção e ótimas atuações.

Black Mirror: Bandersnatch


Black Mirror: Bandersnatch




         Quando trabalhei numa locadora, um sistema antiquado onde se alugavam fitas de VHS de filmes para se assistir em casa em aparelhos bem arcaicos numa televisão de tubo, em meados dos anos de 1990, tive contato, através da banca de revistas que havia lá, com a revista Dragon Brasil, e depois Dragão Brasil. Era sobre RPGs, uma espécie de jogo de complexa desenvoltura com dados que podem ter 3954 faces. Quem assistiu “Strang things” vai ver o jogo apresentado no começo. Em uma edição especial que veio com o título “Aventura solo”, que comprei evidentemente, descobri o que seria um jogo interativo. Estava no período anterior a internet e jogos eletrônicos longe do alcance, a não ser que você fosse um pequeno burguês abastado ou freqüentasse os fliperamas fedorentos que existiam. Essa Aventura solo consistia apenas em uma história fracionada, sem uma ordem aparente, que se lia e pedia para tomar uma decisão. Se desejasse combater o cavaleiro que claramente possuía armas e destreza melhores que a sua deveria ir para o parágrafo número x, se tivesse bom senso e noção do perigo e quisesse fugir berrando feito uma garotinha de três anos que acabou de ver o capeta, o parágrafo y. Cada escolha te levava a uma morte dolorosa e desastrosa ou ainda para um possível fim glorioso. Eu, lógico que roubei no que pude para chegar ao fim glorioso.
         Todo esse parágrafo para explicar a ideia por trás de “Black Mirror: Bandersnatch”. Não é algo inovador em si, apenas pelo fato de aplicar essa ideia a uma plataforma de streaming. E isso é inovador. Contudo o que achei foi um pouco claustrofóbico. Não é uma história ruim, é uma história relativamente básica, como muitos filmes por aí. Contudo é o formato que mais instigaria. Você é chamado a tomar umas decisões, aparentemente aleatórias, durante a execução do filme. Porém, não há reais escolhas, os finais são limitados, o que é bem compreensível, acaba sendo entre duas opções apenas. Segundo li são cinco possibilidades de final mais suas variações. Eu não assisti a série toda de “Black mirror”, que a própria Netflix tem no catálogo, mas me pareceu, na minha pouca noção. que há alguns “easter eggs”, alusões colocadas propositalmente entre uma cena e outra ou até mesmo no cenário. Porém não posso afirmar categoricamente. Conhecendo “Black mirror” tudo é possível. Apesar de achar claustrofóbico, parece que quanto mais se escolhe mais volta ao começo, meio ou outra parte qualquer do filme, e acaba sendo divertida essa pseudointeratividade. Fica claro quando se presta atenção no filme que não temos real escolha e somos levados ao que o autor deseja. É interessante que em uma das minhas escolhas, bem estúpidas, a Netflix faz uma brincadeira tão bem colocada que o absurdo fica engraçado e vemos como “fazer o que parece ser mais legal” pode estragar uma história. O filme o tempo todo brinca com a situação de ser ou não um filme ou realidade e isso dá mais graça e deixa o interesse mais aguçado.
        
Os atores são bem legais e competentes em suas atuações e dou um destaque ao Eustáquio Mísero, ou melhor o ator que o interpretou em “Crônicas de Nárnia - A viagem do Peregrino da Alvorada”, Will Poulter. Ele cresceu e continua com uma presença bem significante em tela.  Já como Eustáquio ele roubava a cena e agora, se não faz o mesmo, não passa despercebido.  Fionn Whitehead faz o desajustado protagonista cheio de traumas, Stefan Butler, que vai envergar, sucumbindo ou não, à nossas escolhas sobre seus atos.
        Como experiência nova a história vale a tentativa. Mas imagino que muitos ficarão perdidos, ou como vi comentários no Facebook, “bugados” com a história. Por haver várias possibilidades de escolha nem sempre a história é linear. E quando se pensa que acabou uma nova escolha aparece e te leva para o começo para tentar tudo de novo. Se tem a memória da Dori, de “Procurando Nemo” esse filme se torna uma tortura. Caso seja “normal” divirta-se.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Aquaman


Aquaman





         Eu assisti “Aquaman” há umas três semanas e tive preguiça de escrever sobre ele. Porém, admito que essa preguiça não foi pelo filme ser ruim. Pelo contrário. Gostei bastante, até mais de que “Mulher-Maravilha”. Minha preguiça foi pelo fim de ano letivo e por preparativos para o Natal e outras situações chatas.
Para quem acompanhou a sua saga através dos desenhos por décadas percebia que sua aparência de padrãozinho estava deixando-o com uma verve não tão varonil. Nos quadrinhos deram um cabelo comprido a ele, acho que não ajudou muito, umas cicatrizes e ainda fizeram sua mão ser decepada e no lugar um gancho bem másculo. O estigma permaneceu, sem contar da real inutilidade dele diante dos poderes do Homem de Aço ou da Princesa Diana ou ainda da bufunfa e espírito empreendedor, que manda os outros se virarem para realizar o projeto “idealizado” por ele mesmo, o “Bátima”, parece um prefeito que São Paulo teve.... Ops, deixemos isso de lado...
        
A história possui muitos elementos e alguns personagens se perdem. A embotocada Nicole Kidman faz a Rainha Atlanna que acaba tendo um caso extraconjugal com um faroleiro humano. E daí vem o rebento que é Arthur com cara de nativo polinésio. O que acho formidável. Tirar a europicidade do mito original ajuda bastante. E sério, eu levei alguns minutos para perceber que era a Nicole, filha, para de colocar tanto preenchimento labial, só para.  Então, revigoram a imagem não tão viril que um homem de colan verde com um corpete laranja poderia passar. Quem faz o novo layout é Jason Momoa que transpira virilidade por todos os pelinhos do “subaco”. Por vezes até demais e de forma cômica. É um ogrão que não bebe, come com farinha. Ok, se Hollywood acha isso de masculinizar o personagem ao extremo o correto, quem somos “nozes” para contestar. Só lembro que após Freud nada é tão masculino assim... Enfim.
        
Vi que muita gente gostou, e muita gente não gostou. Mas foram assistir, pois a bilheteria está batendo recordes. Eu imagino que um macho que exala machitude só pode atrair todos os machos, ou não tão machos assim, para admirá-lo. Aprenda T’Challa, não deixe as mulheres mostrarem mais força que você, seja macho feito o Aquaman. Que, é o macho mais machudo agora no universo DC? Quem? Enfim, me empolguei com a hombridade do varão... (colocar que estou sendo irônico, pois alguns, visto as últimas eleições, não entendem se não pontuarmos bem, então: fui irônico!)
         O filme diverte, introduz, (Ui!), bem o personagem e lhe dá uma maior relevância, como foi cagada sua participação em “Liga da Justiça”, que bosta de participação, Arthur.  E o interessante que o vilão, seu irmão, olha outra demonstração de macheza, a escolha do nome phodástico atribuído a si mesmo, “Mestre do Oceano”, Patrick Wilson, só quer colocar os humanos no seus devidos lugares e fazê-los pararem de poluir os mares e devastar a fauna marinha, claro que a base de dominação, extermínio e destruição. Outras curiosidades são: Dolph Lundgren, um dos ícones dos anos de 1980 dos filmes de luta, junto com o Van Damme, fazendo o Rei Nereus e, algo que infelizmente perdi, pois vi a desgraça da versão dublada, Julie Andrews fazendo um personagem insólito que não vou entregar aqui, pode ser um pequeno spoiler. Odeio filmes dublados e estão se multiplicando as sessões com eles.
Muitos efeitos especiais e o fundo dos oceanos é retratado com uma beleza gráfica estapafúrdia. Imagino que assistir em 3D seja uma experiência interessante. Pena que me dá dor de cabeça. Em 2D ficou muito bonito também. Enfim, tem mais elementos que não citei aqui, e se você foi um dos poucos que não assistiram ainda, vá lá, seja macho e veja a macheza do novo, marombado e monstrão Aquaman. Os elásticos de seu cuecão/sungão de couro vão arrebentar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Bird box - Netflix


Bird Box




         A grande crítica ao filme “Bird box” que tenho está em quem assiste. Pois é, o filme é muito bom, com um roteiro bem estruturado, não entregando nada de forma óbvia, atuações competentes, principalmente da protagonista Sandra Bullock. Porém, como o filme é da Netflix, ficou acessível à crítica desembestada nas redes sociais. E as pessoas confundem opinião pessoal com o que o objeto criticado de fato é. Bird box não é o tipo de filme que eu goste de assistir. Me dá gastura. É apocalíptico, com suspense em torno de criaturas que não se sabe de onde vêm ou como são, e tem, de início não uma, mas duas mulheres grávidas e em consequência, duas crianças que precisam ser salvas pela dura  Mallorie/Bullock. Então no meu âmbito pessoal, particularmente e individualmente eu não gostei do filme. Mas, e esse é o ponto, o filme é muito bem feito.
É bom perceber que a metáfora gira em torno da maternidade e sua dureza e somente uma diretora conseguiria isso, um homem deixaria a aspereza de Mallorie truculenta e com certeza a colocaria em uma luta corporal com um dos monstros para tirar uma das crianças de suas garras. O filme é bom mesmo não sendo o meu estilo favorito. Percebem? Não é por eu não gostar que o filme é ruim. E a grande discussão nas redes sociais é essa: o filme é bom/ruim para mim que sou a medida de todas as coisas. Menos né individualista exacerbado da pós-contemporaneidade, bem menos, por favor.
        
Tudo começa quando do nada uma onda de suicídios na Rússia e Europa se estende para os EUA. E de repente, bem no retorno do pré-natal de Mallorie/Bullock sua irmã é acometida do surto. E ela foge, grávida, e resgatada por um grupo que se esconde numa casa na proximidade vai sobrevivendo. Logo eles descobrem que a visão é que faz o ímpeto do suicídio acontecer. Entre outros eventos que não direi aqui, pois podem caracterizar spoilers. Ela tem um filho e acaba cuidando de outra criança recém nascida também. Isso não é spoiler, no começo do filme assistimos Mallorie e as crianças fugindo para um rio. O recurso de se contar o começo da jornada da protagonista é o uso de fleshbacks para nos situar da história e nos dar o clima necessário para acompanhar a travessia perigosa por um rio com corredeiras.
         O filme pode parecer difícil àqueles que estão acostumados com suspense/terror que explicam tudo. Em filme algum se precisa explicar tudo. É o grande mal das produções pipocas americanas, dar conta de deixar o espectador com a sensação que não perdeu nada e entendeu tudo. Por vezes, para se entender tudo é necessário pensar um pouco. Gosto desses filmes que não são “didáticos”. Grandes realizadores são assim, fazem a obra e deixa a explicação para quem a assiste. E convenhamos Bird box não é nenhum “O sétimo selo” (Bergman), é cinema americano acessível. Só não mostra os monstros e nem conta de onde vêm. Se dispa do que os outros falaram sobre o filme e aproveite como o que ele propõe, um suspense com pitadas de terror. 

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O mundo sombrio de Sabrina - Netflix

O mundo sombrio de Sabrina - Netflix









          O que lembro do antigo seriado Sabrina - Aprendiz de feiticeira, com Melissa Joan Hart como a personagem título, era algo fofo, cheio de piadas, bem família e algo solar. Essa nova adaptação vai para o lado oposto. É escuro, sombrio, cheio de satanismo e com um humor quase inexistente. Quando muito, sarcástico. 
         
Isso não quer dizer que seja ruim. É bom. Foge dos padrões da antiga série e nos dá algo renovado, deixa, como já disse, o humor de lado e vai direto para um suspense/terror sobrenatural com direito ao aparecimento do capiroto em pessoa em vários momentos. Mesmo assim todos os elementos estão lá, até o Salém.  
          Almas mais sensíveis e cristãs abitoladas poderão estranhar muito a temática e as referências que tanto se usam em igrejas mas de uma forma deliciosamente deturpada que agradarão um público mais ilustrado. O Senhor da Luz nunca é mencionado e somente o "Senhor das Trevas", batismos e missas negras entre outros termos que soam tão estranho pelo seu uso inverso ao cristão que nos chegam. 
         
De início eu estranhei muito a atriz que foi escolhida, Kierman Shipka, mas admito que estava com a lembrança forte de Melissa na cabeça. Após alguns episódios vi que a atriz era muito boa e uma ótima escolha para o papel. Ela consegue transitar entre a inocência e a malícia que o papel pede. O restante do elenco também se mostrou muito competente e conhecido, até certo ponto. Lucy Davis faz a simpática tia Hilda que não consegue se segurar e fala tudo o que não deveria à Sabrina e Miranda Otto vai na metida Zelda com uma força mais instigante e maldosa. Para quem não lembra das duas, Davis fez Etta Candy, secretária do crush da Diana em Mulher-maravilha e Otto é Éowyn, única capaz de realmente derrotar, na batalha final de Senhor dos Anéis, Sauron. Entre outros nomes. 
         
Por mais que a história seja pesada não é algo que dê medo de assistir sozinho em casa, a não ser que você já viva rodeado de situações paranormais em sua residência. Neste caso, eu recomendo um sacerdote de qualquer religião para resolver. No outro caso, de não ter nenhuma entidade errante em sua casa, vai depender do tipo de "cagão" que você é. Eu sou do tipo que se impressiona fácil com filmes, tanto que evito assistir os de terror durante a noite. E foi muito tranquilo assistir essa série. Admito que há cenas fortes. No mais é diversão. Numa sentada, como de costume, dá para assistir tudo num fim de semana. Conta com dez episódios com a média de uma hora cada  um. Com certeza dará pano para a manga entre os fundamentalistas cristãos. Contudo eu só os vi reclamando novelas da globo com gays ultimamente. Será que estão sem dinheiro para assinar a Netflix? Ou é só chatice de um grupo que precisa de achar um inimigo palpável para se sentir melhor e o Capiroto é muito diáfano e etéreo para a capacidade materialista deles? 
       
  Enfim, a fotografia é muito bonita e O mundo sombrio de Sabrina arrasa. Boa diversão e vamos torcer para a Netflix continuar a história numa segunda temporada.   



segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Christopher Robin - Um Reencontro Inesquecível



Christopher Robin - Um Reencontro Inesquecível


        



   
     Este filme não é muito para o brasileiro, não que os outros sejam, afinal não somos pensados como público alvo. Digo isso pela temática de “reencontrar a criança interior”. No nosso país esse não é problema. Só lembrar episódios patéticos que marmanjos bradam com convicções defendendo alguma idiotice “Era só um garoto...”, “Ele tem espírito de criança ainda...”, “São garotos não sabem o que fazem...”. E quando pensamos que é um problema só dos homens, eu recordo que têm muitas mães que tratam os “filhilhos” como incapazes etários, lavando passando, cozinhando e fazendo suas vontades, mesmo o “neném” tenha já seus quarenta anos. Exagero meu? Conheço quem queira tomar leite com toddy levado na caminha antes de dormir pela mamãe... Ops... Perdendo o foco...
        
Eu mesmo não sabia antes que, na história original, o personagem principal não era o meigo ursinho, era Christopher. E que tinha sido baseado em fatos reais sobre uma ursa ter chegado ao zoológico de Londres. Nesse ensejo, o garoto Christopher ganha uma coleção de bichinhos de pelúcia, um urso, um porco, um tigre, um burro e um canguru que ainda são mantidos relativamente intactos em Nova York em algum museu, pelo que sei. O filme toma de uma temática saudosista. Ao contrário do brasileiro, Christopher é assolado pela vida adulta e esquece seus amados brinquedos que tomaram vida em sua fértil imaginação. Com os problemas e as descobertas da vida adulta não há espaço mais para Pooh que espera seu amigo voltar. Contudo a criança interior nunca abandona a pessoa e numa situação corriqueira com sua filhinha, que sofre com a ausência do pai, que trabalha demais, através de Pooh, ela acorda e volta para a vida de Christopher. Como bom anglo-saxão primeiro ele tenta resolver tudo de forma racional e esbarra em duas coisas: todos conseguem enxergar o Pooh, um ursinho de pelúcia encardido falante, e segundo, diante de uma barriguinha faminta como se controlar? É necessário mel, muito mel!
        
De forma periférica o Ursinho Pooh, aqui ainda era “Puff”, fez parte de minha infância, pouco com desenho, e mais com os almanaques de férias da Disney. Gostava muito da figura comilona. Identificava-me muito com a simplicidade desse urso que vivia se metendo em encrencas por um bocado de mel. Eu como criança gordinha, que adorava comer, era um Pooh em vida. Assim, fiquei feliz quando foi anunciado o live action dessa história. De inicio pelo teaser que vi achei feios os bichos, porém, pela lógica e recordando a aparência dos originais, que citei acima, faz sentido a estética escolhida pelos produtores. No mais o filme, tirando a nostalgia, é bem comum. Ewan McGregor faz o garoto que cresce e esquece seu camarada de pelúcia e todos seus amigos. Uma ressalva sobre esse ator, ele ficou tão sem graça, prometia tanto em “Transporting” ou ainda “Cova rasa”. Não que ele seja ruim, ele é bem competente. Mas sem grande expressão. Ele ficou bem pasteurizado, e olha que ele sempre está em grandes produções.
        
Enfim, o filme é fofo, mesmo não falando diretamente a nós. Ver o Pooh ganhando vida em telas é de dar aquele arrepio na alma. Vibrar com suas atrapalhadas, como confundir uma prateleira com uma escada ou ficar emocionado e feliz com um balão vermelho, cutuca lá dentro nossa criança interior, por mais externalizada que ela seja por aqui. É um filme pipoca que garante um “ownghtchy” de suspiro nostálgico. Mesmo tratando de clichês já. Mas como um amigo, mais novo, me lembrou, nem todo mundo presta atenção nisso ou viu outros filmes com esses clichês. É, realmente acho que meu velho interior colocou a coleira na criança interior e a amordaçou, ou está tentando, ando bem cri-cri, até termos antigos uso e estou gostando de coisas de pessoas mais velhas. Socorro!






quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Animação: O vazio - Netflix

O vazio - The Hollow





         
The Hollow, no original, começa com um mistério: uma garota e dois garotos presos numa sala, ao estilo "Jogos Mortais", sem saída aparente, e sem serra ou grilhões atados aos pés. Afinal é uma animação para a garotada e sangue não é bem-vindo.  Para ajudar no mistério, não lembram de nada, nem os próprios nomes. Tudo instiga a curiosidade de todos. E conforme os capítulos são transpostos vai ficando mais interessante. Até que lá pelo sétimo episódio, quando começa a perder a força e a graça.
Algumas coisas já são "resolvidas" e a força do mistério vai dissipando até um fim um tanto frustrante. O desenvolvimento não é tão primoroso. O desenho em si é bem comum em seus traços grossos. Como diversão para um fim de semana, sem nada de interessante,vale o tempo empregado.

Os personagens não são rasos e isso é um ponto alto. Pensamos estar diante de clichês e eles são trabalhados de uma forma um pouco além do óbvio. Mas essa profundidade se perde ao sabermos o que realmente está acontecendo. 

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Clássicos: Núpcias do escândalo

 Núpcias do escândalo 






            O título em português é um soco no estômago conservador da época que estreou por aqui "Núpcias do escândalo" que no original é apenas "The Philadelphia Story". O "escândalo", para a família brasileira de bem dos anos de 1940, nada mais é do que uma mulher independente, Tracy Lord, interpretada pela fabulosa Ketharine Hepburn, definir suas escolhas românticas. O filme é bem sutil com as situações, mas vemos no começo Tracy colocando para fora o marido Dexter, vivido por Cary Grant no auge de sua beleza.
Ainda percebemos que ele insinua dar um soco no rosto da esposa. Pula-se vários meses e descobrimos que Tracy acabou o casamento por um "capricho" feminino, e ao longo da narrativa descobrimos  que o capricho é relacionado a Dexter não beber mais, o que fazia com muita frequência. Porém, a fila anda, e Tracy irá se casar de novo com George (John Howard) um novo rico local. Mas só reafirmando aqui, Tracy é independente, rica não precisa se sujeitar a algo que não queria. Nem a seu pai, que traiu sua mãe com uma dançarina, se sujeita e não o convida para o casamento. É nessa "sutileza" do roteiro, de Tracy terminar o primeiro casamento por causa de bebedeira do esposo, que vemos a grandiosidade de "The Philadelphia Story" que foi uma adaptação de um livro, homônimo, de Philip Barry. 
  Hepburn está fabulosa e foi indicada ao Oscar perdendo para Ginger Rogers no filme "Kitty Foyle". Dou essa referência do prêmio Oscar por ainda ser um grande comparativo. Mas saibam que tenho ressalvas a este prêmio, e não poucas. Como ator principal James Stewart foi contemplado com o mesmo. Realmente ele está ótimo, um papel que repetiria sempre em tela, o cara bom, esforçado e meio desiludido por vários motivos da vida. Grant não foi lembrado em nenhuma indicação mas ele tem um peso com sua interpretação forte de um homem que quer recuperar sua amada ex-esposa e cria um plano mirabolante e manipula a todos para conseguir seu intuito. Grant só receberia um Oscar honorário em 1970. 

Então, a história é simples: um marido, Dexter (Grant), que quer reconquistar a ex-esposa, Tracy (Hepburn), e no meio do caminho cria um plano complexo, pois ela já está noiva novamente, mas envolvido nesse plano, Macaulay Connor (James Stewart), acaba por se apaixonar por Tracy desmerecendo sua fiel escudeira/companheira Elisabeth Imbrie (Ruth Hussey). No fundo o "escândalo" foi em função de insinuações sobre um possível triangulo (ou quarteto?) amoroso, pois Tracy acaba balançando por Connor porém a moral americana ainda acaba tendendo não pela ruptura definitiva do primeiro casal e sim pelo reatamento entre Tracy e Dexter e, finalmente Connor e Imbrie. Nessa quem acaba sozinho é George. Até o pai de Tracy volta para casa e sua esposa o perdoa. Tudo muito conservador apesar do "embrulho" moderno. 
         
 Com toda certeza que esse filme é um avanço no esquema de mocinho e mocinha em filmes de comédia romântica e também na construção de uma personagem forte feminina que não aceita o que a sociedade lhe impõe.              Atuações inspiradíssimas, roteiro leve, apesar do tema espinhoso, omissões de informações bem pontuadas para poder ficar claro o que não se falou. Tudo conclui para uma ótima obra.           
       
  A direção fica ao encardo de George Cukor que consegue tirar o máximo do roteiro e dos atores. Um filme que vale o tempo gasto para assistir e, apesar de algumas perrengas conservadoras, ainda nos diz muito nesse ano de 2018. 

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Clássicos: Alma em suplício - Mildred Pierce


Alma em suplício – Mildred Pierce
(1945)





Quando digo que os filmes de hoje estão caretas não é exagero.
Esse filme de 1945 trata de um tema que hoje em dia seria considerado bem espinhoso e por certo nenhum produtor engendraria uma empreitada dessas. Uma mulher, trabalhadora, após descobrir que o marido a trai se separa e acaba por tentar manter o padrão de vida que levava antes.
Principalmente para garantir a felicidade das filhas. E com muito esforço e um pouco de sorte ela se torna uma empresária bem sucedida no ramo de restaurantes. Contudo, se envolve e casa com o cara errado e este acaba por “corromper” sua filha com um estilo de vida de muita farra e gastos. Lógico que esse gasto desmedido leva a família à falência e no meio dos problemas financeiros o marido dessa mulher é assassinado com vários tiros.  Não fica claro se a garota era ou não menor de idade. O roteiro, ardilosamente esconde isso.  Intuímos que ela já é bem crescida. E o que o roteiro não esconde é que apesar do padrasto a envolver num estilo de vida desregrado ela nunca foi uma boa pessoa. Por mais que sua mãe tenha se esforçado a garota é interesseira, inconsequente e ambiciosa. E o drama se instala não no caráter duvido da garota, e sim no suplício, do título em português, que a mãe passa.
O assassinato é do marido de Mildred Pierce, Monte Beragon, interpretado afetadamente por Zachary Scoot. Mildred é levada à delegacia e tem que prestar depoimento do pouco que diz saber sobre o caso. É por seu ponto de vista, pelo seu testemunho, que vemos a vida exemplar de uma família comum americana abalada pelo desemprego, inicialmente, do marido e depois a traição. Mildred é um misto de força, determinação, comiseração, resignação e tormento. Quem interpreta é Joan Crawford, que dizem ter o oposto desse caráter.  Contudo, a personagem é uma maternal protetora de suas filhas. E percebe desde sempre que a filha mais velha, Veda (Ann Blynth) não é tão boa e brilhante quanto a mais nova, Kay (Jo Ann Marlowe).
Porém a fofa e promissora Kay morre tragicamente fazendo que Mildred se entregue a um erro comum: mimar demais a filha. É o fermento para o insucesso. A garota cresce mal-agradecida e piora a cada dia tendo até vergonha da mãe ganhar seu dinheiro honesto como dona de restaurante.  Mildred não mede esforços para a gradar a filha que é um verdadeiro saco sem fundo. E no meio desse processo surge Monte, de início tendo real intenção para com Mildred, depois entrando num arriscado e duvidoso acordo. O grande problema de Mildred, e sua parcela de culpa, é sempre querer comprar o amor da filha. E isso é a sua ruína. De inicio a suspeita do crime recai sobre o ex-marido Bert (Bruce Bennett), e por fim sobre si mesma.
         O mais interessante é o um filme de mais de setenta anos ser tão ágil, na medida do possível lógico, instigante e gostoso de assistir. Crawford é um arrombo de interpretação. Sua beleza madura dá o ponto certo junto a sua voz forte e interpretação comedida. É estarrecedor a qualidade que o filme atinge.
O papel lhe rendeu um Oscar de melhor atriz no ano seguinte. E, uma fofoquinha, prêmio este que recebeu na cama pois simulou estar debilitada para receber o prêmio pessoalmente na cerimônia. Crawford era uma personalidade à parte, única, cheia de pequenas e grandes extravagâncias.  E tudo isso fica escondido por sua interpretação. O filme é uma pérola noir que vale todos os minutos em tela.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Clássicos: Ninotchka


Ninotchka
(1939)







        
Debutei com a Greta Garbo em “Ninotchka”. E minha impressão foi de uma atriz presa a seu estereótipo de seriedade. Uma mulher linda, sofisticada que faz bem um papel de mulher distante ou enigmática. Sei que é dizer o mesmo que todo mundo sobre Garbo, mas apenas reforço aqui o que já se sabe dela.
      
   A história de “Ninotchka” segue estilo de comédia romântica. Enviados soviéticos precisam vender joias apreendidas da nobreza que foi deposta pelo regime comunista. Iranoff (Sig Ruman), Buljanoff (Felix Bressart) e Kopalski (Alexander Granach) se mostram um trio atrapalhado e incapaz de resolver um imbróglio que são envolvidos pelo conde Leon d’Algout (Melvyn Douglas) que quer recuperar as joias para a verdadeira dona, Condessa Swana (Ina Claire). Com a incompetência do trio uma representante é envidada por Moscou para por ordem na bagunça, Ninotchka Ivanovna Yakushova (Garbo).
        
Ninotchka se mostra assexuada, dura, eficiente, séria, obstinada e focada em sua missão. Contudo os deleites da vida capitalista vão corrompendo sua alma feminina. De inicio acha tudo estranho, extravagante e desnecessário, mas vai se convertendo. E percebe como, apesar de tudo que pregam na sua terra natal no pós-revolução, as demandas capitalistas, e parisienses, lhe apetecem mais. Somado a isso temos seu encontro por acaso com d’Algout. Um típico bon vivant que quer recuperar as joias para sua amiga/amante Swana. Coloque nessa mistura toda um humor simpático e aparentemente inocente e um pouco de romance e teremos a mistura perfeita. O roteiro é encabeçado por Billy Wilder e a direção de Ernest Lubitsch ambos com clássicos consagrados e reconhecidos em suas grandezas.
        
Até então, Garbo era mais conhecida por sua presença em filmes dramáticos e colocá-la em uma comédia foi um jogo bem orquestrado e com um ótimo resultado final. No fundo vemos que a primeira parte, onde Garbo é mais taciturna, há mais tranquilidade entre a personagem e a atriz. Já na segunda parte vemos a tensão que se instala. Não que seja ruim e desmereça a atuação de Garbo.
Pelo contrário, ela faz o seu máximo e consegue competência. Diante de todas as críticas sociais que o filme carrega temos o romance impossível de uma agente soviética com um trambiqueiro francês que consegue mover montanhas para fica ao lado do amor de sua vida. Se o capitalismo corrompeu o coração soviético de Ninotchka, a paixão corrompe o cínico coração de d’Algout. Os pontos românticos nos soam um tanto quanto piegas aos nossos olhos contemporâneos. Afinal são décadas de aperfeiçoamento do endurecimento de nossas almas áridas. Porém se nos entregarmos ao clima essa estranheza se desfaz e conseguimos aproveitar mais o filme. O tempo em tela passa voando e o filme em momento algum aborrece.

         Perfeito para uma tarde chuvosa em casa se estiver de bobeira. Ou para qualquer outro momento de sua folga. No mais, preciso ver Garbo em algo sério.