segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Black Mirror: Bandersnatch


Black Mirror: Bandersnatch




         Quando trabalhei numa locadora, um sistema antiquado onde se alugavam fitas de VHS de filmes para se assistir em casa em aparelhos bem arcaicos numa televisão de tubo, em meados dos anos de 1990, tive contato, através da banca de revistas que havia lá, com a revista Dragon Brasil, e depois Dragão Brasil. Era sobre RPGs, uma espécie de jogo de complexa desenvoltura com dados que podem ter 3954 faces. Quem assistiu “Strang things” vai ver o jogo apresentado no começo. Em uma edição especial que veio com o título “Aventura solo”, que comprei evidentemente, descobri o que seria um jogo interativo. Estava no período anterior a internet e jogos eletrônicos longe do alcance, a não ser que você fosse um pequeno burguês abastado ou freqüentasse os fliperamas fedorentos que existiam. Essa Aventura solo consistia apenas em uma história fracionada, sem uma ordem aparente, que se lia e pedia para tomar uma decisão. Se desejasse combater o cavaleiro que claramente possuía armas e destreza melhores que a sua deveria ir para o parágrafo número x, se tivesse bom senso e noção do perigo e quisesse fugir berrando feito uma garotinha de três anos que acabou de ver o capeta, o parágrafo y. Cada escolha te levava a uma morte dolorosa e desastrosa ou ainda para um possível fim glorioso. Eu, lógico que roubei no que pude para chegar ao fim glorioso.
         Todo esse parágrafo para explicar a ideia por trás de “Black Mirror: Bandersnatch”. Não é algo inovador em si, apenas pelo fato de aplicar essa ideia a uma plataforma de streaming. E isso é inovador. Contudo o que achei foi um pouco claustrofóbico. Não é uma história ruim, é uma história relativamente básica, como muitos filmes por aí. Contudo é o formato que mais instigaria. Você é chamado a tomar umas decisões, aparentemente aleatórias, durante a execução do filme. Porém, não há reais escolhas, os finais são limitados, o que é bem compreensível, acaba sendo entre duas opções apenas. Segundo li são cinco possibilidades de final mais suas variações. Eu não assisti a série toda de “Black mirror”, que a própria Netflix tem no catálogo, mas me pareceu, na minha pouca noção. que há alguns “easter eggs”, alusões colocadas propositalmente entre uma cena e outra ou até mesmo no cenário. Porém não posso afirmar categoricamente. Conhecendo “Black mirror” tudo é possível. Apesar de achar claustrofóbico, parece que quanto mais se escolhe mais volta ao começo, meio ou outra parte qualquer do filme, e acaba sendo divertida essa pseudointeratividade. Fica claro quando se presta atenção no filme que não temos real escolha e somos levados ao que o autor deseja. É interessante que em uma das minhas escolhas, bem estúpidas, a Netflix faz uma brincadeira tão bem colocada que o absurdo fica engraçado e vemos como “fazer o que parece ser mais legal” pode estragar uma história. O filme o tempo todo brinca com a situação de ser ou não um filme ou realidade e isso dá mais graça e deixa o interesse mais aguçado.
        
Os atores são bem legais e competentes em suas atuações e dou um destaque ao Eustáquio Mísero, ou melhor o ator que o interpretou em “Crônicas de Nárnia - A viagem do Peregrino da Alvorada”, Will Poulter. Ele cresceu e continua com uma presença bem significante em tela.  Já como Eustáquio ele roubava a cena e agora, se não faz o mesmo, não passa despercebido.  Fionn Whitehead faz o desajustado protagonista cheio de traumas, Stefan Butler, que vai envergar, sucumbindo ou não, à nossas escolhas sobre seus atos.
        Como experiência nova a história vale a tentativa. Mas imagino que muitos ficarão perdidos, ou como vi comentários no Facebook, “bugados” com a história. Por haver várias possibilidades de escolha nem sempre a história é linear. E quando se pensa que acabou uma nova escolha aparece e te leva para o começo para tentar tudo de novo. Se tem a memória da Dori, de “Procurando Nemo” esse filme se torna uma tortura. Caso seja “normal” divirta-se.

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