sábado, 1 de julho de 2017

Julho (Junho): Mês Temático - Filmes LGBTs - Filadélfia

Filadélfia






         Filmes LGBTs sempre formaram um nicho específico. E isso não impediu de se fazer ótimos filmes. E antes de “Filadélfia” muitos atores faziam filmes gays e se estigmatizavam.  Pelo menos é o que recordo através de minha memória limitada. Então “grandes” atores evitavam associar seu nome a “certos” nichos e produções. Até que Tom Hanks decidiu fazer esse filme com Denzel Washington. Tudo bem que o então Hanks configurava mais como um ator comediante de filmes leves e simpáticos, e Denzel era  um “coadjuvante” negro que não conseguia espaço na indústria cinematográfica. Porém algo já indicava que esse filme seria um tanto diferente, o diretor era Jonathan Demme. Esse diretor para quem não lembra ou não sabe conseguiu a façanha de ter um filme ganhador das 5 categorias principais do Oscar – Melhor Filme, Diretor, Ator, Atriz, Roteiro (adaptado) – feito que não acontecia há cerca de 15 anos: “O Silêncio dos Inocentes”.
      
   Com realizador de tamanho peso uma história de segmento gay tomava outra proporção. A história era interessante o suficiente para chamar a atenção de produtores que sempre pensavam pelo lado do óbvio e lucrativo. E o roteiro de “Filadélfia” não era óbvio. Falava de temas delicados que afugentavam o público médio americano: gays e AIDS.

        
E o reconhecimento veio, porém menos prêmios que o esperado. Denzel mais uma vez preterido e Hanks alçado ao estrelato e levado a sério como ator capaz de interpretar drama através do advogado Andrew Beckett que, portador do vírus HIV, começa a manifestar a AIDS (legenda inglesa para a Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida).Na história seus chefes desconfiados o mandam embora forjando um inapetência técnica.  Para se fazer valer seus direitos vai atrás de um advogado que assuma sua causa. Pelo processo ser contra um grande escritório de advocacia ninguém quer pegar o caso. Sem contar nas implicações que o caso causaria, Andrew é gay e tem uma doença temida e pouco entendida na época. Se hoje o HIV foi controlado com medicamentos e a AIDS não se manifesta de forma mortal em meados dos anos de 1990 era ainda um flagelo que ceifava a vida dos portadores. E vemos essa ignorância, no sentido de não conhecer e também de agir de forma escrota, no advogado Joe Miller (Denzel) que sendo heterossexual não sabe do universo gay e se incomoda com a doença de Andrew. Até se informar um pouco mais e ver com os próprios olhos o preconceito vir à tona  contra Andrew numa cena na biblioteca pública. Por fim aceita o caso e vemos um show de interpretação que culmina numa cena que até hoje me arrepia apenas por lembrar.

        
Ambos estão estudando o caso e vendo como agirem diante do tribunal e ao fundo ouvimos uma opera. É Maria Callas interpretando a ária do terceiro ato da ópera “Andrea Chérnier” de Umberto Giordano, “La Mamma Morta”. Como é de esperar, Joe não conhece muita coisa de ópera. Andrew vai tentar explicar o sentido.  Joe não entende a língua que a ópera é cantada, Porém, é capaz de entender o sentimento envolvido, só não é capaz de deixar suas barreiras heterossexuais e machistas de lado para se permitir sentir. Andrew está debilitado pela AIDS e atrelado a um soro em seu pedestal que forma um macabro parceiro de dança. A música aumenta, as luzes tomam o tom avermelhado do sangue, da paixão, a vida que Andrew está perdendo. Joe tem sua, até então levantada, guarda quebrada. A ópera é catarse de Andrew e Joe percebe que a sua frente não é um gay, não é um cliente não é um “aidético”, é um homem que ama viver e está morrendo e seu único conforto é desfazer a injustiça que lhe acometeram. Andrew não explica a música, ele vive a música, em cada som, em cada verso, em cada respirar de Callas. Joe se convence ali que indiferente a qualquer coisa, preconceito ou falta de informação, Andrew precisa ser compreendido e aceito. Guardas no chão e Joe vê a magnanimidade do que tem a sua frente. Se há tensão ali não é a sexual e sim a tensão de um homem comum diante de um homem extraordinário por sua condição. Joe percebe o óbvio e segue adiante lutando a favor de Andrew.


        
“Filadélfia”  é icônico em muitos sentidos. Deu visibilidade a algo que todo mundo via, mas preferia fazer de conta que não existia. E ainda nos dá um ótimo drama para configurar na prateleira cultural que devemos ter sempre cheia de boas coisas. 


Direção: Jonathan Demme
Música composta por: Howard Shore
Canção original: Streets of Philadelphia
Prêmios: Oscar de Melhor Ator, mais
Elenco:Tom Hanks, Denzel Washington, Antonio Banderas, Jason Robards, Joanne Woodward e outros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário