sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Garota Dinamarquesa e 45 Anos: Franqueza Inexistente e Existente

Garota Dinamarquesa e 45 Anos: Franqueza Inexistente e Existente







                 
         A diferença entre “Garota Dinamarquesa” e “45 Anos” é a franqueza existente em um e inexistente no outro.

         “Garota Dinamarquesa” conta a história de como o pintor Einar Mogens Wegener (Eddie Redmayne), com uma “ajuda” de sua esposa Gerda (Alicia Vikander), se “transforma” em Lili Elbe. É uma história de descoberta de gênero. Um homem, que reprimido pela sociedade, assume papel imposto e que em determinado momento descobre que seu gênero verdadeiro não condiz com seu corpo biológico e começa a se vestir de mulher e por fim tenta uma cirurgia, a primeira da história, de mudança de gênero, o que hoje é chamada de Cirurgia de Redesignação Sexual.



         Em si mesma a história é bem interessante. Porém, nas mãos de produtores americanos preocupados em pasteurizar tudo, ficou insossa. Vários fatos históricos e relevantes ficaram de fora para pintar uma imagem bem mais encantada do que realmente aconteceu.   Sem contar que os críticos protestaram por um ator cisgênero (pessoas cujo gênero é o mesmo que o designado em seu nascimento – informação by Wikipédia) fazer o papel de uma pessoa transgênera (condição onde a expressão de gênero e/ou identidade de gênero de uma pessoa é diferente daquelas atribuídas ao gênero designado no nascimento – informação by Wikipédia – usei para ficar mais certinho na explicação). 


             O meu “porém” está, não só nesses pontos, mas também na questão da atriz Alicia Vikander ser considerada coadjuvante. Sendo que ela carrega mais da metade do filme sozinha na sua atuação. Do jeito que o roteiro foi formulado dá a entender que a “Lili”, não só estava “presa” dentro de Einar, mas também foi uma “construção” de Gerda.  E isso a torna uma protagonista na história da “Garota Dinamarquesa” e só para concorrer a uma estatueta/jabá a delegaram o título de coadjuvante. Por isso não há “franqueza” nesse filme. Tinha tudo para ser contraventor, inusitado e revelador e não foi. É triste ver uma história dilacerada e estragada pela produção que tem medo da reação do público médio.





         Por isso acho que “45 Anos” acaba sendo mais verdadeiro, apesar de ser baseado em ficção, do que “Garota Dinamarquesa” que tem por trás fatos reais. Com uma premissa “bucólica”, “45 Anos” faz um questionamento bem profundo sobre o que vem a ser realmente um relacionamento, o amor ou ainda se a memória de alguém do passado pode levar a uma traição no relacionamento. Para entender melhor: Kate e Geoff Mercer vão fazer 45 anos de casamento. Por Geoff ter ficado doente na época dos 40 anos de casório eles não fizeram festa. Já melhor de sua doença Kate decide fazer a comemoração com os amigos e parentes. Idosos, sem filhos eles levam uma vida calma e aparentemente sem segredos.  

        Há cerca de cinco dias da comemoração, Geoff recebe uma carta informando que o corpo de sua namorada desaparecida há décadas foi encontrado numa geleira nos alpes. Como ele tinha dado a informação que eram casados na época, ele acabou sendo o único contato para se mandar o comunicado de óbito. Geoff fica abalado pois a garota foi seu primeiro grande amor. Um tempo depois conheceria Kate com quem acabou se casando. E isso causa uma crise no casamento dos dois. Kate passa a ter dúvidas e Geoff fica obcecado com a situação. Aí está a franqueza, numa aparente calmaria com pessoas normais o acaso faz brotar sentimentos que até então não existiam, ou estavam submersas no inconsciente, histórias escondidas são reveladas e questionamentos existenciais sobre a relação dão outro tom ao desfecho.

         Se no “Garota Dinamarquesa” a interpretação de Vikander é o que dá sustância ao filme em “45 Anos” o casal vivido por Tom Coutenay, o reticente e confuso Geoff, e Charlotte Rampling, a atordoada e magoada esposa Kate, são ótimos. Por mais que Rampling consiga mais brilho não tem como não considerar seu parceiro em cena como menos digno. A história é dos dois até o fim. No outro filme a história é de uma, a “garota” dinamarquesa, porém, é através de outra, Gerda, que tudo se desencadeia. E quem é que deveria ser a principal perde espaço para uma suposta “coadjuvante”.

         Como disse a interpretação de Vikander é bem melhor que de Redmayne, que não dá fôlego suficiente a Lili. Já Charlotte Rampling arrasa. Sempre achei que fazer pessoas comuns verossímeis o exercício interpretativo mais difícil de atores e atrizes. E sua Kate é soberbamente uma pessoa simples.
         Porém, não ache que “45 Anos” é uma história simplória, pode ser simples mas tem desdobramentos sutis e complexos. Até um suspiro no finalzinho não é apenas um suspiro. Já “Garota Dinamarquesa” falha, por mais “bonitinho” que possa parecer e tem a profundidade de um prato.  


E o Oscar???? Se ano passado estava preocupadíssimo em assistir a todos os indicados nesse ano só tenho a dizer: “DANISH” O OSCAR!!!!!!

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