Os Oito
Odiados: Um típico Tarantino - Ame ou Odeie
Demorou um pouco para ficar pronto mas
ficou. Não vou entrar na “mitologia” de ser 8º filme de Quentin Tarantino. E
infelizmente terei um pouco de spoillers. Sempre tentando não entregar o ouro.
Andei lendo muita coisa sobre o
Tarantino. E como anda controverso seus comentários e seus filmes. Sempre achei
que ele era simplesmente unanimidade entre os “cults”. Mas não, ele tem tantos
haters quanto admiradores na internet. O que acho bom, tecnicamente isso motiva
o debate a respeito de sua obra. Em contrapartida, andei lendo alguns argumentos
bem simplórios para tentar explicar o quanto ele é bom ou ruim.
O filme é estranha e inversamente contrário
a rotineira “megalomania” do diretor e roteirista. Parece não caber dentro do
estilo “tarantinesco”. Porém é tudo sorrateiramente calculado para nos colocar
no clima. Tudo se passa no interior
selvagem do estado do Wyoming, onde uma tempestade de neve lambe as traseiras
de uma diligência típica do Velho Oeste com seis cavalos. E a primeira provocação:
todos os cavalos são pretos e somente um branco. Sim, prepare-se, o tempo
inteiro haverá referências explícitas ao preconceito inter-racial. Porém se o
preconceito mais evidente é o racial, subjaz o preconceito contra a mulher. Há
uma mulher que não é mera válvula de escape para um amor entre os personagens.
Ela é uma das pessoas odiadas e é odiável. Porém, recebe tanta porrada gratuita
quanto o personagem negro é ofendido por sua cor.
Resumidamente, para não nos perdermos,
vou dar um breve resumo. Como disse uma diligência está vagando velozmente
fugindo de uma nevasca que lambe sua rabeira. Há duas pessoas lá dentro: o caçador
de recompensa John “The Hangman” Ruth (Kurt Russell) e sua recompensa/presa Daisy
Domergue (Jennifer Jason Leigh) que estão rumando para a cidade de Red Rock
para que a mulher seja condenada e enforcada por crimes cometidos. No meio do
caminho surge o soldado negro Marquis Warren (Samuel L. Jacson) que pede
carona. Com muito custo ele recebe a carona e mais adiante há outro necessitado
no meio da estrada. Este se apresenta como o Chris Mannix (Walton Goggins) novo
xerife de Red Rock. E novamente com muito custo é aceito dentro da diligência.
Nesse tempo, todos os comentários racistas são já colocados com uma verborragia
típica de Tarantino. Lembrando que historicamente tudo se passa nos EUA
Pós-Guerra Civil e os negros haviam há pouco sido libertados. Grandes rusgas
persistiam entre os “cidadãos” americanos, o povo vitorioso do norte e o povo
do sul, que acabou perdendo a guerra, subjazem no por trás do roteiro motivando
todos os diálogos, racistas ou não. Sem contar que dois personagens, o xerife Mannixe
o General Sanford Smithers, que logo comento mais sobre ele, são do Sul e não
engolem a questão de perderem a guerra civil. E lá se vão até chegar em uma
casa comercial, o Armarinho da Minnie, no meio do caminho para se protegerem da
nevasca. Há no local mais 4 pessoas: o velho General Smithers (Bruce Dern), que
já foi citado, Oswaldo Mobay, o carrasco de Red Rock (Tim Roth), Bob, o
mexicano que está tomando conta do Armarinho (Demian Bichir) e Joe Gage que
está indo visitar a mãe doente (Michael Madsen). Todos com reputações duvidosas
e todos aparentemente sem poderem provar suas identidades. Então, cai a nevasca
e eles ficam confinados num ambiente restrito. E começa um jogo de desconfiança
entre os personagens. Principalmente por parte de John Ruth que quer garantir
sua recompensa ao levar Daisy Domergue
até Red Rock.
O que se sucede, sem entregar mais, é
um jogo de reviravoltas que só Tarantino pode proporcionar. Tudo regado a
litros de sangue. Não tantos litros como em Kill Bill mas, mais que o
suficiente.
As grandes falas estão lá. Porém
reduzidas às proporções do tempo histórico sugerido e do espaço físico
escolhido. Além do preconceito direto explorado no roteiro, a exaustão
praticamente, e da violência gratuita sofrida por Daisy, a violência gratuita
também desenrola na tela. E temos os momentos altos da trama. Como de costume o
filme é dividido em capítulos com títulos aparentes em uma tela escura. Sem
contar esses momentos, pois todos são praticamente spoilers, eu só reclamo das
“nojeiras” que Tarantino coloca para nos chocar, todas envolvendo muito, muito,
muito sangue cênico.
Apesar de ser um filme rocambolesco,
com o humor desagradável de Tarantino, achei um filme bem melhor que Django
Livre. E é aí que entra a polêmica da internet. Um tanto adorou, outro tanto
odiou. O roteiro é bem articulado e propõem um jogo bem próximo do pastelão e
brinca a todo momento com as influências de outras histórias já consagradas.
Típico do QT. Mas não se atenha ao que é colocado de forma rasa na tela, por
trás do conflito entre os oito personagens há algo mais sutil. Algo que faz o
filme ficar maior e genial. Não são meras pessoas que estão ali brigando dentro
de uma cabana. São pessoas que simbolicamente representam o início dos EUA. E
se pensarmos por aí, a diferença é grande.
Roteiro não é o melhor do QT em minha
opinião, mas falta uns dois ou três para eu poder realmente julgar. Ainda
prefiro “Kill Bill (Vol. 1 e 2)” e depois “Pulp Fiction” e “Bastardos
Inglórios” nessa ordem. As interpretações estão inspiradas. Tanto que foi uma
pena o Samuel L. Jackson não receber nenhuma indicação ao Oscar (prêmio que a
cada ano eu considero menos). Porém, além de Trilha Sonora para Enio Morricone,
temos uma indicação para Jennifer Jason Leigh como Daisy Domergue e Melhor
Fotografia. As cenas externas, na neve, realmente são fantásticas.
Um bom filme, e um ótimo filme para
quem gosta de Tarantino. Já para quem não gosta nem se sujeite a assistir. Não
vale o preço alto do ingresso.
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