Crônicas sobre o que for, esenhas de filmes, séries, livros e tudo que der vontade de escrever...
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
CRÔNICA PAULISTANA DE UM PAULISTA – Garoa
segunda-feira, 11 de dezembro de 2023
Crônica Paulistana de um Paulista - Av São João
quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
CRÔNICA PAULISTANA DE UM PAULISTA
Ler, escrever, caminhar e foder
Quando eu estou bem eu leio, escrevo, caminho e fodo.
O que é estar bem? Quando o cotidiano fustigante e massacrante de trabalhado não consome você como se fosse uma laranja arregaçada pela castanha de um espremedor elétrico. Isso é estar bem. Toda sua suculência é tomada de você e, para se recuperar, o único jeito é não fazer nada, comer e dormir. Para o dia seguinte, trabalhar, gastar calorias e ficar atento para novamente ser arrombado pelos seus contratadores. Se tiver sorte, a violência é menor por trabalhar com o que gosta ou mesmo ser seu próprio patrão. Desconsidere os herdeiros e gente que enriquece com exceções. Falo de pessoas comuns, que precisam ser laranjas espremidas. E não para por aí, pois, estando bem, mesmo não espremido, eu preciso de um equilíbrio cármico, mente, corpo e espírito unidos em equilíbrio constante. Se fosse fácil, mas acontece de vez em quando.
Equilibrado consigo concentração suficiente para me postar diante de um milhão de palavras sobrepostas em conformidade a uma ideia expressada ou mesmo uma história narrada. Essas minhas preferidas. Ou seja, consigo ler. E principalmente entender o que li. E por muito treino eu leiro com razoável rapidez. Orgulho-me disso.
Equilibrado consigo fazer o caminho inverso ao ler, concateno ideias, conceitos, conecto palavras e formo histórias, ou mesmo ficções. E isso é tão trabalhoso que precisei amadurecer para conseguir esse intuito. E agora, com meus trá-lá-lá de anos (não faço ideia da grafia de trá-lá-lá, e não vou pesquisar, vai ser assim e pronto), tenho muito a contar, narrar, e não cabendo em mim, transformar palavras em textos que pretendo literários. Se não, que sejam textos. Disso, certeza.
Caminhar é algo que não percebia. Não é um caminhar qualquer. É andar, passo diante de passo no meu ritmo, não para suar, não para demorar. É meu ritmo que pode variar. Não gosto de ficar ofegante, não gosto de ficar melado. Se acontecer, tudo bem também. Andar no meu ritmo me acalma, me faz contemplar. Se fosse do Candomblé diria que Exu rege meus pés, não Ogum, este segue “caminhos férreos e retos” eu sou do caminho esdrúxulo, da decisão incerta do momento. Uma caminhada minha pode terminar em aventura, em nada ou em tudo. Caminho a esmo, caminho por onde a prudência não aconselha. Caminho. Contudo sou católico e sei que, apesar do sincretismo dizer que o Espírito Santo é Ifá, vejo essa entidade que atua no subjetivo individual mais próximo de Bará, o Dono da casa, do que do Oráculo divinatório. Afinal, eu sou morada do Espírito Santo, o “Dono da Casa”, meu padroeiro de comunidade iniciática. Longa história e um dia, quem sabe um dia, conto. Rapidamente, só por desencargo, sou de uma cidade que tem como padroeiro o Divino Espírito Santo. E da Trindade acho a “pombinha” a menos carrancuda, sofredora e simpática das faces. Beijos E.S.!
Agora, equilibrado eu me desequilibro fodendo, é meu “Calcanhar de Aquiles”, pois, ao mesmo tempo que me satisfaz e equilibra eu logo me deixo envolver pela vontade de mais, mais, mais e mais. Descobri umas coisa pessoais que aplacam essa ânsia, mas, isso sim, deixo para o “trabalho certo que está em confecção”.
Então, acabei de escrever mais algumas páginas, já tinha andado bastante durante o dia que transcorreu, e, evitando foder, por “conselho médico” e salutar necessidade de equilíbrio (não me tornei celibatário não), antes de dormir, vou dar as mãos ao Neil Neil Gaiman, meu narrador nesses dias.
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
CRÔNICAS PAULISTANAS DE UM PAULISTA Um ano em São Paulo
CRÔNICAS PAULISTANAS DE UM PAULISTA
Um ano em São Paulo
Aos 22 de novembro de 2023 eu fiz um ano morando na Rua Aurora [...] e posso agora dizer: é foda pra caralho morar aqui. Em todos os sentidos. Primeiro, costumo dizer, que moro ao lado do Metrô República, saindo do prédio viro a esquina tropeço e caio de boca em uma das entradas. Não falo de cara qual para não facilitar. Não quero cobrança batendo à porta. Entre outros verdugos, termo que descobri estudando para um concurso qualquer, que tenho esperança de passar, mesmo sabendo que não foi suficiente as horas deliberadas no labor de estudar. Segundo, gente, é foda você esbarrar com a miséria humana não assistida pelo governo todos os dias em sua porta. É aterrador como moradores de rua, usuários de crack e “pessoas de bem” convivem numa simbiose doentia e ensandecida. Se você tem aparência de ter dinheiro no bolso, mesmo que via Pix, é ameaçadoramente abordado o tempo todo para cumprir sua “obrigação” de dar dinheiro a quem não tem. Nessa, eu já fui até obrigado a dar meu celular mais de três vezes, e todas elas eu colaborei com mansidão para evitar maiores problemas. E mesmo assim, em uma delas, acabei agredido de cair em câmera lenta ao chão e, ao levantar, cambalear por vários quarteirões, e ninguém sequer chega perto. O paulistano nato, médio, vindo de outro lugar e naturalizado não ajuda quem está no chão. Bom, eu não tive ajuda. E não reclamo. Reclamo do FdaP que me bateu sem necessidade. Ele já estava com o celular na mão e eu não ia reagir. Maldade de quem tem o poder, mesmo que momentâneo, nas mãos. E a culpa é de quem? Minha por estar “moscando” com o celular no bolso numa rua às 20h e 30 min numa via pública? Claro que não! Se não soubesse que o governo municipal tem implicação na situação, não reclamaria.
Não desejo que esta crônica seja de política pública municipal, mas é impossível falar do centro de São Paulo sem resvalar, ou mesmo bater a cara quebrando todos os dentes, nesses problemas. Há uma tentativa teimosa da população classe média em tomar posse do que lhe foi tirado: a rua. Existem ilhas de segurança, e, o pior, desde que me mudei para cá, apenas um ano, eu tenho percebido o aumento de policiais pelas ruas mais “necessárias” por volta das 5h e 45min da manhã, horário absurdo que precisei sair para agendar uma consulta ou levar algum exame na UBS na Praça Patriarca, que me surpreendeu em ser mais eficiente que imaginei, e que não se chama UBS Praça Patriarca, e sim UBS República, mesmo que de sua porta você contemple a estátua, rústica do grande Patriarca da Independência", José Bonifácio de Andrada e Silva, daí o nome Praça Patriarca. É uma façanha que se observa aqui. E aqui, usando o Patriarca da Independência como gancho para sair do social, eu entro no histórico. Essa simpática e desfigurada praça, quase sem árvores, as que estão lá sofrem e resistem bravamente ao povo, dá uma indicação do centro histórico que hoje é o distrito da Sé. Um livro da prefeitura intitulado “O nobre e antigo Bairro da Sé” (História dos bairros de São Paulo, Barros Ferreira, disónível no https://drive.google.com/file/d/0B6iD9M7ZapwLbFpWcnRUVUZrczQ/view?pli=1&resourcekey=0-P5BkL5I63KGv_kIi_yL1Jw – nem sei se posso divulgar assim, que venha a retaliação) que até hoje não consegui ler inteiro dá o percurso do que veio a ser as cercanias da cidade antes do crescimento vertiginoso dos anos de 1900. É incrível que toda a cidade de São Paulo cabia ali. Do Páteo do Collegio ao Vale do Anhangabaú, passando pelas antigas margens do Tamanduateí, que até um porto mereceu, disso ficou apenas o nome na Alameda Porto Geral, indo pela praça acima, que hoje parece mais um largo com uma entrada para uma passagem que lava ao Vale, outra pequena surpresa, essa galeria tem charmosas estátuas das Graças, uma delas tenho certeza está fazendo um kamehameha, uma réplica, do Moises de Michelangelo, aquele do “Parla!”. Jurava ser a entrada para um metrô, é apenas um atalho por uma galeria aos moldes dos anos de 1960, que dá entrada pelo subterrâneo da Prefeitura, logo ali. O Distrito, ou se prefereir uma forma mais leiga, o bairro da Sé é mais que um emaranhado de gente e montes de prédios antigos de várias épocas: é a cidade originária. Eu, andando pelas ruelas que se recortam estranhamente, senti os ecos do passado e associando, erradamente eu sei, ao nomes que ficam nas placas da mesmas, imagino cenas e mais cenas da São Paulo Original: cavalos cagando, gente cagando, e jovens mancebos desatentos enfiando as botas robustas nos toletes, seja de qual animal o moldou; mulheres carregando na cabeça desde cestos com alimentos, roupas, a latas com águas para lá e para cá; crianças encardidas, com barriga d´água, adiando a morte prematura com brincadeiras entre um trabalho forçado e outro. Enfim, nada diferente do que ainda é São Paulo hoje. Apesar das tecnologias e das inovações da contemporaneidade. Há cinismo e ironia nessa afirmação, contudo, verdade.
Por um ano em São Paulo, apesar de suposto saldo negativo, eu viveria por mais dois, três, dez anos; a vida toda se possível. Contudo o que São Paulo não tolera, é a falta de condições para se viver nela. Mesmo o morador de rua mais desprovido sabe disso e continua por ter, a seu modo, suas condições. “Faz um Pix então se não tem dinheiro” é o que já escutei. Eu mal recebo Pix por que eu faria um? Para alguém que me ofende caso negue? Eu queria muitos Pixes. Pois assim eu garantiria pelo menos mais uns anos para morar nessa cidade que já era apaixonado antes mesmo de a conhecer, ver suas entranhas não tão belas e simpáticas só fortaleceu o meu desejo. Não tenho como não amar São Paulo e suas (des)virtudes. Eu, tendo vários Pixes, viveria bem o tempo que quero para fazer o que quero na cidade que escolhi para morar. E eu a escolhi lá com meus 10 anos e só vim realizar, de forma oficial ano passado, no dia 22 de novembro de 2022 no apartamento da Rua Aurora [...]
[...] faz um Pix para esse candidato a escritor, tardio, poder continuar morando nessa linda cidade... faz um Pix...
(O pedido é retórico, contudo, sabe né.... Segue meu e-mail e me pergunte como realizar um para mim.)
(Risos e mais risos irônicos e de nervoso.)