segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Novembro - Filmes de Minha Vida: Comer, Rezar, Amar

Comer, Rezar, Amar









         Sabe aquele filme bobo, leve, sem grandes atrativos, a não ser uma atriz famosa e que é baseado supostamente numa história real?
    
     “Comer, Rezar, Amar” é esse filme em que Julia Roberts faz Elizabeth Gilbert uma escritora que entra em crise no momento que sua vida parece engrenar para a felicidade. Casada com o homem de seus sonhos, percebe que não é bem aquilo que imaginou. Separa-se e entra numa disputa rancorosa com o ex pelos bens que adquiriram juntos. Num outro momento começa um relacionamento com um professor de yoga mais jovem e que também não dá certo. Tudo desmorona. Sem perspectivas decide fazer uma viagem de descoberta de si mesma. Vai se empanturrar deliciosamente na Itália. Depois rezar na causticante Índia e por fim, na paradisíaca Bali, descobre o amor depois de alguns contratempos. E o interessante é que esse amor é um brasileiro, interpretado pelo espanhol Javier Bardem.
         Até aí tudo bem?
       
  Claro que não. Esse filme estreou num dos piores momentos de minha vidinha pregressa. Hoje vejo que tive outros piores momentos, mas esse foi um onde tive uma ilusão que minha vida no sacerdócio daria certo. Ali meus anseios foram definitivamente assassinados pela mesquinharia de um bispo e pela tentativa desesperada de um padre salvar o namoradinho da forca. Sem entrar em grandes detalhes, eu estava a serviço de outra diocese, lá no estado do Rio de Janeiro. E havia um seminarista que brigava com todo mundo. E ele era namoradinho do padre G. que obviamente queria ele ordenado. E houve uma reunião, no período de férias de julho, esse padre simplesmente levantou poeira para o meu lado para acobertar o outro. Só para ter uma noção, eu andava bem na minha por lá.
Ficava de boa, e fazia tudo o que me mandavam fazer. Esse rapaz entrava em tretas com todo mundo que lhe questionava alguns tipos de comportamentos.  Ele tinha, poucas semanas antes, brigado feio com outro padre que ele dependia de aval para ir adiante. Foi extremamente grosso e ofensivo. E no dia da reunião, não tendo eu quem me defendesse, e isso ficou entalado na minha garganta, pois não só o bispo, mas outros padres estavam lá que me conheciam se omitiram descaradamente, o G. falou mal de mim e disse que eu seria uma incógnita, ninguém sabia nada a meu respeito. Eu estava lá há dois anos e esse mesmo padre deveria me acompanhar, e adivinhe, ele nunca ia conversar comigo. Tentava sempre conversar com ele, que propositalmente, me evitava. Enfim, outra hora em outro blog conto isso de forma mais adequada.
        
O final dessa história foi que recebi um telefonema no meio de minhas férias do bispo me desligando do seminário por motivo nenhum. Só alegou que o conselho simplesmente tinha decidido e pronto. Sem explicações. Tive que sair ligando para quem eu conhecia para ter uma noção do que houve. E muito puto eu fiquei. Porém como em todas as coisas internas da Igreja o segredo tem que permanecer. E que se foda quem não está dentro dela.
Nessas férias tinha ido a Uberaba a convite de um amigo, que é padre, e tinha sido expulso comigo na primeira vez, a história que contei na resenha de “Kill Bill Vol. 1”. Ele me deu um bom apoio, pois, por incrível que pareça, eu fiquei dilacerado. Se a primeira vez eu estava meio confuso se queria ou não seguir o sacerdócio, desta vez eu tinha certeza. E, na medida do meu possível fiz tudo o que pude para caminhar certo e conquistar o grande prêmio de ser aceito na Igreja católica. Yeeehh.
        
Minha tristeza foi enorme. E num dia daqueles eu decidi ir ao cinema e o filme era “Comer, Rezar, Amar”. Eu chorei copiosamente o tempo todo da segunda parte em diante. Chorei... Chorei... Chorei...  Não sei o que me pegou direito, talvez a busca por uma nova vida que a protagonista travou e minha nova realidade de ter sido expulso injustamente, mais uma vez, tenha sido demais. Sei que saí com os olhos inchados do cinema e tentei me levantar. Reformular meu novo rumo na vida e criar uma nova estratégia para conseguir viver. E infelizmente isso me impulsionou mais uma vez para uma terceira tentativa frustrada com a Igreja. Que conto com o próximo filme que marcou minha vida.

        
“Comer, Rezar, Amar” pode não ser o melhor filme do mundo, contudo tem uma mensagem positiva: “siga seus sonhos”. Ele valeu para eu conseguir descarregar toda a amargura que senti naquela fase. Depois de uns meses descobri que minha mãe tinha o livro em sua casa e peguei-o para ler. Claro que o filme é diferente, mas a mensagem é a mesma. A linguagem literária é diversa da cinematográfica, estava lá a esperança em mudar para uma vida melhor de Liz Gilbert. Se ela pode, eu deveria tentar também.  Eu até agora, sete anos depois, ainda não consegui... 

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