quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Novembro - Filmes da Minha Vida: A Liberdade é Azul

A Liberdade é Azul










         Pense num filme que dói na alma.
   
 Eu assisti esse filme por volta do ano de 1995. Faz parte da intitulada “Trilogia das Cores”. Cada filme, usando uma das cores da bandeira francesa e o lema faz uma referência ao conceito que remete. Com o primeiro filme “A Liberdade é Azul”, título autoexplicativo no Brasil, temos o belíssimo relato de Julie. Ela perde num acidente o marido, um compositor famoso com uma obra importante inacabada, uma música que iria celebrar a virada do milênio, e sua pequena filha. Devastada ela se recolhe do olhar público, se isola dos amigos se protege dentro de si mesma. Mas a lembrança está lá, prendendo-a. Julie é interpretada por Juliette Binoche numa interpretação fantástica ao mesmo tempo que discreta. Conseguimos ver a dor encarnada na alma da personagem. Sua tranquilidade é quebrada quando um amigo da família a procura para que ela entregue a música que o marido compunha antes de morrer.
O problema, ou a solução para Julie sair de sua misantropia é que ela tem que acabar a música e o amigo é apaixonado por ela. Tomada por sentimentos antagônicos, perda e vontade de continuar ela se vê numa encruzilhada de escolha para sua vida. Como é um filme europeu nada é fácil e nada é direto. Ela tem algo que não pode esquecer, a memória de sua família perdida, e a música não a abandona, fazendo-a relembrar. No filme a tela fica preta e ouve-se pedaços da música que ela tem na cabeça. Isso não abandona em momento algum e a atormenta.
        
Tinha entre 16-17 anos e esse filme me pegou de uma forma que o guardei com todo o carinho que pude no lugar mais íntimo e pessoal de mim mesmo. Esse foi um libelo ao meu desejo de crescer, sair daquela cidade pequena, voar alto. Ter uma “liberdade azul”.
Via nos olhos da personagem principal minha própria melancolia. Se ela com a perda eu com a ânsia de ganhar o mundo. Se ele se fechando em si eu querendo me abrir para o mundo. Por fim a busca pela liberdade da personagem passa pelo sofrimento que a paralisa diante de suas memórias e a minha busca passou pela dor de criar memórias. Os momentos que a tela ficava escura e a música que o marido compunha, com sua participação, dava um acorde alto nós víamos que nada mais era que toda a lembrança que Julie tentando romper em sua vida dizendo o quanto ela não poderia deixar tudo para trás e sim precisava manter algo para não se deprimir. E simbolicamente ela guarda as lembranças que um móbile de pedras azuis lhe causa. O móbile estava presente no quarto de sua filha. Assim ela pode se libertar e caminhar para seu próprio futuro.

        

A direção é do Krzysztof Kieslowski além do roteiro, que também conta com a participação de Agnieszka Holland. Se não sabe quem são, não se preocupe, eles são poloneses e ótimos em seus filmes, seja na direção ou no roteiro. Kieslowski já nos deixou em 1996, cerca de dois anos após finalizar a “Trilogia das Cores”. Os demais filmes são tão bons quanto, mas só “A Liberdade é Azul” é que consta na minha memória afetiva. É denso e bom. Para quem gosta de filmes europeus é necessário. 







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