segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Novembro - Filmes da Minha Vida: Três Formas de Amar

Três Formas de Amar





        Em 1994-1995 eu estava numa encruzilhada da vida. Como meus 16-17 anos, acabando o segundo grau, e sem dinheiro, sem faculdade. Não estava bem. Vivia num lugar que gostava menos cada dia que passava. E não via saída.
O mundo dos filmes e dos livros era meu refúgio. E no cinema adaptado de um teatro eu via algumas produções. Umas boas, outras nem tanto, de forma bem improvisada e ao mesmo tempo aproveitando o que tinha. Meus amigos da época eram um pouco broncos, para dizer o mínimo, e muitas vezes eu acabava indo sozinho ao cinema. Dessa vez fui com um amigo assistir “Três Formas de Amar”. Hetero até a medula dos ossos, filho e neto de sitiantes que não se permitiam luxos e firulas. Um bom garoto, que nunca se preocupou com o próprio estudo. Era “repetente”, um ano atrasado na escola e se esforçava para estudar as matérias.
Na prática, estudei até a oitava série, atual nono ano, numa escola agrícola. Ele era bom em carpir e cuidar dos bichos eu na teoria e notas. Nos metemos em algumas encrencas, e eu era o cérebro destrambelhado, ele um ajudante cético. Até que na vida, ele, amparado por uma condição familiar melhor, conseguiu abrir seu negócio e namorar uma das garotas mais populares da cidade, até então. Pouco antes disso, ele era um garoto feioso que apenas tinha um pai com dinheiro e uma bicicleta Aluminium da Caloi. O que era muito para quem tinha 16-17. Ele já seus 18 escondidos na sua molecagem. E até então éramos amigos, no ano seguinte o exército nos separaria.
        Eu sei que ele gostou muito do filme. Sei que conversamos depois e o que mostrava lá deu certo nó na cabeça dele. Mas como todo adolescente hetero de cidade pequena ele abstraiu e logo se esqueceu do filme. Pelo menos nunca mais tocamos no assunto. O que gerou esse constrangimento é que o filme não era considerado “gay”. Foi vendido como uma comédia romântica e todo mundo foi assistir de boa. Eu tinha lido a sinopse e sabia o que me aguardava. Nessa época já trabalhava numa locadora na cidade e era bem informado sobre os lançamentos. E o filme tinha uma história que poderia ser considerada gay.
       
A motivação era de uma garota ter que dividir o quarto com outros dois caras por um erro na interpretação do seu nome. Lembramos que era uma era pré internet, não havendo Facebook ou ainda um sistema on line para resolver coisas do tipo. E lá vai ela morar com mais dois caras no alojamento da faculdade. Alex (Lara Flynn Boyle) se depara então com o sensível e interessante Eddy (Josh Charles), que explora sua homossexualidade, recém-descoberta, e o bonitão grosseiro e biscateiro Stuart (Stephen Baldwin). E evidentemente que Alex se apaixona por Eddy que por sua vez se apaixona por Stuart que por sua vez fica com tesão pela Alex.
O jogo começa. É um gato-e-rato para ver quem consegue pegar quem, cada um do seu jeito e sempre rolando uma fuga. Até que, eles ficam a três... E gostam. Lógico que Hollywood dos anos de 1990 era pudorada demais. O máximo de gay que aconteceu foi Alex ficar no meio dos “varões” e numa escapadela a mão, nada boba, de Eddy escorregar para a bunda carnuda de Stuart e este ao invés de ficar incomodado e tirar ela dali, olha, e ao sinal do outro querer retirar o membro (ops!!!) de sua bunda, por vergonha, ele pega a mão do outro e insiste com ela ali onde estava...
        O filme todo para isso...
      
  Claro que a ideia de sexo a três era bem interessante nos idos de 1990, principalmente para um adolescente que fazia pouco sexo. Pelo menos era o que achava.  O que mais fez meus olhos brilharem, entretanto foi a sanha de morar fora da minha cidade, e frequentar um campus de uma universidade que o filme causou. Isso me doeu no coração por saber que algo assim estaria tão longe como o planeta Urano. No fim das contas não estava nada tão longe assim. Só bastava a oportunidade certa e os passos certos. Dos quais, modestamente dei e finalmente saí daquela cidade pequena. Não criei nenhum “trio”, o nome do filme em inglês é “Threesome” que é justamente “trio” em português, apesar de ter virado, várias vezes, pivô de triângulos amorosos. Uns até perigosos, o que vim saber depois... Outra história para outro blog...
       
          O filme marcou muito minha vida por ser a história certa no momento certo. Seu roteiro ajudou a me fortalecer e começar um plano de “fuga” daquela realidade que me sufocava. E vingou, mesmo que para isso uma crise me assolou antes... E algumas escolhas duvidosas.

       
Até hoje o filme prefigura entre meus preferidos. E olhe que assisti somente aquela vez e nunca mais tive oportunidade. Não sei se essa lembrança resistiria ao meu olhar crítico de agora. Prefiro guardar somente a memória com carinho. 

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