terça-feira, 15 de agosto de 2017

Mês Temático - Agosto: Loucuras e Distúrbios: Um Estranho no Ninho

Um Estranho no Ninho












        Olha, Milos Forman tem cada filme que faz qualquer um arrepiar. E por incrível que pareça esse não é o que mais gosto. Longe disso. Esperava mais. Acho que criei muita expectativa e isso sempre é catastrófico.
      
  De certa forma a loucura é abordada de uma ótica invertida. Se em “Psicose” o vilão é o louco, aqui os loucos são legais e a equipe técnica que deveria garantir o bom funcionamento do ambiente de tratamento psiquiátrico acaba se tornando o carrasco da personagem principal.
        Randle Patrick McMurphy  (Jack Nicolson), ótimo por sinal, acaba em uma clínica psiquiátrica. Lógico que ele não é 100% certo da cabeça. Tem um comportamento um tanto exagerado e expansivo demais. Nada que não estejamos acostumados com aquele tio chato que fala alto na festa com a piada do pavê, ou aquela tia que enche o ambiente com seu ego perguntando coisas desagradáveis que ninguém quer responder de verdade.

Ou mesmo nós, tentando uma autocrítica, quando nos sentimos o máximo, a última bolacha do pacote. Mas ele foi parar lá por seu comportamento “desvirtuado”. Como mantém certa consciência ainda, ele percebe o quanto a loucura de seus colegas é piorada pelos maus tratos da equipe de enfermeiros encabeçada pela tenebrosamente ótima enfermeira Ratched (Louise Fletcher). Nicolson e Fletcher têm embates ótimos. Se o filme fosse de ação e não o drama que é, com pitadas de ironias fortes, garanto que essa personagem teria hoje o status de Darth Vader no hall dos vilões. Dá ódio da atriz de tanta perfeição na interpretação. E não são maldades “malvadas”. São maldades sofisticadas envolvidas nos tratos diários e necessários num ambiente já estressante. O pior tipo de maldade. É aquela que seu chefe faz. Ou ainda aquela maldade do colega do trabalho só para te ver perdendo o brilho da alegria.
É um empurrãozinho na sua autoestima, é um arranhão na sua imagem, é um escarnecimento num momento que você precisava de apoio, é uma leve sabotagem na hora de um trabalho em conjunto. Ou aquela maldade que nós fazemos como se não fosse nada. Claro que transposto para o ambiente de uma clínica psiquiátrica. Apesar de que o sistema de trabalho anda pior... Ainda mais com as maravilhosas mudanças que nossos “gestores” políticos andam fazendo... Enfim!

       
Randall tem um problema que se resolveria mais num consultório e muitas terapias e não na clínica. Lá seu ego manifestado em uma ideologia de “espírito livre” não suporta todas as convenções e repressões do sistema. E quanto mais o sistema, na figura da enfermeira, percebe a liberdade, que pode ser perigosa aos seus princípios, mais poda e corta as asas de Randle que em contrapartida intensifica seu jeito de ser. E o caos se estabelece. Repressão gera mais uma ação contraria do que resolução de problemas. E por vezes, a última e mais sensata saída é a liberdade máxima proporcionada pela morte. 


Direção: Miloš Forman
Autor: Ken Kesey
Música composta por: Jack Nitzsche

Elenco: Jack Nicholson, Louise Fletcher, Danny DeVito, Brad Dourif e etc. 



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