sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Garota Dinamarquesa e 45 Anos: Franqueza Inexistente e Existente

Garota Dinamarquesa e 45 Anos: Franqueza Inexistente e Existente







                 
         A diferença entre “Garota Dinamarquesa” e “45 Anos” é a franqueza existente em um e inexistente no outro.

         “Garota Dinamarquesa” conta a história de como o pintor Einar Mogens Wegener (Eddie Redmayne), com uma “ajuda” de sua esposa Gerda (Alicia Vikander), se “transforma” em Lili Elbe. É uma história de descoberta de gênero. Um homem, que reprimido pela sociedade, assume papel imposto e que em determinado momento descobre que seu gênero verdadeiro não condiz com seu corpo biológico e começa a se vestir de mulher e por fim tenta uma cirurgia, a primeira da história, de mudança de gênero, o que hoje é chamada de Cirurgia de Redesignação Sexual.



         Em si mesma a história é bem interessante. Porém, nas mãos de produtores americanos preocupados em pasteurizar tudo, ficou insossa. Vários fatos históricos e relevantes ficaram de fora para pintar uma imagem bem mais encantada do que realmente aconteceu.   Sem contar que os críticos protestaram por um ator cisgênero (pessoas cujo gênero é o mesmo que o designado em seu nascimento – informação by Wikipédia) fazer o papel de uma pessoa transgênera (condição onde a expressão de gênero e/ou identidade de gênero de uma pessoa é diferente daquelas atribuídas ao gênero designado no nascimento – informação by Wikipédia – usei para ficar mais certinho na explicação). 


             O meu “porém” está, não só nesses pontos, mas também na questão da atriz Alicia Vikander ser considerada coadjuvante. Sendo que ela carrega mais da metade do filme sozinha na sua atuação. Do jeito que o roteiro foi formulado dá a entender que a “Lili”, não só estava “presa” dentro de Einar, mas também foi uma “construção” de Gerda.  E isso a torna uma protagonista na história da “Garota Dinamarquesa” e só para concorrer a uma estatueta/jabá a delegaram o título de coadjuvante. Por isso não há “franqueza” nesse filme. Tinha tudo para ser contraventor, inusitado e revelador e não foi. É triste ver uma história dilacerada e estragada pela produção que tem medo da reação do público médio.





         Por isso acho que “45 Anos” acaba sendo mais verdadeiro, apesar de ser baseado em ficção, do que “Garota Dinamarquesa” que tem por trás fatos reais. Com uma premissa “bucólica”, “45 Anos” faz um questionamento bem profundo sobre o que vem a ser realmente um relacionamento, o amor ou ainda se a memória de alguém do passado pode levar a uma traição no relacionamento. Para entender melhor: Kate e Geoff Mercer vão fazer 45 anos de casamento. Por Geoff ter ficado doente na época dos 40 anos de casório eles não fizeram festa. Já melhor de sua doença Kate decide fazer a comemoração com os amigos e parentes. Idosos, sem filhos eles levam uma vida calma e aparentemente sem segredos.  

        Há cerca de cinco dias da comemoração, Geoff recebe uma carta informando que o corpo de sua namorada desaparecida há décadas foi encontrado numa geleira nos alpes. Como ele tinha dado a informação que eram casados na época, ele acabou sendo o único contato para se mandar o comunicado de óbito. Geoff fica abalado pois a garota foi seu primeiro grande amor. Um tempo depois conheceria Kate com quem acabou se casando. E isso causa uma crise no casamento dos dois. Kate passa a ter dúvidas e Geoff fica obcecado com a situação. Aí está a franqueza, numa aparente calmaria com pessoas normais o acaso faz brotar sentimentos que até então não existiam, ou estavam submersas no inconsciente, histórias escondidas são reveladas e questionamentos existenciais sobre a relação dão outro tom ao desfecho.

         Se no “Garota Dinamarquesa” a interpretação de Vikander é o que dá sustância ao filme em “45 Anos” o casal vivido por Tom Coutenay, o reticente e confuso Geoff, e Charlotte Rampling, a atordoada e magoada esposa Kate, são ótimos. Por mais que Rampling consiga mais brilho não tem como não considerar seu parceiro em cena como menos digno. A história é dos dois até o fim. No outro filme a história é de uma, a “garota” dinamarquesa, porém, é através de outra, Gerda, que tudo se desencadeia. E quem é que deveria ser a principal perde espaço para uma suposta “coadjuvante”.

         Como disse a interpretação de Vikander é bem melhor que de Redmayne, que não dá fôlego suficiente a Lili. Já Charlotte Rampling arrasa. Sempre achei que fazer pessoas comuns verossímeis o exercício interpretativo mais difícil de atores e atrizes. E sua Kate é soberbamente uma pessoa simples.
         Porém, não ache que “45 Anos” é uma história simplória, pode ser simples mas tem desdobramentos sutis e complexos. Até um suspiro no finalzinho não é apenas um suspiro. Já “Garota Dinamarquesa” falha, por mais “bonitinho” que possa parecer e tem a profundidade de um prato.  


E o Oscar???? Se ano passado estava preocupadíssimo em assistir a todos os indicados nesse ano só tenho a dizer: “DANISH” O OSCAR!!!!!!

sábado, 23 de janeiro de 2016

Os Oito Odiados: Um típico Tarantino - Ame ou Odeie

Os Oito Odiados: Um típico Tarantino - Ame ou Odeie



         Demorou um pouco para ficar pronto mas ficou. Não vou entrar na “mitologia” de ser 8º filme de Quentin Tarantino. E infelizmente terei um pouco de spoillers. Sempre tentando não entregar o ouro.

         Andei lendo muita coisa sobre o Tarantino. E como anda controverso seus comentários e seus filmes. Sempre achei que ele era simplesmente unanimidade entre os “cults”. Mas não, ele tem tantos haters quanto admiradores na internet. O que acho bom, tecnicamente isso motiva o debate a respeito de sua obra. Em contrapartida, andei lendo alguns argumentos bem simplórios para tentar explicar o quanto ele é bom ou ruim.



         O filme é estranha e inversamente contrário a rotineira “megalomania” do diretor e roteirista. Parece não caber dentro do estilo “tarantinesco”. Porém é tudo sorrateiramente calculado para nos colocar no clima.  Tudo se passa no interior selvagem do estado do Wyoming, onde uma tempestade de neve lambe as traseiras de uma diligência típica do Velho Oeste com seis cavalos. E a primeira provocação: todos os cavalos são pretos e somente um branco. Sim, prepare-se, o tempo inteiro haverá referências explícitas ao preconceito inter-racial. Porém se o preconceito mais evidente é o racial, subjaz o preconceito contra a mulher. Há uma mulher que não é mera válvula de escape para um amor entre os personagens. Ela é uma das pessoas odiadas e é odiável. Porém, recebe tanta porrada gratuita quanto o personagem negro é ofendido por sua cor.


         Resumidamente, para não nos perdermos, vou dar um breve resumo. Como disse uma diligência está vagando velozmente fugindo de uma nevasca que lambe sua rabeira. Há duas pessoas lá dentro: o caçador de recompensa John “The Hangman” Ruth (Kurt Russell) e sua recompensa/presa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) que estão rumando para a cidade de Red Rock para que a mulher seja condenada e enforcada por crimes cometidos. No meio do caminho surge o soldado negro Marquis Warren (Samuel L. Jacson) que pede carona. Com muito custo ele recebe a carona e mais adiante há outro necessitado no meio da estrada. Este se apresenta como o Chris Mannix (Walton Goggins) novo xerife de Red Rock. E novamente com muito custo é aceito dentro da diligência. Nesse tempo, todos os comentários racistas são já colocados com uma verborragia típica de Tarantino. Lembrando que historicamente tudo se passa nos EUA Pós-Guerra Civil e os negros haviam há pouco sido libertados. Grandes rusgas persistiam entre os “cidadãos” americanos, o povo vitorioso do norte e o povo do sul, que acabou perdendo a guerra, subjazem no por trás do roteiro motivando todos os diálogos, racistas ou não. Sem contar que dois personagens, o xerife Mannixe o General Sanford Smithers, que logo comento mais sobre ele, são do Sul e não engolem a questão de perderem a guerra civil. E lá se vão até chegar em uma casa comercial, o Armarinho da Minnie, no meio do caminho para se protegerem da nevasca. Há no local mais 4 pessoas: o velho General Smithers (Bruce Dern), que já foi citado, Oswaldo Mobay, o carrasco de Red Rock (Tim Roth), Bob, o mexicano que está tomando conta do Armarinho (Demian Bichir) e Joe Gage que está indo visitar a mãe doente (Michael Madsen). Todos com reputações duvidosas e todos aparentemente sem poderem provar suas identidades. Então, cai a nevasca e eles ficam confinados num ambiente restrito. E começa um jogo de desconfiança entre os personagens. Principalmente por parte de John Ruth que quer garantir sua recompensa ao levar  Daisy Domergue até Red Rock.



         O que se sucede, sem entregar mais, é um jogo de reviravoltas que só Tarantino pode proporcionar. Tudo regado a litros de sangue. Não tantos litros como em Kill Bill mas, mais que o suficiente.


         As grandes falas estão lá. Porém reduzidas às proporções do tempo histórico sugerido e do espaço físico escolhido. Além do preconceito direto explorado no roteiro, a exaustão praticamente, e da violência gratuita sofrida por Daisy, a violência gratuita também desenrola na tela. E temos os momentos altos da trama. Como de costume o filme é dividido em capítulos com títulos aparentes em uma tela escura. Sem contar esses momentos, pois todos são praticamente spoilers, eu só reclamo das “nojeiras” que Tarantino coloca para nos chocar, todas envolvendo muito, muito, muito sangue cênico.



         Apesar de ser um filme rocambolesco, com o humor desagradável de Tarantino, achei um filme bem melhor que Django Livre. E é aí que entra a polêmica da internet. Um tanto adorou, outro tanto odiou. O roteiro é bem articulado e propõem um jogo bem próximo do pastelão e brinca a todo momento com as influências de outras histórias já consagradas. Típico do QT. Mas não se atenha ao que é colocado de forma rasa na tela, por trás do conflito entre os oito personagens há algo mais sutil. Algo que faz o filme ficar maior e genial. Não são meras pessoas que estão ali brigando dentro de uma cabana. São pessoas que simbolicamente representam o início dos EUA. E se pensarmos por aí, a diferença é grande.


         Roteiro não é o melhor do QT em minha opinião, mas falta uns dois ou três para eu poder realmente julgar. Ainda prefiro “Kill Bill (Vol. 1 e 2)” e depois “Pulp Fiction” e “Bastardos Inglórios” nessa ordem. As interpretações estão inspiradas. Tanto que foi uma pena o Samuel L. Jackson não receber nenhuma indicação ao Oscar (prêmio que a cada ano eu considero menos). Porém, além de Trilha Sonora para Enio Morricone, temos uma indicação para Jennifer Jason Leigh como Daisy Domergue e Melhor Fotografia. As cenas externas, na neve, realmente são fantásticas.




         Um bom filme, e um ótimo filme para quem gosta de Tarantino. Já para quem não gosta nem se sujeite a assistir. Não vale o preço alto do ingresso. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Macbeth: Ambição & Guerra – Perdido no roteiro

Macbeth: Ambição & Guerra – Perdido no roteiro




         E um dia juntaram no mesmo filme  Marion Cotillard e  Michael Fassbender interpretando um dos casais mais densos, loucos, tenebrosos, angustiantes, ambiciosos da dramaturgia mundial: Macbeth e Lady Macbeth. Então, junto a dois ótimos atores um texto igualmente exemplar. Porém, como teatro adaptado ao cinema nem sempre dá certo o encanto se desfaz. Não que os dois estejam ruins. Eles conseguem dar uma densidade angustiante aos personagens. Porém, o texto ao virar roteiro, se perde e nos deixa perdidos.

         Como eu morava em uma pequena cidade do interior do estado de São Paulo, sabia da precariedade de conseguir contato com algumas coisas, como o teatro por exemplo. Então, meu primeiro contato com William Shakespeare foi através de leitura de suas obras, que emprestava da Biblioteca pública.... Sou quase jurássico por isso, eu sei. E por não haver o exemplar de Macbeth, foi uma das obras principais que acabei não lendo, li outras. E a vida me deu um monte de situações do qual meu destino não me levou, em momento algum, a um contato com essa obra. E fiquei só com as referências que tinha por simplesmente ler aqui e ali coisas variadas. Então, 2016, veio junto com a oportunidade de assistir uma adaptação dessa obra. Estou contando tudo isso para vocês entenderem o motivo de eu dizer acima que fiquei perdido. Foi uma decepção. Pelo menos nas outras obras do dramaturgo inglês que eu assisti, também adaptadas, eu conseguia me situar. Nesta eu me perdi várias vezes. Chegou um momento do filme que quase cochilei na cadeira do cinema. O que é quase inconcebível para mim, eu não me permito. Tecnicamente estava chato. Toda uma história se perdeu nas telas do cinema. O texto estava lá, mas colocado de uma forma um tanto truncada com imagens soberbas. Imagino que o filme tenha sido feito para pessoas que já conhecessem a peça.


         Apesar do texto ter ficado perdido na tela, há de se convir que a fotografia estava maravilhosa e simplesmente intensa. Cores, vazios, efeito de câmeras lentas, closes, tudo contribuía para a estética. Menos para o entendimento. Os atores, além dos dois já citados, estavam impecáveis: Paddy Considine como Banquo; Sean Harris, Macduff; Jack Reynor, Malcolm; David Thewlis, Rei Duncan, entre tantos outros. A reconstituição de época, exemplar. Tudo contribuía com o filme. E olha que o diretor, Justin Kurzel, não faz feio, é bem competente. O filme recebeu elogios por todo o mundo... E eu, um simples comentarista, sem qualquer reconhecimento, que simplesmente gosta de cinema, acabei perdido e entediado nas horas extensas que transcorreram.


         Pois é, para um mísero “assistidor” comum de filmes eu acabei aborrecido. Fiquei só curioso para ler o texto original e tentar entender melhor a história do fatídico casal Macbeth. Mesmo assim um filme necessário aos grandes amantes de cinema. Mais para o “arte” do que para o “didático”. Então esteja preparado com uma pesquisa anterior do texto original. 





sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Snoopy e Charlie Brown: Peanuts – O Filme – Esperava Ansioso

Snoopy e Charlie Brown: Peanuts – O Filme – Esperava Ansioso




          Nos comentários do Globo de Ouro sobre melhor animação ouvi o Rubens Ewald Filho falar que "Snoopy e Charlie Brown" era decepcionante. Eu ainda fico pensando qual o critério de um "crítico especializado" para concluir algo. Eu como "crítico não especializado" tento seguir o critério da diversão, da história bem direcionada e, evidentemente, do emocional. e nesse quesito "Snoopy e Charlie Brown" acerta. Talvez o que falte aos críticos já "consagrados" é um pouco de sensibilidade para entender uma obra. Tento sempre levar esse critério subjetivo ao lado do objetivo (técnica dos envolvidos na execução do filme). E o que segue abaixo é nada menos que um relato do quão emocional uma experiência cinematográfica pode ser. Mesmo não sendo o "melhor filme" eleito por um grupo de pessoas que sequer assistiu a todos os filmes que eles mesmos indicaram. (este parágrafo eu fiz depois de já ter escrito o restante, por isso pode parecer artificialmente enxertado no conjunto)

               Em fevereiro de 2012 eu vi uma tirinha no jornal que me deu um nó na garganta de tanta tristeza. Era uma linda homenagem de Jim Davis a Charles M. Schulz, o criador de “Peanuts” que no Brasil recebeu simplesmente o nome de “Snoopy” o personagem mais carismático de todos. Na tirinha, o Garfield, criatura de Davis, aparecia ao lado da casinha vazia do Snoopy, com sua tigelinha vermelha, e com uma cara triste soltava um suspiro. Dando um adeus ao personagem que nunca mais apareceria pelos traços das mãos de seu criador. Admito que naquela época eu não chorei apenas para manter a reputação de “durão”. (Abaixo a Tirinha do Jim Davis)


              Uma besteira, pois o Snoopy praticamente foi meu primeiro cãozinho de estimação. Pelo menos em minha imaginação. Eu o adorava simplesmente por ser um cachorro. Um livrinho de colorir em aquarela foi o meu primeiro contato com ele. Depois veio o desenho que passava na televisão e por fim as tirinhas publicadas nos jornais e logo depois livretos de compilações do trabalho de Schulz. Sem contar o Snoopy de pelúcia que recebi de brinde de uma rede de lanches e os meus cadernos na faculdade que tinham o descolado cachorrinho como tema. Já na infância descobri, feliz da vida, a raça do Snoopy, um Beagle. Até hoje quando vejo um cão dessa raça, meu coração dá uma batida mais forte.


         Então essa animação era mais que esperada por mim e eu achei, particularmente, que não fez feio. Se os desenhos anteriores eram até “toscos”, para nosso padrão de hoje,  essa animação é totalmente computadorizada sem deixar os traços fortes do criador de lado. Texturas são acrescentadas, o que deixa os personagens mais “reais”, se é que é possível. Vemos os pelinhos do adorado cachorro, as peninhas de seu fiel amigo Woodstock, a maciez da pele dos personagens humanos, a densidade da água, seja em estado líquido ou em forma de neve. Realmente foi bem produzido.



                  A história em si é uma grande colcha de retalhos das tirinhas que nos traz o gostinho “gostoso” de reconhecer as imagens. O fio condutor é bem conhecido: a paixão platônica de Charlie Brown pela “Garotinha ruiva” entrecortada pelas "viagens" do Snoopy. É uma fofice só. Boa apresentação para quem não conhecia os personagens e ótima homenagem aos fãs, que assim como eu, já passaram dos 35 anos.

E dessa vez foi bonito ver o “velho Charlie Brown” ser de certa forma “redimido”. Sem entregar nada, o fim é bem bonitinho. Sempre tive pena desse garoto atrapalhado que nunca conseguia fazer as coisas certas. E todos os personagens estão lá. Até as dancinhas tão icônicas de alguns foram reproduzidas. Mesmo a Lucy se tornou menos ranzinza.  
         Eu vou parar por aqui, pois não estou fazendo crítica, não estou fazendo resenha. Hoje estou simplesmente sendo um fã e dos mais babões. Tanto que já na altura de meus 37 anos eu me permiti não só rir enternecido de tudo, mas dessa vez me permiti chorar emocionado por ver uma atualização tão respeitosa dos personagens mais queridos por mim que remonta a minha infância mais longínqua. Sim, eu chorei muito ao assistir... E chorei ao escrever esse texto...
Me julguem, sou uma criançona chorona... 


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

UM COMUNICADO: CANSEI

UM COMUNICADO: CANSEI        





        Estava até pensando em fazer um texto a respeito das "grandes premiações" estadunidenses, porém, por preguiça, por falta de tempo, por falta de conjunturas apropriadas dos astros, eu simplesmente acabei deixando para lá. Porém, clicando em uma indicação em minha linha do tempo do Facebook eu li uma ótima crítica de Edu Fernandes do blog da Revista Preview que dá o tom a tudo que andava "eminhocado" na minha cabeça.
     Por isso, esse ano não vou "seguir" o Oscar. Vou apenas me divertir com filmes que eu ache interessantes e alegremente comentarei no meu Blog do meu jeito. Como não recebo nada de ninguém, apenas falarei o que senti ao assistir aquele filme, ou o outro.  
Segue abaixo a matéria oficial.
Bom ano a todos.....

http://revistapreview.com.br/especiais/globo-de-ouro-uma-premiacao-que-se-esforca-para-perder-credibilidade/

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Tangerine: "[...] vai depender do tanto de mente aberta que se tem."

Tangerine: "[...]vai depender do tanto de mente aberta que se tem."





Sabe quando você ouve falar de um filme que é bacana e descolado, que fez algum rebuliço no Festival de Sundance por algum motivo e até chamou atenção de alguma celebridade por alguma questão social relevante qualquer? E você pensa: “Que legal, vou assistir”. Passam-se messes e, um dia, cansado das mesmices hollywoodianas você se recorda do filme e dá uma chance e o assiste??? E ele se mostra como um filme “dukaraleo”?

Bom, Tangerine pode ser um desses. MAS vai depender do tanto de mente aberta que se tem. Em vários sentidos. Principalmente na questão sexual a que se reporta...

O filme tem uma história relativamente simples, ao mesmo tempo contraventora e é de vanguarda. Parece um modismo discutir a questão de gênero. Porém é algo que se faz necessário principalmente pelo número alarmante de transexuais que são mortas ou se suicidam no nosso país e no exterior. Principalmente devido a pressão que a sociedade hipócrita cria  nessas pessoas, marginalizando-as e fingindo que elas não existem.

O roteiro conta como Sin-Dee Rella (a “estreante” Kitana Kiki Rodriguez), nome de “trabalho” de uma transexual (que o brasileiro simploriamente chama de travesti), sai da prisão, depois de um mês, por ter sido pega com as drogas de seu namorado que também é cafetão. E reencontrando-se com sua amiga Alexandra (outra estreante: Mya Taylor) descobre que seu namorado está com outra mulher, só que  cisgênero (homem ou mulher que não sente a necessidade de mudar de sexo). Eu estou tentando explicar direito, e morrendo de medo em incorrer em alguma gafe. Pois não é uma terminologia fácil e anda mudando consideravelmente nos últimos anos. Por isso, desde já, se falei alguma besteira quanto aos termos me corrijam por favor nos comentários abaixo. Ao descobrir a “traição” do seu boy, Sin-Dee resolve tirar satisfação com a garota, que descobre se chamar Dinah (Mickey O’Hagan), fazendo uma acareação com seu amor Chester (James Ransone). Então, com a ajuda da relutante Alexandra, começam a vagar pelas ruas atrás do namorado “infiel” e da “amante piranha”. E no meio de tudo isso Alexandra terá uma apresentação em um bar e é véspera de Natal. Sem contar que para garantir o pagamento de seu show ela precisa ainda fazer dinheiro nesse dia. Sim, “o fazer dinheiro" é através da prostituição. E aí que entra o chefe de família, trabalhador e respeitável taxista Razmik (Karren Karagulian) que gosta de se divertir com a rola de uma Trans (forma de abreviar transgênero). Então, imagine a confusão instaurando-se.


O que chama atenção nesse filme em primeiro lugar é a forma que as personagens Trans são retratadas. Não de forma desrespeitosamente caricatural. Não há esteriótipo deturpado, há a humanidade por trás de pessoas que se sentem deslocadas no próprio corpo a ponto de assumir uma identidade diferente do que seu biológico determinou. O filme não é uma comédia de riso fácil. Pelo contrário é um drama sensível sobre as dificuldades de ser algo que a sociedade hipocritamente finge não existir. É bem relevante então que o taxista Razmik procure os serviços sexuais de Alexandra. Pois se há prostituição, seja masculina, feminina ou Trans é por haver quem se interesse. E, geralmente, estão afoitos por esse "mercado" homens casados, de família tradicional, pessoas de bem e cristãs... Pois éh!!!!!!


         Lá no começo do texto eu citei que uma celebridade tinha se interessado pelo filme. Ninguém menos que Caytlyn Jenner andou tentando ajudar Mya Taylor a ter uma indicação ao Oscar. Até agora nada aconteceu... Ela está fazendo sua parte. Se não sabe quem é Caytlyn Jenner, procura no Google para ter uma surpresinha bem interessante.

         Se tudo isso não bastasse para fazer um filme interessante, existe uma inovação técnica por trás. Pasmem, quem não sabe ainda, o filme todo foi gravado através das lentes de um IPhone 5. Na verdade, parece que usaram três aparelhos para revezar nas filmagens. Sim, o filme todo feito com celular. Com uma câmera específica que é disponibilizada pela própria marca, um equipamento para segurar melhor o aparelho e ajudar a amenizar a trepidação e um aplicativo de tons das cores da imagem baixado por cerca de U$ 8,00. Tanto que para tirar o efeito de “vídeo de celular” eles usaram uma saturação de cores dando a predominância ao tom alaranjado. Surgindo assim o nome do filme “Tangerine”.

         Então deu para entender o rebuliço no festival de Sundance. Um filme com uma qualidade inquestionável, uma fotografia bem executada, com planos de câmera bem interessantes feito apenas através de celulares, aplicativos e acessórios disponíveis no mercado. É um feito realmente espantoso dada a qualidade técnica do filme.

         Inovador no tema, inovador na técnica o que já garante a necessidade de um bom apreciador de filmes em assisti-lo.  A diversão vai ficar por conta do tamanho de nosso preconceito. Quanto maior, menos se gostará.... E se isso acontecer é hora de repensarmos um pouco nossa postura como ser humano... 2016, já passou da hora de evoluir em algumas questões sociais que estão na nossa cara e insistimos em não ver.